‘Drive My Car’ é uma jornada metalinguística sobre o amor e o luto ‘Drive My Car’ é uma jornada metalinguística sobre o amor e o luto

‘Drive My Car’ é uma jornada metalinguística sobre o amor e o luto

O filme de Ryusuke Hamaguchi – que acaba de estrear nos cinemas e está indicado ao Oscar 2022 – mostra que literatura, teatro e cinema conseguem convergir da melhor forma possível

17 de março de 2022 17:15
- Atualizado em 22 de março de 2022 15:45

‘Drive My Car’, que chega nesta quinta (17) aos cinemas e estreia na MUBI no próximo dia 1º de abril, é um dos filmes mais aguardados do ano. O longa japonês dirigido por Ryusuke Hamaguchi foi premiado em festivais no mundo inteiro, além das tradições premiações como BAFTA, Globo de Ouro, Cannes e Independent Spirit Awards e mais. Ao todo, já são mais de 60 estatuetas para a produção

A cereja do bolo é o Oscar, que acontece no próximo dia 27 de março. ‘Drive My Car’ é uma dos favoritos na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, além de estar concorrendo também por Roteiro Adaptado, Direção e Melhor Filme.

A história é inspirada no livro de contos ‘Homens Sem mulheres’, de Haruki Murakami. O que dá título ao filme acompanha as reflexões de Yusuke Kafuku, um ator que conta para sua motorista particular que se tornou amigo de um dos amantes de sua falecida esposa.

Ryusuke Hamaguchi conseguiu transformar uma história relativamente curta em um longa de três horas – considerando que o cineasta já lançou um filme de cinco horas, ‘Happy Hour’ (de 2016), ‘Drive My Car’ tem sua duração muito bem utilizada.

‘Drive My Car’ é inspirado no conto do escritor japonês Murakami (Crédito: Divulgação/MUBI)

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Carregado de densos diálogos – extremamente bem elaborados – as ideias de Murakami, Hamaguchi e Anton Tchekhov, que também está relacionado à trama, se completaram. O escritor japonês trouxe a metalinguagem de ‘Tio Vânia’, do dramaturgo russo, em seu texto, enquanto Ryusuke Hamaguchi conseguiu adaptar a literatura e teatro para o cinema.

‘Drive My Car’ é um jogo metalinguístico dos mais rebuscados e vai além das páginas de ‘Homens Sem Mulheres’, o livro de contos de Murakami. Ryusuke Hamaguchi deu um contexto mais amplo para seu filme, colocando um prólogo, em que somos apresentados a vida do casal, formado por Kafuku (Hidetoshi Nishijima) e Oto (Reika Kirishima).

Aparentemente perfeitos um para o outro, ele está trabalhando na peça ‘Tio Vânia’ enquanto ela é uma roteirista e ex-atriz que largou a atuação. Essas impressões mudam no caminhar da história, quando descobrimos que eles perderam uma filha, e qualquer questionamento acaba sendo engolido quando Oto morre de uma hemorragia cerebral – diferente do conto, que é um câncer terminal.

Kafuku perde a esposa inesperadamente e fica anos vivendo à deriva, até que passa a trabalhar novamente na peça de Tchécov e volta a reviver o luto. Acompanhado de sua motorista Misaki (Toko Miura), que também uma pessoa passando por problemas pessoas relacionados à morte, ele ouve fitas cassetes gravadas por Oto todos os dias à caminho do trabalho.

Hidetoshi Nishijima e Reika Kirishima em ‘Drive My Car’ (Crédito: Divulgação/MUBI)

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Em meio, a isso ele passa a desenvolver relação de amizade com um ex-amante de sua mulher, um ator (Masaki Okada) que está trabalhando com ele. Por mais que o protagonista queira superar tudo que aconteceu em seu casamento, ele vive uma constante dúvida para tentar entender o motivo da sua esposa ter sido infiel. E Oto está presente o tempo todo, seja por conta das fitas ou das constantes conversas que tem sobre ela.

A proximidade de Kafuku com Misaki é intensificada a partir disso, já que se elas passam a compartilhar seus pensamentos e percebem que estão lidando com questões similares. Misaki tenta superar a perda da mãe e Kafuku, da esposa. Mas, a questão, que tanto Murakami, Hamaguchi e Tchécov, colocam em cena é que o amor, as perdas e os obstáculos da vida caem sempre no autoconhecimento.

É praticamente impossível superar certas dores e amores, mas é a nossa esperança e o quanto vamos nos entendendo, que consegue nos fazer suportar tudo e continuar vivendo. Da forma mais poética possível, ‘Drive My Car’ é uma profunda reflexão sobre os descontentamentos da vida e da necessidade que temos em viver apesar disso.

O filme ainda mostra como a arte é necessária, funcionando como uma válvula de escape que nos conforta, mesmo como meros espectadores. Kafuku usa sua arte para expressar o que sente, já que a peça de Tchécov consegue conversar com ele – através da gravação de sua esposa – e também pela trajetória de Vânia, um homem comum que está tentando compreender os lados positivos e negativos do envelhecimento.

De fato, assistir à uma produção de três horas é praticamente um exercício de paciência vivendo em uma pandemia, onde a maior parte do tempo passamos olhando para telas. No entanto, ‘Drive My Car’ é uma obra que merece a atenção, pois é uma aula de como a literatura, teatro e cinema conseguem convergir da melhor forma possível.

E, sem dúvida, também é um filme digno de todos os quatro Oscars que concorre.

‘Drive My Car’ está disponível nos principais cinemas brasileiros. Para encontrar mais informações sobre o filme o link para compra de ingressos, clique aqui.

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