‘House of the Dragon’ é ‘Game of Thrones’, só que com outro nome ‘House of the Dragon’ é ‘Game of Thrones’, só que com outro nome

‘House of the Dragon’ é ‘Game of Thrones’, só que com outro nome

A nova série, baseada na obra de George R.R. Martin, coloca a HBO Max finalmente na briga contra Netflix, Disney e Amazon

22 de agosto de 2022 17:22
- Atualizado em 18 de outubro de 2022 14:59

Se você (ou alguém que faz parte da sua bolha nas redes sociais) minimamente consome séries, certamente foi impactado pela estreia de ‘A Casa do Dragão’ (mais conhecida pelo nome em inglês, ‘House of the Dragon’) neste domingo, 21 de agosto. Não há números oficiais de audiência, mas já podemos cravar: o prelúdio de ‘Game of Thrones’ foi um sucesso absoluto, colocando a HBO Max definitivamente em uma posição de vantagem na chamada “guerra do streaming”.

Tudo isso, curiosamente, com um produto pensado ainda para a velha TV linear.

Para se analisar o primeiro episódio de ‘House of the Dragon’ (e, em última instância, se fazer uma crítica), é preciso entender de onde a produção veio. ‘GoT’ (que vem sendo retroativamente chamada pela HBO Max brasileira de ‘A Guerra dos Tronos’) teve um final complicado. Sem o fechamento da saga pelo autor dos livros, George R.R. Martin, os produtores e roteiristas tiveram que determinar o seu próprio fim – e, no processo, acabaram desagradando os fãs.

Os cabelos loiros dos Targaryen estão de volta em House of the Dragon (crédito: divulgação / HBO)
Os cabelos loiros dos Targaryen estão de volta em ‘House of the Dragon’ (crédito: divulgação / HBO)

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Em paralelo, a HBO – ainda como uma divisão mais ou menos autônoma da então WarnerMedia – resolveu que precisava de uma série que mantivesse a franquia viva no médio prazo e, principalmente, não ficasse tão presa aos livros.

Nascia assim o embrião de ‘House of the Dragon’, que foi pensada para ser uma continuação da produção original, ainda que se passando 200 anos antes dela. Exatamente por isso, para um dos postos de produtor executivo foi chamado Miguel Sapochnik, que dirigiu alguns episódios de ‘A Guerra dos Tronos’ – incluindo o elogiado ‘The Long Night’, que foi o ápice do conflito daquela história.

Déjà vu

Ao se assistir à estreia da nova série, ‘The Heirs of the Dragon’, isso fica muito claro. Dirigido justamente por Sapochnik, soa como se fosse mais um episódio da saga dos Lannister, Stark e Targaryen que já conhecemos.

Dá para dizer, aliás, que se alguém dormiu em 19 de maio de 2019 e acordou apenas na última semana, já em 2022, nem sentiria a diferença de um “dominGoT” para o outro.

O que fez a produção da HBO famosa está lá: intrigas políticas, disputas familiares, sangue e cenas picantes. O design de produção, aliás, não faz muito esforço para parecer que os eventos se passam quase dois séculos antes da série original – tirando detalhes aqui e ali, é como se a tecnologia e a cultura tivessem ficados parados pelos 200 anos seguintes. Até a trilha sonora traz os acordes do tema principal de ‘Game of Thrones’, para deixar bem claro onde estamos.

O elenco, sim, traz rostos novos – incluindo o de atores conhecidos por outras produções, como Matt Smith (‘The Crown’ e ‘Doctor Who’) e Rhys Ifans (‘Um Lugar Chamado Notting Hill‘), mas a presença de Milly Alcock como a princesa Rhaenyra Targaryen em cena nos faz perguntar, em alguns momentos, se não estamos vendo a própria Emilia Clarke pelos idos de 2011.

Se você estiver um pouco desatento, poderá confundir Rhaenyra Targaryen com Daenerys (crédito: divulgação / HBO)
Se você estiver um pouco desatento, poderá confundir Rhaenyra Targaryen com Daenerys (crédito: divulgação / HBO)

Tudo para manter esse ar de que estamos nesse mesmo lugar familiar que conhecemos, apelando para a nostalgia dos fãs.

Juntando tudo, não há como ‘House of the Dragon’ dar errado. É ‘Game of Thrones’ em sua essência, só que com os tataravós dos personagens com os quais o público se acostumou – e fazendo-os vibrar a cada referência.

Ok, dá um medo sobre o fim, né? Realmente. Mas podemos dizer que a HBO aprendeu com o erro anterior: se George R.R. Martin não terminou a história na qual a nova série é baseada (o escritor prometeu um segundo volume para ‘Fogo & Sangue’, no qual a produção se inspira, e ainda não lançou), ele próprio ocupa o posto de showrunner ao lado de Ryan Condal. Não deixa de ser um trunfo.

A disputa pelo Trono de Ferro

Agora, é curioso ver o papel da HBO Max nesse sucesso.

Quando ‘House of the Dragon’ começou a ser pensado, em 2018, o que viria a ser a HBO Max era apenas uma ideia. A HBO era uma divisão da então WarnerMedia que atuava predominantemente no mercado de TV paga, com HBO GO e o HBO Now apenas como um “plus a mais”, como diria o filósofo. Dessa forma, o derivado de ‘Game of Thrones’ consistia em uma aposta para manter o canal em alta nas noites de domingo após o encerramento da série principal.

Muita coisa mudou desde então. O streaming da Warner tomou forma e foi batizado de HBO Max, adotando o nome justamente dos canais pagos para pegar emprestada essa marca mundial, reconhecida pela sua qualidade – e, em parte, por ‘GoT’.

Aos poucos, a HBO foi sendo integrada de forma mais ampla ao resto do grupo – que saiu do guarda-chuva do grupo AT&T para se fundir com a Discovery, formando a Warner Bros. Discovery. O streaming se tornou o carro-chefe, ainda que com idas e vindas sobre a melhor forma de trabalhar esse mercado de produto direto ao consumidor.

A Disney pode ter conquistado o "Trono de Ferro" de líder do streaming, mas a Warner Bros. Discovery está de olho (crédito: divulgação / HBO)
A Disney pode ter conquistado o “Trono de Ferro” de líder do streaming, mas a Warner Bros. Discovery está de olho (crédito: divulgação / HBO)

Quando ‘House of the Dragon’ finalmente é lançada, não se trata mais sobre TV por assinatura. Ou sobre canais lineares. Ou até mesmo sobre a “velha” HBO. Não. É sobre ter um produto, uma propriedade intelectual, que engaje e traga os holofotes para a HBO Max. Que traga mais espectadores para a plataforma de streaming em um momento no qual esse mercado está sob a suspeição dos investidores – justamente pelo endividamento necessário para se criar produções tão grandiosas.

Dizer que foi por acaso é forte, mas, na guerra do streaming, a Warner Bros. Discovery conseguiu ter nas mãos – em um momento delicado – um dos seus maiores trunfos para entrar na arena contra Netflix, Disney+ e Prime Video: novos episódios de ‘Game of Thrones’, mesmo que não tenha esse nome no título.

Em um momento no qual a Disney conquistou o “Trono de Ferro” do streaming, superando o número total de assinantes da Netflix, a Warner Bros. Discovery finalmente tem a sua melhor arma para essa batalha.

E você achando que Yakko, Wakko e Dot, os Irmãos Warner, eram malucos, não é mesmo?

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