De Spielberg a del Toro: Scott Cooper revela as influências de ‘Espíritos Obscuros’ De Spielberg a del Toro: Scott Cooper revela as influências de ‘Espíritos Obscuros’

De Spielberg a del Toro: Scott Cooper revela as influências de ‘Espíritos Obscuros’

Em entrevista, o diretor destrincha a criação do Wendigo, conta quais foram as suas inspirações e fala a respeito das metáforas ecológicas por trás do longa

11 de novembro de 2021 16:37
- Atualizado em 11 de janeiro de 2022 09:31

Um canibal que simboliza o apetite e a ganância da humanidade. Logo de início, é com tal metáfora que nos deparamos no filme ‘Espíritos Obscuros’, do diretor Scott Cooper (‘Hostiles’), que trabalhou em colaboração com Guillermo del Toro (‘A Forma da Água‘), atuando como produtor.

O longa de Cooper, que conta com atuações excelentes de Keri Russell (‘Planeta dos Macacos: O Confronto’) e do ator mirim Jeremy Thomas (‘Lore‘), se destaca por sua ambientação taciturna. A pequena cidade situada no Oregon, nos Estados Unidos, se mostra desde o início bastante sombria: é uma daquelas comunidades operárias, devastadas pelos revezes econômicos e histórico de drogas.

Em meio a toda caracterização da história, enquanto o elemento trazido pelo gênero do terror movimenta a narrativa de ‘Espíritos Obscuros’, o longa (que está em cartaz nos cinemas brasileiros) também explora o Wendigo – criatura sobrenatural, parte de uma mitologia folclórica dos povos nativos norte-americanos.

'Espíritos Obscuros' e o medo do desconhecido: Scott Cooper fala sobre dirigir o filme, que foi produzido por Guillermo del Toro
Scott Cooper fala sobre como foi a criação do Wendigo (Crédito: Divulgação / Searchlight Pictures)

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“Depois da minha pesquisa e da compreensão profunda dos traumas históricos que nós, como americanos, impusemos aos povos indígenas, não é algo que possamos – ou devamos – superar facilmente.”, contou Cooper, explicando em entrevista que, para ele, o ser representa uma reivindicação da natureza e do trauma histórico que os americanos impuseram aos índios.

“Achei que o Wendigo poderia servir como uma metáfora para a nossa crise ambiental, pois a criatura está protegendo a natureza e representando o que fizemos à Mãe Terra ao longo de centenas de anos. Também representa um senso de canibalismo na cultura, o canibalismo de seus recursos por aqueles que chegaram à América e os saquearam – um forte senso de capitalismo, todos os tipos de coisas que levaram os indígenas a perder o contato com sua cultura. E que agora está voltando para nos assombrar, pintando um futuro terrível.”

Para criação do ser sobrenatural, Cooper caminhou para uma direção diferente: apostou no desconhecido. “Eu penso que, quanto menos você vê algo, mais assustador é. A tarefa aqui é como o apresentamos, como o fotografamos, iluminamos e o quanto dele vemos.”, explicou ele. Pelas sutilezas, o Wendigo de Cooper foi comparado ao ‘Tubarão’ (1975) de Steven Spielberg, onde a criatura em si também ganha pouco tempo de tela.

“Obviamente você tem a referência do Spielberg, mas acho que ali [no filme ‘Tubarão’] foi mais por necessidade, porque era um tubarão de borracha. O nosso é extraordinariamente bem feito pelos gênios da Legacy, que trabalharam com Stan Winston e criaram de tudo, desde ‘Jurassic Park’ a ‘Alien’, além de grande parte do trabalho de Guillermo [del Toro]. Estou trabalhando com o ‘Rolls Royce’ de design de criaturas, com certeza. E agora cabe a mim fotografá-lo e isso é emocionante e assustador também.”

Keri Russell é a protagonista de ‘Espíritos Obscuros’ (Crédito: Divulgação / Searchlight Pictures)

Em ‘Espíritos Obscuros’, Cooper queria instigar o público e fazer com que os telespectadores pedissem por mais. “Sabemos que nossa imaginação é muito mais assustadora do que aquilo que nos é apresentado. Como um membro da audiência, uma vez que você entende uma criatura ou monstro muito claramente, o medo dele se dissipa.”, falou ele, citando que as regras da realidade serviriam apenas para desmistificar a criatura. “Espero que possamos apresentar a quantidade certa, mas estou extremamente orgulhoso do resultado.”

A influência de Guillermo del Toro em ‘Espíritos Obscuros’

Cooper contou que não teria dirigido ‘Espíritos Obscuros’ se não fosse por del Toro. “Quando comecei como ator, sempre quis ser capaz de me mover entre os gêneros. Portanto, fazia sentido, como diretor, não apenas me esforçar como cineasta, mas continuar a crescer como cineasta. E que melhor maneira de fazer isso do que trabalhar entre vários gêneros?”.

Além disso, o cineasta mexicano pessoalmente disse a Cooper que, “quer as pessoas saibam ou não, seus últimos três filmes foram todos de terror”. Depois da constatação do mexicano, a confirmação para participar do projeto veio naturalmente.

“Guillermo disse: ‘o que eu mais gostaria de ver é alguém que você não espera que faça um filme de terror, fazendo um’. E quando Guillermo del Toro chega até você e diz ‘Eu acho que tenho algo que realmente, realmente traria frutos e você poderá transformar em seu’, como você pode deixar passar? Porque ninguém conhece esse gênero, e certamente essas criaturas, melhor do que Guillermo.”, constatou Cooper.

Sendo sua primeira colaboração com o vencedor do Oscar, Cooper ressaltou que a visão única de del Toro na produção do filme foram essenciais. “Ele foi extraordinariamente útil na criação do Wendigo – como vamos fotografá-lo, como ele vai se mover, etc. Guillermo tem um conhecimento quase enciclopédico do mundo dos monstros e sabe como fazer algo totalmente único. Eu não teria feito o filme sem ele porque ele sabe muito mais sobre este mundo do que eu. Mas se você não está se desafiando em todos os filmes, por que está fazendo isso?”, refletiu.

‘Espíritos Obscuros’ faz alusões à escuridão humana, como também reflete sobre as questões ambientais e climáticas da atualidade. Nesse contexto, Cooper conjectura que, talvez, o melhor jeito de educar a audiência sobre esses assuntos seria criando conexões com quem consumirá a história.

“Há uma responsabilidade [em falar sobre esses assuntos], mas, novamente, tento fazê-lo de uma forma que seja matizada porque, como público, você nunca quer que a mensagem seja tão pesada. Eu nunca gostaria que fosse esse o caso. Mas eu acho que os melhores filmes de terror geralmente têm uma mensagem social e são aqueles que mais nos atraímos.”, finaliza Cooper.

‘Espíritos Obscuros’ está em cartaz cinemas.

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