Na era dos blockbusters sem alma, ‘Ghostbusters: Mais Além’ honra o legado de uma geração Na era dos blockbusters sem alma, ‘Ghostbusters: Mais Além’ honra o legado de uma geração

Na era dos blockbusters sem alma, ‘Ghostbusters: Mais Além’ honra o legado de uma geração

Continuação direta dos dois primeiros ‘Os Caça-Fantasmas’, ‘Mais Além’ é uma bela homenagem para os fãs de longa data e também uma reintrodução da franquia na cultura pop

17 de novembro de 2021 18:39
- Atualizado em 18 de novembro de 2021 14:38

Lançado em 1984, ‘Os Caça-Fantasmas‘ marcou uma geração e se tornou uma grande referência da cultura popular. Após 37 anos – contando alguns adiamentos por conta da pandemia -, a franquia é renovada com ‘Ghostbusters: Mais Além’, uma sequência direta aos dois filmes originais e que entra em cartaz nos cinemas brasileiros amanhã, dia 18

O novo longa-metragem chega com algumas missões – e obtém sucesso em todas elas. A produção sabe preservar o material original, entregando uma deliciosa sopa de referências e conceitos já conhecidos, mas também consegue oferecer o conteúdo para uma nova geração que não teve contato com os originais, atualizando temas e narrativas de maneira natural e agradável, assim abraçando tanto novos espectadores quanto fãs de longa data.

Trevor (Finn Wolfhard), Phoebe (Mckenna Grace) e Podcast (Logan Kim): a nova geração de Ghostbusters: Mais Além (Crédito: divulgação / Sony Pictures)
Trevor (Finn Wolfhard), Phoebe (Mckenna Grace) e Podcast (Logan Kim): a nova geração de ‘Ghostbusters: Mais Além’ (Crédito: divulgação / Sony Pictures)

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E olha que essa não é a primeira vez que a franquia é revisitada. Em 2016 foi lançado um remake dirigido por Paul Feig (‘Missão Madrinha de Casamento’, ‘Um Pequeno Favor’) e estrelado por um elenco principal feminino. Mesmo antes da estreia, o filme foi duramente criticado por suas escolhas criativas – e uma boa parcela do público, de caráter mais conservador, se mostrou indignado com a ideia de uma nova versão estrelada só por mulheres. 

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Ainda assim, ‘Caça-Fantasmas’ está longe de ser o terror que foi pintado, mas por conta do seu grande boicote e fracasso de bilheteria, aquele reboot foi engavetado e não ganhou uma continuação. 

Negócio em família

Alguns anos depois a franquia é retomada justamente com ‘Ghostbusters: Mais Além’, dessa vez sob o comando de Jason Reitman (‘Juno‘, ‘Obrigado por Fumar’), que é filho do diretor e criador do original, fator diferencial para o sucesso da tentativa. 

Ivan Reitman esteve muito presente durante o processo do novo longa como produtor, acompanhando tudo e oferecendo conselhos valiosos – sob as palavras de Jason em entrevista para a IGN, seu pai tem um grande instinto para contar histórias, indicando desde grandes coisas até mínimos detalhes como “você precisa de mais vento”, pois o vento é essencial para a atmosfera já que é por meio dele dele que os fantasmas são percebidos no ambiente. 

Ivan Reitman (à esquerda), diretor dos longas originais, junto do filho, Jason (à direita) - no centro estão Carrie Coon, Mckenna Grace e Finn Wolfhard (Crédito: divulgação / Sony Pictures)
Ivan Reitman (à esquerda), diretor dos longas originais, junto do filho, Jason (à direita) – no centro estão Carrie Coon, Mckenna Grace e Finn Wolfhard (Crédito: divulgação / Sony Pictures)

Jason viveu e respirou ‘Os Caça-Fantasmas’ durante toda a vida, e foi isso que fez o projeto receber o sinal verde da Sony Pictures. O resultado final é extremamente satisfatório, cheio de nostalgia e paixão pelo projeto, e o próprio Ivan Reitman em entrevista com a Empire disse: “Eu realmente chorei; me dá vontade de chorar agora mesmo quando penso sobre. Foi uma experiência muito emocionante”.

Indo ‘Mais Além’

Para o Cinemablend, Jason Reitman declarou que por muitas vezes em sua vida sempre era questionado se ele faria um filme dos Caça-Fantasmas. Agora que ele finalmente fez, a pergunta que impera é o que o motivou para o projeto. A resposta: “Eu tinha uma história que eu precisava contar. E eu queria fazer um filme para o meu pai. E eu queria fazer um filme para a minha filha.” 

A afirmação é muito significativa ao assistir a ‘Ghostbusters: Mais Além’ e observar o que Jason pretendeu. O filme pode ser observado de várias óticas, e oferece diferentes narrativas e temas em sua trajetória.

