'John Wick 4' é o mais grandioso, longo, exagerado e divertido da franquia

Keanu Reeves e Chad Stahelski se desdobram para colocar John Wick em situações cada vez mais improváveis e divertidas

Matheus Mans | 14/03/2023 às 15:13 - Atualizado em: 15/03/2023 às 19:29


Poucas franquias se saíram tão bem com suas sequências como 'John Wick'. Tudo começou com um homem revoltado com a morte de seu cachorro e, num piscar de olhos, os filmes seguintes trouxeram elementos de sociedades assassinas, traição, cultura oriental e por aí vai. Agora, seguindo a tradição, 'John Wick 4: Baba Yaga' é, inegavelmente, a apoteose de uma franquia de ação que não poderia ter dado mais certo, com sua história mais ousada e divertida.

Estreia de quinta-feira, 23, o longa-metragem mostra John (Keanu Reeves) novamente como um pária dentro do universo da Alta Cúpula, essa irmandade que comanda as diferentes famílias de assassinos espalhadas pelo mundo. O protagonista sequer pode contar com o apoio certeiro de Winston (Ian McShane), que o traiu no último filme, e precisará se virar como pode para matar pessoas, sobreviver e, quem sabe, ganhar o direito de ter uma vida comum.

'John Wick 4' é um bom filme?

Um filme com muitos exageros...

É uma história que anseia desesperadamente em ser maior, em todos os sentidos, do que os filmes que a antecedem. A primeira hipérbole que surge é a mais fácil de perceber: tempo. Há quase uma progressão geométrica na duração das sequências, começando com 'De Volta ao Jogo' com 101 minutos, seguindo com 'Um Novo Dia para Matar' com 122 minutos, pulando para 130 minutos com 'Parabellum' e alcançando 169 minutos com 'John Wick 4: Baba Yaga'.

Cena de John Wick 4 em Paris
No novo filme, John vai para países como França, Alemanha e Japão (Crédito: Paris Filmes)

Nem é preciso perder muito tempo, aqui, falando como essa duração é absolutamente exagerada. Como uma espécie de maldição que atingiu os cinemas nos últimos anos, com vários filmes passando facilmente das três horas de duração, o diretor Chad Stahelski (por trás de todos os filmes da franquia) parece ter a necessidade e urgência de chegar perto dessa marca. Infla o filme, com muitas subtramas desnecessárias, deixando-o levemente cansativo.

Toda a subtrama envolvendo o astro Scott Adkins ('Implacável'), irreconhecível como o gângster Killa, poderia ser retirada do filme e não haveria decréscimo algum de tudo o que foi contado na história. O começo do filme, em cenas que envolvem o sempre excelente Hiroyuki Sanada como Koji, também é um tanto quanto inchado. No final das contas, 'John Wick 4: Baba Yaga' poderia ter, facilmente, uma hora a menos e a história poderia continuar parecida.

Além disso, Stahelski exagera tanto nas situações envolvendo Wick que o personagem, de uma vez por todas, se torna uma espécie de divindade. Cai do quinto andar de um prédio, bate na lataria de um carro e sai andando como se nada tivesse acontecido. Na cena mais mentirosa não só do filme, mas de toda a franquia, ele rola mais de 200 degraus e sai ileso. Essa falta de consequência -- palavra tão importante do filme -- acaba tirando o aspecto humano da coisa.

Mas, também, com muitos acertos

Mas, passados esses problemas evidentes e centrais de 'John Wick 4: Baba Yaga', temos um filme que preza, principalmente, pela diversão. Stahelski, com roteiro de Shay Hatten e Michael Finch, mostra claramente que adora todo o universo construído na franquia: ele explora ao máximo a cultura da Alta Cúpula neste filme e mostra como pode ser divertido falar de sociedades de assassinos com suas regras próprias assim como é divertido falar de heróis.

