Em ‘Bob Cuspe: Nós Não Gostamos de Gente’, Angeli é reverenciado Em ‘Bob Cuspe: Nós Não Gostamos de Gente’, Angeli é reverenciado

Em ‘Bob Cuspe: Nós Não Gostamos de Gente’, Angeli é reverenciado

Diretor César Cabral conversa com o Filmelier sobre a animação, que estreia nesta quinta, 11, nos cinemas

Matheus Mans   |  
11 de novembro de 2021 11:39
- Atualizado em 8 de dezembro de 2021 12:51

Foi em 2008 que o cineasta César Cabral entrou em contato com o mundo do cartunista Angeli, conhecido e sempre relembrado pela revista Chiclete com Banana. Na época, Cabral entrou em contato com ele para produzir o curta-metragem ‘Dossiê Rê Bordosa’. Foi um sucesso, premiado em festivais e reconhecido por pares. O relacionamento de César e Angeli se desenrolou até que o cartunista sugeriu: “Bob Cuspe daria um longa”.

A partir daí, outros projetos de Angeli e César surgiram — incluindo uma série para TV, ‘Angeli The Killer’ — até chegar há cinco anos, quando ‘Bob Cuspe: Nós Não Gostamos de Gente’ começou a tomar vida. Nesta quinta-feira, 11, é concretizada a consagração do projeto. Depois de passar pela 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e ser elogiado por público e crítica especializada, o filme enfim chega às salas de cinema.

Cena de Bob Cuspe
Bob Cuspe está no mundo apocalíptico da mente de Angeli tentando se manter vivo (Crédito: Divulgação/Vitrine Filmes)

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História de ‘Bob Cuspe: Nós Não Gostamos de Gente’

É interessante como o longa-metragem de César Cabral não segue o caminho óbvio de adaptações de quadrinhos. Ainda que seja bastante similar com o que foi visto no saboroso ‘A Cidade dos Piratas’, filme de Otto Guerra sobre os personagens da quadrinista Laerte, ‘Bob Cuspe: Nós Não Gostamos de Gente’ mistura de documentário com ficção em uma história que coloca Angeli em crise, como sempre, e um panorama de sua mente. 

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Como? Primeiramente, vemos Angeli — também em animação stop-motion, como todo o restante do filme — falando um pouco sobre a sua vida. Parece estar cansado, de saco cheio. Já não desenha mais personagens clássicos de seu trabalho, como Rê Bordosa e o próprio Bob Cuspe. Mudou seu traço, está diferente. Aos poucos, assim, vamos conhecendo melhor essa figura, seu trabalho e o atual momento de vida.

Logo depois, César nos coloca na mente de Angeli. É um cenário apocalíptico em que os Irmãos Kowalski (ambos com voz original de Paulo Miklos) estão sendo atacados por pequenos Eltons Johns — o pop contra o punk. De última hora, são salvos por Bob Cuspe (Milhem Cortaz) que, a partir dali, começa uma jornada de encontro com seu criador, Angeli. É um passeio pela mente devastada e árida do próprio Angeli. Um mergulho.

“Comecei a conversar com o Angeli, sentei com ele diversas vezes fazendo uma espécie de entrevista. Mas não queria fazer uma extensão do curta-metragem. Se o curta falava da Chiclete com Banana, da Rê Bordosa, vou agora mergulhar no autor que está com 60 anos, que tá repensando o seu trabalho”, conta o diretor ao Filmelier. “Foi um esquema mais íntimo de levar uma câmera, às vezes indo até sozinho, captando essas conversas”.

Produção

É visível, em cena, o esforço de produção de ‘Bob Cuspe’: um cuidado no stop-motion, com recriação divertida e criativa dos personagens e do próprio Angeli. Segundo César, foram cerca de 50 pessoas por três anos. “É um processo muito lento. A gente produzia cerca de um minuto de animação por mês por animador”, conta ele. “É algo feito quadro a quadro, foto a foto. Em um dia bom de animação, a gente produzia três segundos”.

O curioso é que toda a dublagem do personagem Angeli no longa-metragem, que se divide entre reconstruções das conversas reais e o encontro com seus personagens, foi feita a partir dessas entrevistas. “Não, não teve dublagem. Foram só trechos de coisas que ele falou e que gravamos”, conta César. Para os outros personagens, atores como Milhem Cortaz e Paulo Miklos. “O restante do elenco tinha a responsabilidade de interpretar personagens que já estavam na mente das pessoas e leitores”.

Cenário da animação

Com um filme tão cuidadoso e bem produzido como ‘Bob Cuspe: Nós Não Gostamos de Gente’ chegando aos cinemas, vem sempre aquela dúvida: qual o futuro da animação brasileira? Afinal, o cenário estava mais do que positivo nos últimos anos com títulos como ‘O Menino e o Mundo’, ‘Tito e os Pássaros’, ‘Napo’ e, agora, um longa-metragem em stop-motion que valoriza elementos da cultura popular (desculpa, Angeli!) brasileira.

César, que já tem um novo projeto engatilhado, só vê uma solução diante da estagnação do apoio ao audiovisual brasileiro: olhar para fora. “O complicado da animação é o custo de produção. Mas a animação tem um tempo muito largo de produção, com duração média de cinco anos”, diz. “O que construímos nos últimos 10 anos talvez indique um caminho de trabalhos em streaming, com séries, ou com parcerias internacionais. Eu, particularmente, estou perto desta última opção para o próximo filme”.

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