‘Flee’ e o cinema como arma contra a censura e o terrorismo ‘Flee’ e o cinema como arma contra a censura e o terrorismo

‘Flee’ e o cinema como arma contra a censura e o terrorismo

Longa-metragem, que chega aos cinemas brasileiros nesta semana, fala sobre um homem afegão que precisou fugir de seu país

Matheus Mans   |  
22 de abril de 2022 10:41
- Atualizado em 26 de abril de 2022 00:48

Um homem afegão tem um passado que prefere esquecer. Afinal, entre sua infância e adolescência, teve que conviver com governos violentos, o sumiço do pai, terrorismo e, enfim, uma fuga desesperado para salvar a própria pele. Uma baita história para um documentário, não? Só tem um problema: esse homem não pode mostrar sua identidade. Sem chance. A solução? Em ‘Flee: Nenhum Lugar para Chamar de Lar’, estreia dos cinemas brasileiros desta semana, este homem se transforma em uma animação. Seu rosto ganha uma nova forma. Sua identidade se transforma em traços.

Dirigido com habilidade por Jonas Poher Rasmussen, o longa-metragem não conta com nenhum tipo de material de sustentação além do depoimento deste protagonista-entrevistado. Afinal, é ele que sabe sua história, sua jornada, suas dores. A partir de traços sóbrios, o cineasta reinventa e conta a história desse homem a partir de suas memórias e das percepções imagéticas da criação do longa, sempre protegendo os retratados.

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Um filme-denúncia criativo e original.

Cena de Flee
Imagens captadas pelo documentarista passam por um processo de animação e reinterpretação (Crédito: Divulgação/Diamond Films)

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Não é à toa que ‘Flee: Nenhum Lugar para Chamar de Lar’ conquistou os votantes da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. No Oscar de 2022, conquistou uma tripla indicação inédita nas categorias de Melhor Filme Internacional, Melhor Documentário e Melhor Animação. Acabou perdendo para ‘Drive My Car‘, ‘Summer of Soul‘ e ‘Encanto‘, respectivamente, mas ainda assim ficou marcado na história do prêmio mais importante do cinema.

‘Flee’ é bom?

Há força e potência na história retratada do refugiado, mostrando como há histórias potentes a serem contadas para além da visão ocidental da nossa jornada. Não é preciso apenas contar histórias de travessias desses refugiados, que povoam histórias do cinema com força desde os anos de 2010, em retratos frios e distantes. Oras, há muitos refugiados por aí, felizes em suas vidas. Vamos ouvir essas pessoas, compreender seus caminhos e viver seus futuros.

O desafio de não poder retratar o protagonista-entrevistado com imagens cruas, como sempre vemos em qualquer documentário, acaba fazendo com que Jonas Poher Rasmussen vá além — lembrando bastante outro excelente documentário, ‘Welcome to Chechnya‘, em que computação gráfica substitui o rosto dos entrevistados. O cinema não pode deixar a censura, a perseguição e o terrorismo tomarem conta. É preciso encontrar saídas originais e criativas.

‘Flee: Nenhum Lugar para Chamar de Lar’ só tem um problema que pulsa ao longo dos 89 minutos de duração: o cansaço da narração, exagerada e muito presente, que persiste tal qual um zumbido sem fim. Com o artifício da animação, Rasmussen poderia ter brincado mais com a narrativa. Mas não. Há muita aposta na narração em off do personagem-entrevistado, cansando demais. Faltou uma dinâmica um pouco melhor, mais ágil e esperta.

Mas tudo bem. O documentário é necessário, contemporâneo, bem realizado, potente. Uma história interessante que, apesar dos erros de condução, nunca perde a atenção do público. Fica a sensação de que, com ideias corajosas como ‘Flee’ e ‘Welcome to Chechnya’, vamos ouvir mais histórias como a de Amin, este homem comum e, ao mesmo tempo, com a vida extraordinária, que em outros tempos poderia ter sido apenas ocultado ou, então, deixado de lado.

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