Crítica de ‘Ghostbusters: Apocalipse de Gelo’: Família numerosa Crítica de ‘Ghostbusters: Apocalipse de Gelo’: Família numerosa

Crítica de ‘Ghostbusters: Apocalipse de Gelo’: Família numerosa

Pode haver excesso de Caça-Fantasmas? A resposta de ‘Ghostbusters: Apocalipse de Gelo’ é: sim

Lalo Ortega   |  
14 de abril de 2024 21:49
- Atualizado em 15 de abril de 2024 15:23

Ghostbusters: Apocalipse de Gelo (Ghostbusters: Frozen Empire), que chegou aos cinemas brasileiros em 11 de abril, é a perfeita demonstração de que, às vezes, é possível intuir o que está errado com o livro pela sua capa. Ou, no caso, o que está errado com o filme desde seus materiais promocionais.

Dito de forma simples, a quarta entrega de Ghostbusters (pelo menos dentro do cânone atual) sofre do grande vício que aflige praticamente todas as franquias cinematográficas de hoje: o “mais”. Neste caso, mais ideias, mais personagens e, consequentemente, mais subtramas. Algumas delas, criadas em nome do fanservice e para dar continuidade aos conceitos de sua querida predecessora, Ghostbusters: Mais Além.

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O que é uma contradição e uma pena, porque Apocalipse de Gelo sacrifica no altar tudo o que fez funcionar o filme anterior.

Quando há muitos Caça-Fantasmas?

Partamos daí: o que fazia Ghostbusters: Mais Além funcionar não era apenas a nostalgia pura (embora houvesse muito disso). A sequela tardia funcionava porque reconhecia que havia passado muito tempo, algo que havia ocorrido não apenas dentro da narrativa, mas também fora dela: tanto na frente quanto atrás das câmeras, os Caça-Fantasmas estavam separados há muito tempo.

O único caminho para essa história era honrar seu passado e uma de suas mentes criativas e protagonistas fundamentais, Harold Ramis (falecido em 2014), o icônico Egon Spengler. A resposta? Passar o bastão para uma nova geração de Spenglers: sua filha, Carrie (Carrie Coon) e seus netos, Phoebe (Mckenna Grace) e Trevor (Finn Wolfhard). Uma homenagem bonita ao passado que permitia deixá-lo para trás e avançar para o futuro.

E então chegamos a Ghostbusters: Apocalipse de Gelo. Os Spengler e seu novo pai adotivo, Gary Grooberson (Paul Rudd), agora são os novos Caça-Fantasmas de Nova York. Mas os problemas, como de costume, não param: ter uma adolescente perseguindo espectros (e destruindo a cidade no processo) não é exatamente legal.

E embora nossos caçadores do paranormal agora sejam uma instituição e sejam financiados por um Winston Zeddemore (Ernie Hudson) em uma faceta filantrópica, isso não dissuade Walter Peck (William Atherton), agora prefeito, de fazer de tudo para fechá-los. Novamente.

Paralelamente, Ray Stantz (Dan Aykroyd) fica em posse de uma misteriosa esfera que parece abrigar um ente paranormal de poder sem precedentes. O artefato é hospedado nos novos laboratórios dos Caça-Fantasmas, e enquanto investigam sua natureza, desenvolve-se um complô para liberar o que está dentro dela.

A realidade é que quatro desses cinco personagens são supérfluos (Crédito: Sony Pictures)
A realidade é que quatro desses cinco personagens são supérfluos (Crédito: Sony Pictures)

O problema é que, para chegar a esse ponto, Ghostbusters: Apocalipse de Gelo dá cambalhotas com seu excesso de personagens e subtramas. Muito ênfase é colocada em Phoebe que, cansada de ficar em casa, faz amizade com Melody (Emily Alyn Lind), uma alma penada do Central Park que morreu vítima de uma misteriosa tragédia. Essa incógnita e o relacionamento entre as duas meninas parecem ser, a princípio, uma das subtramas principais.

Enquanto isso, na subtrama de Ray, personagens do filme anterior são reintroduzidos, como o tagarela Podcast (Logan Kim) e Lucky (Celeste O’Connor). Mas também há rostos novos como Patton Oswalt, James Acaster ou Kumail Nanjiani, sendo este último o único com um papel crucial em um mito complicado para lidar com o vilão principal.

Ou seja, até aqui, as coisas são bastante complicadas, o que reduz certos personagens a meras decorações nos melhores casos, ou incômodos nos piores. É lamentável ver alguém com os talentos de Carrie Coon reduzida a ser apenas “a mãe”, e muito menos um Finn Wolfhard tão útil quanto um vaso para a trama principal. Paul Rudd recebe um material melhor para trabalhar, injetando humanidade e humor a um personagem preso entre ser parceiro romântico e figura paterna desconfortável.

E então, há os personagens clássicos. O papel de Dan Aykroyd é indiscutivelmente fundamental, mas o resto de seus colegas é dispensável, já que Ghostbusters: Apocalipse de Gelo os limita a cameos glorificados ou diálogos puramente expositivos. É uma pena que, quando finalmente é feita alguma justiça a Janine (personagem de Annie Potts), seja de forma tão limitada. E Bill Murray? Exceto por uma certa cena no meio do caminho, ele só vem para receber o cheque para alguns aplausos fáceis no clímax.

Ghostbusters não deixa o passado ir embora

É uma pena porque, no que diz respeito à direção (agora a cargo de Gil Kenan, que coescreveu o anterior com o diretor Jason Reitman), Ghostbusters: Apocalipse de Gelo de Gelo é competente em seus momentos de ação. O filme consegue criar tensão, os efeitos visuais são bem executados. Obtém-se o drama e o humor dos atores até nas cenas mais insípidas. O subtexto em torno de Phoebe e Melody está muito bem construído.

Amamos esses caras, mas eles não acrescentam muito a uma narrativa já saturada (Crédito: Sony Pictures)
Amamos esses caras, mas eles não acrescentam muito a uma narrativa já saturada (Crédito: Sony Pictures)

Todo o problema está em um roteiro que tenta abarcar demais e, no final, não resolve todas as subtramas abertas – e as que resolve, fecha com pressa e até de forma desajeitada. A trama precisa de ar para respirar e se desenvolver, mas carece disso por causa da sobrecarga de personagens. A ironia é que dois dos temas que o roteiro tenta desenvolver são a importância da família e a necessidade de deixar o passado para trás para poder avançar.

Não é que não gostemos de ver Bill Murray, Dan Aykroyd, Ernie Hudson e até Annie Potts com mochilas de prótons. Mas o fato de estarem em Apocalipse de Gelo é um sinal de que o roteiro não teve coragem de seguir a direção promissora de Ghostbusters: Mais Além: deixar o passado para trás para construir um futuro para os Caça-Fantasmas.

A família é grande demais. Há planos para mais sequências, mas talvez seja melhor não convidar todos para a mesa na próxima vez.

Ghostbusters: Apocalipse de Gelo já está em cartaz. Compre seus ingressos para assistir nos cinemas.

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