“A amnésia é a nova epidemia no mundo”, diz diretor de ‘Fruto da Memória’ “A amnésia é a nova epidemia no mundo”, diz diretor de ‘Fruto da Memória’

“A amnésia é a nova epidemia no mundo”, diz diretor de ‘Fruto da Memória’

Em entrevista exclusiva, o diretor grego Christos Nikou fala sobre o seu primeiro filme e da influência do cineasta Yorgos Lanthimos

10 de novembro de 2021 11:21
- Atualizado em 11 de novembro de 2021 11:42

Nos últimos anos, Yorgos Lanthimos abriu a portas para o cinema grego se popularizar em todo o mundo com o sucesso de crítica e reconhecimento em premiações de ‘Dente Canino’ (2009), ‘O Lagosta’ (2015), ‘O Sacrifício do Cervo Sagrado’ (2017) e ‘A Favorita’ (2018). Este ano, surfando nessa onda, temos o lançamento de ‘Fruto da Memória’, do grego Christos Nikou, que chegou ao Brasil, via as plataformas de streaming para aluguel e compra, na última semana. A produção também fez parte também da seleção da 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

Em entrevista exclusiva, Nikou conversou com o Filmelier sobre este que é seu primeiro longa-metragem. Aliás, ‘Fruto da Memória’ não só é uma grande estreia como é também bastante peculiar. A história acompanha Aris (Aris Servetalis), um homem que simplesmente tem um lapso de memória e esquece quem é, onde mora e o que faz da vida. Ele não é o único: diversas pessoas estão sofrendo com isso no mundo todo e ficam a mercê do governo para serem inseridos novamente na sociedade.

Aris Servetalis é o protagonista de ‘Fruto da Memória’, que acaba de chegar ao streaming (Crédito: Divulgação/Synapse)

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Uma metáfora para os smartphones e a memória

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Christos Nikou contou como surgiu a ideia da produção, que é mais íntima do que parece. “Sempre adorei assistir a filmes que criam seus próprios mundos e mudam as regras de nossa sociedade. De uma forma alegórica, é claro, eu prefiro quando as histórias conceituais ficam mais no chão e não são futurísticas. Então foi isso que fizemos em ‘Fruto da Memória’, onde a amnésia é a nova epidemia no mundo”, disse o cineasta.

“Além disso, é uma história muito pessoal porque tive a ideia do filme quando estava lidando com a perda do meu pai e estava tentando entender o quão seletiva é a nossa memória e como você pode apagar algo que te machuca sem perder sua identidade”, completou.

E por falar em surtos globais, o realizador comentou como tem sido sua relação coma pandemia. “Eu realmente acho que as pessoas têm cada vez mais dificuldades para se conectar umas com as outras. Eu senti isso antes do início da pandemia e as mídias sociais são um dos principais motivos”.

”As pessoas podem ter 10 mil amigos e curtidas em suas contas do Instagram ou Facebook e nunca perceber o quão solitárias são, porque tudo isso é falso. Nosso mundo digital de alguma forma criou relacionamentos falsos ou estranhos e é bom afastar-nos deles. Pensar na pandemia e no ano que todos passamos longe uns dos outros aumentou ainda mais esse efeito”, filosofou.

Cena de ‘Fruto de Memória’, que imagina uma pandemia global – de amnésia (Crédito: Divulgação/Synapse)

‘Fruto da Memória’ usa da perda de memória para trazer reflexões sobre relacionamentos e comportamento. Enquanto na história as pessoas estão tentando se achar pois sofrem de amnésia na vida real estamos sempre em busca de identidade e aceitação. Boa parte disso é refletido no mundo digital.

Na trama há também uma ligação do protagonista com maçãs e o diretor comentou um pouco sobre isso. Inclusive, o título do longa em inglês é ‘Apples’. Trata-se de uma referência à marca que leva uma maçã em seus famosos smartphones, que atualmente funcionam como nosso cérebro.

“Todos nós podemos nos conectar de maneira diferente com as ‘maçãs’ e seus significados, mas, para mim, eu usei isso de uma forma engraçada, em primeiro lugar, com Aris comendo maçãs o tempo todo, porque ele ama as frutas e também porque elas são boas para a memória! E também, de certa forma, funciona como um jogo de palavras, pois quando se trata de memória, hoje em dia todas armazenamos as nossas imagens e fotos em um smartphone que leva o mesmo nome [Apple]. As maçãs simbolizam o passado e, ao descascá-las, procuramos mostrar algo que se assemelha à estrutura do filme, pois aos poucos vamos ao âmago das maçãs para perceber e compreender o nosso herói principal”.

Influência de Yorgos Lanthimos

Exibido pela primeira vez no Festival Internacional de Cinema de Veneza, o longa carrega uma nítida influência de Yorgos Lanthimos e não é nenhum coincidência. Nikou foi assistente de direção de Lanthimos em ‘Dente Canino’ e ele segue fazendo bons contatos: Cate Blanchett atua como produtora do novo filme.

“Cate Blanchett foi a Presidente do Júri do Festival de Cinema de Veneza. Ela é uma grande cinéfila e foi ver ‘Fruto da Memória’ no primeiro dia porque éramos o filme de abertura da Mostra Orizzonti e ela estava exibindo filmes para a competição como presidente. Ela se sentiu muito tocada pelo filme e me propôs um encontro em seu hotel. Ambos percebemos que compartilhamos tanta paixão por filmes, ela propôs sua ajuda com ‘Fruto da Memória’ e vai também produzir meu segundo filme, que será em inglês”, contou ele.

Falando nisso, o diretor entregou um pouco sobre o futuro. “Meu próximo projeto, que estou escrevendo atualmente com Stavros Raptis e Sam Steiner, se chama ‘Fingernails’. É um filme muito próximo de ‘Fruto da Memória’, é como o outro lado da mesma moeda. É um filme sobre amor e se passa em um mundo onde o romance não está tão presente e as pessoas estão lutando para se apaixonar. E, em geral, é um longa que faz essa simples pergunta: o que é o amor?”.

Como ele já tinha citado, ‘Fingernails’ é produzido por Cate Blanchett, pela Dirty Films, e a protagonista é a indicada ao Oscar Carey Mulligan (‘Bela Vingança’). O filme tem estreia prevista para 2022 e enquanto não fica pronto, você pode conhecer o trabalho de Christos Nikou em ‘Fruto da Memória’.

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