Entenda o impacto do final de ‘Loki’ no futuro do Universo Cinematográfico Marvel Entenda o impacto do final de ‘Loki’ no futuro do Universo Cinematográfico Marvel

Entenda o impacto do final de ‘Loki’ no futuro do Universo Cinematográfico Marvel

Último episódio da série do Deus da Trapaça traz desdobramentos para os próximos filmes do estúdio, além de facilitar a integração com os filmes dos X-Men

15 de julho de 2021 14:58
- Atualizado em 19 de julho de 2021 11:20

Acabou. Depois de seis episódios, o Disney+ encerrou ontem (14) a primeira temporada da série ‘Loki’, estrelada pelo Deus da Trapaça. O capítulo derradeiro, no entanto, é muito maior que aquela história: traz desdobramentos para todo o futuro do Universo Cinematográfico Marvel, que devem ser sentidos nos próximos filmes do estúdio – e abrem caminho para muita coisa, inclusive uma real integração com os filmes dos X-Men produzidos pela 20th Century Fox.

Para ajudar quem assistiu ao seriado e ficou sem entender os ganchos do final (inclusive a identidade do vilão principal), ou para quem não acompanhou a produção porém quer estar atualizado para os próximos longas da Marvel Studios, o Filmelier traz aqui uma explicação completa dos reflexos do último episódio de ‘Loki’.

Não é precisaria nem comentar, mas vale ressaltar: spoilers (revelações do enredo) a partir daqui.

As duas variantes do Deus da Trapaça em Loki (Foto: divulgação / Marvel Studios)
As duas variantes do Deus da Trapaça em ‘Loki’ (Foto: divulgação / Disney)

Antes, uma rápida contextualização para quem não assistiu a ‘Loki’: a série se passa logo após os eventos de ‘Vingadores: Ultimato‘, quando uma versão do Deus da Trapaça (Tom Hiddleston) após a Batalha de Nova York (vista pela primeira vez em ‘Os Vingadores‘) rouba e o Tesseract para fugir. Ele, então, é identificado por uma polícia do tempo, chamada AVT, que o prende.

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Já sob custódia, esse Loki é recrutada por um agente da organização, Mobius (Owen Wilson) para ajudar a prender uma outra “variante” fujona do Deus, uma versão feminina dele – chamada Sylvie (Sophia Di Martino). Os dois Lokis acabam se unindo contra a AVT, que, na visão deles, é uma organização opressora que se coloca contra o livre arbítrio. No capítulo final, ficam frente a frente com o verdadeiro criador da organização, uma espécie “Professor Marvel” – o homem que se escondia por traz da farsa do Mágico de Oz.

Explicando o final de ‘Loki’

O último episódio de ‘Loki’ destoa bastante do resto da série, já que é um capítulo decidido basicamente no diálogo entre os dois Lokis e Aquele Que Permanece (Jonathan Majors), o homem responsável por criar a AVT.

Ele explica que, há muito tempo, descobriu que existiam diversas variantes do universo. Cada uma com pequenas mudanças em pontos da história que, juntas, levam a linhas do tempo muitas vezes completamente diferentes. A questão é que outras versões dele, de outras linhas temporais, descobriram a mesma coisa. Eventualmente, essas variantes brigaram entre si, causando uma guerra.

Só uma delas, “Aquele Que Permanece”, saiu vitoriosa. Como resultando, ele extinguiu todas as outras linhas do tempo e criou uma polícia altamente burocrática, a AVT, para impedir que novas variações temporais surgissem. Agora eles são responsáveis por manter a história como é, podando o livre arbítrio das pessoas em prol de uma ordem, sem deixar o universo cair no caos.

Há, claramente, um subtexto com comentários ao fascismo, à burocracia estatal e muito mais – mas vamos deixar isso de lado aqui.

Jonathan Majors como Aquele Que Permanece em Loki (Foto: divulgação / Marvel Studios)
Jonathan Majors como Aquele Que Permanece em ‘Loki’ (Foto: divulgação / Disney)

Acontece que, mesmo advertida do perigo de matar o vilão, Sylvie o assassina no clímax do episódio final. A partir daí, a linha do tempo começa a divergir de forma incontrolável.

Resultado: não há, mais, uma cronologia única para o Universo Cinematográfico Marvel.

Entenda o que é Multiverso

É aqui que o episódio final de ‘Loki’ para de dar explicações e deixa coisas no ar – mas é possível ler nas entrelinhas para entender o que aconteceu.