É interessante como a nova produção lida com o material original, sendo uma sequência que é, ao mesmo tempo, uma história que pode ser assistida individualmente, sem o conhecimento prévio da franquia. 

‘Mais Além’ utiliza seus personagens para dialogar com os dois públicos diferentes: para os novos espectadores temos os protagonistas mirins, interpretados por Mckenna Grace (‘A Maldição da Residência Hill’) e Finn Wolfhard (‘Stranger Things’), que não conhecem o universo da caça à fantasmas e caem de cabeça em um mundo sobrenatural, herança de seu avô (um dos Caça-Fantasmas originais, não entregaremos qual), descobrindo então esse universo por conta própria.

Mr. Gary Grooberson (Paul Rudd) representa os fãs do passado, enquanto Callie (Carrie Coon) é o centro do arco dramático (Crédito: divulgação / Sony Pictures)
Mr. Gary Grooberson (Paul Rudd) representa os fãs do passado, enquanto Callie (Carrie Coon) é o centro do arco dramático (Crédito: divulgação / Sony Pictures)

Paralelamente temos o núcleo adulto, protagonizado por Carrie Coon e Paul Rudd (‘Homem-Formiga‘), que conduzem a história por dois caminhos diferentes. O personagem de Rudd está lá para representar os fãs de longa data da franquia: ele sabe tudo sobre os Caça-Fantasmas, é um aficionado que conhece os objetos, mostra os comerciais para as crianças e que detém apreço e fascínio por toda a mitologia, oferecendo ao público esse olhar. 

Já Carrie Coon, por outro lado, é o centro do arco dramático da história: ela não conhece seu pai, o homem é um mistério para ela. Dessa forma, rejeita informações sobre ele, não querendo se envolver por se sentir negligenciada como filha. Então, ao dar de cara com esse mundo sobrenatural, ela prefere virar as costas. É uma mãe batalhadora e uma mulher que luta para oferecer mais aos seus filhos.

Assim, ‘Ghostbusters: Mais Além’ conta mais do que uma simples história de caça aos fantasmas, ele dialoga com diferentes gerações e em seu núcleo é sobre conciliação familiar, amor e (re)união.

Nostalgia e fanservice

‘Ghostbusters: Mais Além’ é, acima de tudo, uma sequência, então é preciso entendê-lo como tal e reconhecer que diversos elementos originais muito provavelmente irão aparecer simplesmente para entregar o andamento da história, como o veículo Ecto-1, o identificador de fantasmas, as armas de prótons e a armadilha. Nossos novos personagens são confrontados por esse mundo, e é justamente por meio dos objetos que eles podem explorá-lo e, eventualmente, caçar fantasmas.

Mas não é apenas esses objetos que estabelecem contato com o universo original.  Algumas coisas surgem sim para agradar os fãs, oferecer referências e criar um ambiente nostálgico. Em um mundo de remakes e reboots onde as franquias imperam em Hollywood, o quanto essas referências são interessantes? Existe um limite para a nostalgia?

Para Jason Reitman, naquele entrevista ao IGN, o filme original “era sobre os caça-fantasmas, o ‘Mais Além’ é sobre o resto de nós, é sobre nós descobrindo os caça-fantasmas, revivendo a nostalgia, mergulhando nesse mistério. É sobre uma família que herda essa fazenda e um legado que não sabem o que é, assim precisam descobri-lo, entender como os equipamentos funcionam, ligar o carro novamente, é sobre se reconectar com o passado.”

Jason Reitman foi a escolha perfeita para dirigir o novo filme (Crédito: divulgação / Sony Pictures)
Jason Reitman foi a escolha perfeita para dirigir o novo filme (Crédito: divulgação / Sony Pictures)

Dessa forma, o que o ‘Ghostbusters: Mais Além’ oferece para nós é muito mais do que o simples fanservice e referências deslocadas: há também a magia e o encantamento, além do brilho nos detalhes que os fãs de antigamente vão pegar na hora.

Não é exagero dizer que Jason Reitman usa e abusa dos elementos dos filmes antigos, os renovando e colocando em cena com gosto e brilho, entregando fanservices potentes justamente por possuírem significado, entrelaçados em uma trama emocionante e excitante.

Junto com o apuro técnico e um ótimo trabalho de design de produção, tudo isso embrulha uma narrativa de descoberta, amadurecimento e de conexão familiar com emoção e sinceridade, pintando um retrato íntimo no meio de uma grande aventura.

Em tempos de tantos blockbusters sem alma, feitos apenas para alimentar a indústria, ‘Ghostbusters: Mais Além’ é um filme sobre o passamento da tocha, um projeto que só poderia funcionar nas mãos de um cineasta que honra o legado de seu pai. O público vai vibrar e se emocionar, revivendo a franquia – agora com as portas abertas para o futuro e para um novo público.

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