Cena de John Wick 4 Baba Yaga
Em 'John Wick 4', personagem continua enfrentando seu passado e seus demônios (Crédito: Paris Filmes)

Com isso, o filme faz algo importante: avança. Assim como aconteceu em 'Um Novo Dia para Matar' e 'Parabellum', há uma preocupação que a história não apenas ande em círculos com cenas de ação inacreditáveis, como também avance na construção desse universo tão particular. Isso é essencial para que as pessoas saiam satisfeitas da exibição dos filmes de 'John Wick': percebe-se como a história está avançando, mesmo que lentamente. Há algo a ser contado aqui.

Também é preciso acrescentar como a franquia sabe criar personagens icônicos como poucos. Os vilões daqui (interpretados por Donnie Yen, Bill Skarsgård e Adkins) são tão particulares, excêntricos e estranhos que lembram os vilões daqueles filmes mais leves e divertidos de James Bond: sabemos que são figuras perigosas antes mesmo dos primeiros socos, chutes e ameaças. Isso tudo, no final, só contribui ainda mais para a criação desse bom universo.

Mas, enfim, vamos ao que interessa e o que faz com que as pessoas compareçam no cinema: as cenas de ação. 'John Wick 4: Baba Yaga' também é um tanto quanto inflado nesse sentido (confesso que fiquei cansado com a cena da escadaria, por exemplo), mas, em compensação, conta com algumas das cenas mais espetaculares não só da franquia, mas do cinema de ação contemporâneo. Em três momentos, confesso, tive vontade de me levantar e aplaudir.

Difícil não segurar a empolgação, por exemplo (e sem spoilers!), com o enfrentamento entre Koji e o personagem cego Caine, de Donnie Yen). A loucura insana do Arco do Triunfo mostra toda a capacidade de Stahelski e de Reeves em tomar conta de um ambiente. É surreal de tão divertida (ainda que, novamente, um pouco longa demais). E, por fim, uma sequência dentro de uma casa, com a câmera posicionada em lugar improvável, é uma das melhores do ano.

Há, também, uma seleção muito especial de atores. Skarsgård é o único que não pega no pesado durante as cenas de ação, mas diverte como uma francês estranhíssimo e ameaçador -- e que comanda, no filme, a Alta Cúpula com poderes totais. O destaque, porém, fica para Donnie Yen ('Rogue One'), que conta com cenas de ação que trazem o melhor do kung-fu para dentro desse universo com o acréscimo de que, novamente, ele faz um personagem cego.

'John Wick 4', dessa forma, consegue fazer o que todos os seus antecessores fizeram: se confirmar como um bom filme e, talvez, já dê para afirmar que é o melhor filme de ação do ano. Muito difícil arriscar que outro filme consiga fazer o que foi feito aqui: cenas de ação excelentes, dentro de um universo que convence e diverte, e ainda com um ator como protagonista que, mesmo com todas as falhas como intérprete de drama, deixa qualquer um torcendo por ele.

Qual o futuro depois de 'John Wick 4'?

No final, fica a sensação de que a franquia chega ao fim, da melhor forma possível, ainda que pequenas brechas possam fazer com que a história volte no futuro -- vale lembrar, aliás, que uma série derivada já está sendo produzida. A torcida é que os produtores tenham coragem e realmente coloquem um ponto final em tudo isso. Dizem que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, certo? Mas, com John Wick, caiu quatro vezes. Pra que arriscar na quinta?

Fica apenas a torcida para que as futuras produções derivadas bebam da fonte de 'John Wick' e continuem aproveitando esse universo tão bem, com cenas de ação que deixam até aquela pessoa mais reticente de boca aberta.

'John Wick 4: Baba Yaga' chega aos cinemas nesta quinta-feira, 16 de março. Clique aqui para comprar ingressos.

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Matheus Mans
Matheus Mans

Jornalista especializado em cultura, gastronomia e tecnologia, cobrindo essas áreas desde 2015 em veículos como Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites. Já participou de júris de festivais e hoje é membro votante da On-line Film Critics Society. Hoje, é editor do Filmelier.

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