Não é dito em nenhum momento da história, mas linhas temporais divergentes são, também, uma forma de enxergar a teoria da existência do Multiverso.

Rapidamente: existe um Universo e nós estamos nele. Fato concreto que podemos compreender com a nossa observação. Porém, há diversas teorias sobre a existência de outros universos, que existem de forma paralela ao nosso.

Há apenas conjecturas sobre como seriam essas realidades paralelas, inclusive algumas que dão conta que existiriam leis da física completamente diferentes nelas. Para nós, uma teoria é a mais importante: a “interpretação de muitos mundos”, formulada por Hugh Everett.

Essa teoria diz que a cada evento no universo há uma ramificação. Um exemplo: você está caminhando em um parque pela manhã e encontra uma bifurcação no seu caminho. Uma versão sua seguiu pela direita e encontrou o amor da sua vida. Outra foi pela esquerda, não se distraiu com ninguém e viu mais cedo uma notificação no celular – o que levou, no final de tudo, a conquistar o emprego dos seus sonhos. Pronto: agora existem duas versões de você, em universos diferentes, com caminhos de vida diferentes. Uma encontrou o amor, a outra encontrou a realização profissional.

Imagine isso acontecendo a cada instante, a cada segundo, com cada coisa que existe em todo o universo. É esse o conceito por traz de ‘Loki’.

O impacto no futuro do MCU

“Ok, e como isso impacta no futuro da Marvel nos cinemas?”, você deve estar se perguntando. Vamos a isso.

Antes, o MCU era reconhecido por ser o primeiro universo cinematográfico coeso dos cinemas, ao menos em um nível tão grande e elaborado – já são quase 25 filmes. A história, ainda que com idas e vindas cronológicas, era única. Isso mudou.

O final de ‘Loki’ abre caminho para termos inúmeras versões dos mesmos acontecimentos, variantes infinitas dos mesmos personagens e por aí vai. Um Multiverso de Terras paralelas, cada uma um pouco (ou muito) diferente daquela que acompanhamos nos últimos 13 anos.

O primeiro reflexo disso já está muito claro: a série animada ‘What if… ?’ (‘O Que Aconteceria Se… ?’, em português), que estreia no Disney+ em 11 de agosto, já trará inúmeras dessas realidades. Entre elas teremos uma onde Peggy Carter se torna uma versão do Capitão América/Capitão Bretanha, ou ainda outra em que T’Challa assume o manto de Senhor das Estrelas e por aí vai.

Peggy Carter como uma variante do Capitão América em 'What if..?' (Foto: divulgação / Marvel Studios)
Peggy Carter como uma variante do Capitão América em ‘What if..?’ (Imagem: divulgação / Disney)

O título, claro, é uma referência direta a série de HQs da Marvel que tem o mesmo conceito, mas, mais no fundo, é o nome de um conto de Isaac Asimov, ‘What If–?’, que traz também desdobramentos alternativos a partir de momentos-chave da vida dos personagens.

Não que a Marvel Studios precisasse ficar explicando de onde veio o Multiverso para o seu ‘What If…?, mas agora está tudo canônico na própria história.

Há outros reflexos. Faz meses que os fãs conjecturam nas redes sociais sobre a presença de Tobey Maguire e Andrew Garfield reprisando o papel de Cabeça-de-Teia em ‘Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa’, algo que até aqui foi negado oficialmente.

Mas não é só isso. A Marvel tem um história de cessão dos direitos de adaptação de seus personagens para outros estúdios. O caso mais famoso é o dos filmes dos X-Men, produzidos por anos pela 20th Century Fox.

Há alguns anos o estúdio foi comprado pela Disney, com os mutantes “voltando para a casa”. Kevin Feige, presidente da Marvel Studios, já confirmou que veremos em breve novas produções com esses personagens – e a primeira, na realidade, já até foi lançada. Trata-se do encontro entre Deadpool e Korg (de ‘Thor: Ragnarok’) reagindo ao trailer de ‘Free Guy’, novo filme de Ryan Reynolds.

Teve também a presença de Evan Peters (dos filmes da Fox) aparecendo como Mercúrio em ‘WandaVision’ – ainda que a série dê uma explicação para o fato que nada tenha relação com o Multiverso, para o desespero de muitos fãs.

Claro, novas teorias mirabolantes vão surgir. Será que a Marvel Studios vai, com a desculpa do Multiverso, reaproveitar o que a Fox fez com os X-Men dentro do MCU? O recriar os personagens do zero?

