‘Pânico 6’ ainda diverte, mesmo sem criatividade ‘Pânico 6’ ainda diverte, mesmo sem criatividade

‘Pânico 6’ ainda diverte, mesmo sem criatividade

Histórias e elementos começam a se repetir à exaustão e, assim, ‘Pânico 6’ indica que futuro da franquia pode ser preocupante

Matheus Mans   |  
8 de março de 2023 06:00

Pânico‘ é, por essência, uma franquia irônica. Desde que Wes Craven colocou o primeiro filme nos cinemas, ainda nos anos 1990, havia o desejo de ser uma história de terror por si só, mas ainda assim ri dos chavões e dos clichês das produções que fizeram tanto sucesso uma década antes, como ‘Sexta-Feira 13‘ e ‘A Hora do Pesadelo‘. Essa ideia foi se desenvolvendo com altos e baixos até chegar ao seu sexto capítulo com ‘Pânico VI‘, estreia desta quinta-feira, 9. Mas a dúvida que chega é: será que ainda há algo para ser satirizado? Ou será que a franquia virou paródia de si própria?

Dirigido por Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett (a dupla por trás do filme anterior), o longa-metragem continua com a ideia de renovar a franquia, mas sem deixar pra trás o que aconteceu nos outros quatro filmes. Personagens queridos do público ainda estão ali, mas novos chegam. É o caso de Sam (Melissa Barrera) e Tara (Jenna Ortega), as irmãs que viraram protagonistas no recente ‘Pânico‘ e já caíram nas graças do público. Elas sobreviveram aos assassinatos em Woodsboro e, agora, estão em Nova York. Mas será que o medo e a violência não podem acompanhar a dupla?

Publicidade

É, assim, a primeira vez que a franquia ‘Pânico’ sai da cidadezinha ficcional da costa leste dos Estados Unidos e parte para o outro lado do país. É um novo cenário, populoso e muito vibrante, que abre novas possibilidades à franquia.

O terror sai de Woodsboro e chega em Nova York (Crédito: Paramount Pictures)

‘Pânico 6’ é um bom filme?

Esse desejo de fazer um filme diferente do usual é refletido, principalmente, na forma que os diretores lidam com o assassino. Ainda que o Pânico seja sempre violento e intenso, o novo filme deixa tudo em cores ainda mais vibrantes. Ele parece não ter medo de nada, passando por cima dos outros da maneira que for — com inúmeras estocadas de faca e até com tiros de espingarda. A finalidade dele é matar, não importa como. Isso acaba contribuindo para um ritmo bem diferente do que estamos acostumados: com dez minutos de filme, por exemplo, vemos três mortes na tela.

Assim como Nova York é uma cidade que nunca dorme, com pessoas andando freneticamente nas ruas o tempo todo, o sexto capítulo também é um filme de terror frenético. Isso, sem dúvidas, deve deixar aquele fã que gosta de ser surpreendido mais animado. É legal ver o vilão sendo ainda mais ativo, inconveniente, difícil de lidar. A cena da escada é um exemplo claro disso: a morte pela morte, a violência como resultado da violência. Interessante visão de Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett, que conseguiram colocar uma visão particular deles próprios dentro da franquia.

Com isso, essa retomada de ‘Pânico’ deixa, em partes, de ser apenas uma eterna homenagem aos outros slashers. Não só há mais personalidade neste filme aqui, como também as personagens de Tara e Sam passam a desenvolver ainda mais o universo criado no filme anterior. Assim como ‘Creed III’ deixou o passado para trás, ‘Pânico VI’ parece estar correndo atrás disso também. Isso, afinal, é também pensar no futuro: daqui 30 anos, quando a Paramount Pictures quiser ganhar mais um dinheiro com mais filmes da franquia, vai precisar da nostalgia dos fãs de hoje, não?

Mesmo com acertos, ‘Pânico 6’ traz pontos de preocupação

No entanto, apesar do bom resultado do filme e de ser mais uma certeza de boa bilheteria e de sucesso de público, ‘Pânico VI’ traz algo que ‘Pânico III’ já apresentou: cansaço. Como falamos lá no começo do texto, Wes Craven pensou na franquia como um cinema de mão dupla. Depois de bater, afaga. Afinal, os filmes do assassino mascarado riem dos clichês do gênero e brincam com os signos usados exaustivamente pelo cinema de horror. Com um cinema cada vez mais pasteurizado, ‘Pânico VI’ parece ter dificuldades de fazer graça com certas coisas, mesmo quando ri de si próprio.

Oras, ‘Pânico’, lançado ano passado, achou um filão bom para ser satirizado: as “requências”, que são essa mistura de reboot com sequência — que começou de fato com ‘Star Wars: O Despertar da Força’ e se expandiu para várias franquias. Agora, parece que não há muito mais a rir por aqui. ‘Pânico VI’ apenas ri do filme anterior e se referencia o tempo todo. Isso, é claro, é algo que acontece consistentemente desde ‘Pânico II’ e a franquia ficcional de filmes ‘Stab’. Mas, agora, isso deixou de ser uma piscadela para o público e se tornou a essência de ‘Pânico’: se autorreferenciar.

Será que a franquia ‘Pânico’ tem mais história para contar? Fica a dúvida (Crédito: Paramount Pictures)

Fica a dúvida de como o vindouro ‘Pânico VII’, que já começará a ser filmado este ano e deve chegar aos cinemas em 2024 (no mais tardar, 2025), vai lidar com esse ciclo que começou com ‘Pânico’ e que foi intensificado com ‘Pânico VI’. Se Bettinelli-Olpin e Gillett, os pais dessa nova franquia, não tiverem criatividade com o que vai se suceder, fica difícil imaginar como um próximo filme vai sair da zona do “divertidinho” e se tornar memorável. Mas enfim: isso é problema do ‘Pânico’ do futuro. O atual, que está nos cinemas, ainda consegue ser um passatempo mais do que agradável.

Poderiam ter explorado mais a cidade de Nova York? Com certeza. Fiquei sedento por uma cena do Pânico na Times Square, por exemplo. Podia ter um final um pouco mais amarrado? Também. Perceba que algumas pontas ficam soltas, principalmente quando pensa nas primeiras cenas do filme. E, pra finalizar, ‘Pânico VI’ também poderia ter uns 20 minutos a menos. Acaba se tornando cansativo no terceiro ato. Mas tudo bem: é um filme divertidíssimo e mostra que, mesmo 30 anos depois, uma franquia ainda pode funcionar. Eu, cá entre nós, já estou preparado para ‘Pânico VII’.

‘Pânico VI’ estreia nos cinemas brasileiros já nesta quinta-feira, 9 de março. Clique aqui para comprar ingressos.

Siga o Filmelier no FacebookTwitterInstagram e TikTok.