“É uma história sobre um término”, diz diretor de ‘Os Banshees de Inisherin’ “É uma história sobre um término”, diz diretor de ‘Os Banshees de Inisherin’

“É uma história sobre um término”, diz diretor de ‘Os Banshees de Inisherin’

Em entrevista, o cineasta indicado ao Oscar, Martin McDonagh, fala sobre sua inspiração para ‘Os Banshees de Inisherin’

Matheus Mans   |  
2 de fevereiro de 2023 22:17

Os Banshees de Inisherin‘ é um filme que não perde tempo. Logo no começo da história, Colm Doherty (Brendan Gleeson) ignora o amigo Pádraic Súilleabháin (Colin Farrell), que o convida, como faz todos os dias, para ir tomar uma cerveja no pub ali perto. O amigo, exímio tocador de violino, depois explica: ele não quer mais manter uma amizade.

Esse ponto de partida é apenas o começo da discussão que o longa-metragem, dirigido e roteirizado por Martin McDonagh (‘Três Anúncios para um Crime‘), traça sobre amizades. Sobre fins e começos. Afinal, ao longo de quase 120 minutos, ‘Os Banshees de Inisherin’ mergulha nas complicações de uma decisão dessa e tenda entender seus efeitos.

Brendan Gleeson e Colin Farrell em 'Os Banshees de Inisherin'
Brendan Gleeson e Colin Farrell em ‘Os Banshees de Inisherin’ (Crédito: 20th Century Studios)

“É a simplicidade de contar a história sobre um término, sobre ser verdadeiro, sobre mostrar sua dor. Era isso. Há o cenário da Guerra Civil, o que dá ângulos metafóricos para a história, também trazendo questões sobre o horror e essa questão imperdoável. Mas o impulso inicial era capturar a essência de um término”, diz Martin em entrevista.

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Difícil, também, não pensar ou associar essa trama com uma história de amor, uma desilusão amorosa ou coisa do tipo. Martin McDonagh, porém, vê as coisas de maneiras distintas. “É pior do que um término amoroso”, diz”. “Você pode entender o motivo de uma pessoa não querer ser seu par romântico, mas em uma amizade? É muito mais difícil”.

‘Os Banshees de Inisherin’ é comédia ou drama?

É curioso como o longa-metragem pode ser assistido como comédia ou drama. De um lado, há todas essas questões inusitadas sobre alguém que simplesmente decide romper uma amizade do nada, como se fosse algo simples até. Depois, ainda por cima, começa a cortar dedos como sinal de protesto. Colm se mutila para dar uma lição de moral.

No entanto, há a aspereza disso. Há a metáfora sobre a Guerra Civil que assolava a Irlanda no período em que se passa o filme. Um país só, que vivia como único, decide romper. Dois lados não se querem mais. E, para mostrar o seu lado, às vezes é preciso de sangue, de violência. Derramar sangue, afinal, pode ser o indicativo de que não há mais volta.

Na entrevista, Martin admite que dá para encontrar comédia por aqui, mesmo em um cenário tão denso, tão pesado. Ainda mais quando está falando de um assunto tão sério. Para atingir essa dualidade, Martin exalta a força do elenco.

“Eu amo todos eles como pessoas e são ótimos atores para ter por perto. São muito sensíveis”, diz ele, citando nominalmente Farrell, Gleeson, Kerry Condon e Barry Keoghan. “Eles são ótimos com materiais tristes e sombrios, mas também brilhante em entender a comédia. Colin e Brendan se amam, mas interpretam pessoas opostas, diferentes. Eu não poderia ter conseguido isso com dois atores que não tinham esse carinho e amor um pelo outro, eu acho”.

Gleeson, aliás, parece um estranho no mundo da comédia. Ele, afinal, geralmente é visto em filmes bem mais densos, como ‘Calvário’, ‘A Tragédia de Macbeth’ e ‘No Coração do Mar’ — e até mesmo na franquia ‘Harry Potter’ ele interpretou um personagem mais durão e esquisito, Olho Tonto Moody. Mas afirma que gostou de voltar à comédia.

“Muito do meu trabalho inicial foi com um grupo chamado Passion Machine, e fizemos um monte de coisas nos anos 80, onde a gente agia como vermes, basicamente. Nunca foi estranho para mim ir para [a comédia e o humor sombrio]”, diz. E será que é realmente uma comédia? “As coisas de Martin são sempre engraçadas. Quero dizer, ‘Na Mira do Chefe’ é um filme hilário, mas acho que isso diz muito da natureza do material de Martin que sempre achamos muito engraçado no começo, e então começa a aparecer um lado sombrio e acaba não sendo tão engraçado assim”.

A lição da amizade em ‘Os Banshees de Inisherin’

Além de refletir sobre término, Guerra Civil e outras coisas mais, há aquele tema que é o mais essencial para ‘Os Banshees de Inisherin’: a amizade. Qual o significado de uma amizade, o que ela significa para a gente, como nós nos relacionamos com amigos? E, acima de tudo, como ficaríamos emocionalmente se um amigo rompesse conosco?

Quem respondeu isso foi Colin Farrell. O ator, que esteve recentemente nos cinemas por ‘Batman‘, conta que não tem redes sociais, não é muito chegado em celular. “Tenho um telefone celular para o qual envio mensagens de texto e e-mail, e não sou muito de falar no telefone para a consternação de certas pessoas em minha vida às vezes”, conta.

Colin Farrell é quem mais sofre com o distanciamento do amigo em ‘Os Banshees de Inisherin’ (Crédito: 20th Century Studios)

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E como ficam as amizades, em tempos em que todas as relações acontecem digitalmente? “A maioria dos meus velhos amigos de casa, de Dublin, são pessoas que sou amigo desde os 14 anos. Algumas amizades não precisam ser regadas constantemente. Eles podem ir e viver suas vidas e fazer suas coisas e eu vou e faço minhas coisas. Podemos não nos ver. Em alguns períodos, não nos vimos por 18 meses e pouco. Mas, assim que nos vemos, continuamos de onde paramos. Portanto, há uma profundidade de amizade que tenho a sorte de ter em minha vida com algumas pessoas”.

‘Os Banshees de Inisherin’ chegou aos cinemas nesta quinta-feira, 2 de fevereiro. Para comprar ingressos, clique aqui.

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