O fato é que, independente da escolha a seguir, abre-se o caminho para dizer que tudo que foi feito até o momento – e não só com os mutantes, mas também ‘Hulk’ do Ang Lee, ‘Demolidor: O Homem Sem Medo’, as duas versões de ‘Quarteto Fantástico’, a trilogia ‘Homem-Aranha’ de Sam Raimi e até aquele ‘Capitão América’ lançado em 1990, com um Caveira Vermelha italiano – é, de alguma forma, canônico no Universo Cinematográfico Marvel.

Um novo crossover?

Um dos grandes questionamentos após o lançamento de ‘Vingadores: Ultimato’ é como a Marvel Studios pode manter o interesse por seus filmes no futuro próximo. Afinal, além do tão comentado desgaste da fórmula dos filmes dos super-heróis, o estúdio perdeu o grande trunfo da Saga do Infinito – além de aposentar dois de seus bastiões, o Homem de Ferro de Robert Downey Jr. e o Capitão América de Chris Evans.

O final de ‘Loki’ pode, em última instância, ajudar a dar um rumo. O próprio Aquele Que Permanece indica que a sua ausência causaria um conflito entre variantes dele mesmo, e a Marvel – nos cinemas, mas também nos quadrinhos – adora uma guerra para unir seus personagens, nos chamados crossovers.

Em Loki já tivemos uma amostra do que acontece quando diversas variantes do mesmo vilão se encontram (Foto: divulgação / Disney)
Em ‘Loki’ já tivemos uma amostra do que acontece quando diversas variantes do mesmo vilão se encontram (Foto: divulgação / Disney)

A diferença é que, agora, abre-se a porta não só desses encontros que eram improváveis até outro dia, além do retorno de quem morreu, com já aconteceu com o próprio Loki. Afinal, dizer que existe um universo onde Tony Stark não morre ao final de ‘Ultimato’ é fácil.

Quem é Aquele Que Permanece? É o Kang?

Além disso, o vilão interpretado por Jonathan Majors não tem seu real nome revelado em cena, mas o seu passado, se autointitular de “conquistador” e a estátua dele que surge no AVT, na cena final do episódio, revelam que o personagem foi criado a partir da combinação com um outro vilão da Marvel, Immortus.

Veja: Aquele Que Permanece é um vilão dos gibis, mas a Casa das Ideias adora juntar personagens diferentes em um só em seus filmes e séries. É esse, mais uma vez, o caso.

Immortus, nos gibis, foi criado por Stan Lee e Jack Kirby, em 1963. Tentando resumir aqui, o personagem nasceu no século 31 com o nome de Nathaniel Richards e é descendente de outro Nathaniel Richards, esse pai de Reed – o Sr. Fantástico do quarteto famoso.

Após encontrar o equipamento de viagem no tempo desenvolvido pelo Dr. Destino, Nathaniel vai ao passado e, eventualmente, se torna um vilão que atua tanto no espaço quanto no tempo, chamado Kang, o Conquistador. Eventualmente, Kang se cansa dessa vida após, entre outras coisas, perder a amada Ravonna (que inspira a juíza Ravonna Renslayer em ‘Loki’) e se oferece aos Guardiões do Tempo para se tornar o seu agente, assumindo o nome de Immortus.

Kang, o Conquistador nos gibis: o próximo Thanos nos cinemas? (Foto: reprodução / Marvel Comics)
Kang, o Conquistador nos gibis: o próximo Thanos nos cinemas? (Foto: reprodução / Marvel Comics)

Já está confirmado pela própria Marvel Studios que Majors estará presente como Kang em ‘Ant-Man and The Wasp: Quantumania’, que estreia nos cinemas em 2023. Em entrevista ao site oficial da Marvel, Michael Waldron (produtor e criador de ‘Loki’), confirmou que o personagem “provavelmente será o grande vilão que irá cruzar pelos próximos filmes”.

Será que veremos algo parecido com o que estúdio fez, por anos, com Thanos, criando uma enorme antecipação para ‘Vingadores: Guerra Infinita‘?

Isso sem mencionar que o futuro filme ‘Doctor Strange in the Multiverse of Madness’, que chega em março de 2022, lidará com os reflexos da recriação do Multiverso, como o nome entrega. Teremos Kang em cena?

Por fim, há, sem muito esforço, um gancho até para o reboot de ‘Quarteto Fantástico’, entre outras ideias – inclusive as mais mirabolantes.

Seja como for, pelas inúmeras teorias que vão surgindo, a Casa das Ideias conseguiu o seu maior objetivo: se manter nas cabeças e discussões de seus fãs.

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