‘Não se Preocupe, Querida’ é um bom filme atormentado pelos bastidores ‘Não se Preocupe, Querida’ é um bom filme atormentado pelos bastidores

‘Não se Preocupe, Querida’ é um bom filme atormentado pelos bastidores

Fofocas sobre a gravação do longa-metragem acabam se tornando mais interessantes do que o filme em si — uma pena, já que o longa traz algumas boas discussões

Matheus Mans   |  
21 de setembro de 2022 17:46
- Atualizado em 7 de julho de 2023 16:56

Quando passou no Festival de Veneza, um dos mais importantes eventos de cinema do mundo, ‘Não se Preocupe, Querida‘ foi menos comentado sobre a qualidade do filme e mais sobre os atritos do elenco.

Dispostos em cinco cadeiras, que pareciam atoladas de espinhos de tão desconfortáveis que estavam, Olivia Wilde, Chris Pine, Harry Styles, Gemma Chan, Florence Pugh e Nick Kroll praticamente não interagiram durante a première no evento. Ainda rolou uma polêmica sobre um possível cuspe de Styles em direção à Pine. Isso sem falar que foi o único momento que contou com a participação da protagonista Florence Pugh, que se ausentou da coletiva de imprensa e das entrevistas para divulgação do filme.

Agora, com a estreia do longa-metragem no Brasil nesta quinta-feira, 22, dá para dizer que o filme não é ruim — longe disso. Apesar de ser zero original, ruminando conceitos já visto em produções como ‘WandaVision’, ‘Mulheres Perfeitas‘ e até mesmo ‘Show de Truman‘, ‘Não se Preocupe, Querida’ conta com bom ritmo, uma história interessante, com uma mensagem bem definida e, acima de tudo, uma grande atuação de Florence Pugh (‘Midsommar‘). A história de uma estranha comunidade dos anos 1950, em que uma mulher começa a questionar tudo que existe ao seu redor e a realidade em que vive, tem claros contornos de comentário social, falando sobre opressão e papel da mulher.

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No entanto, mesmo com seus méritos, tenha certeza: o que vai permanecer, na memória imortalizada que o cinema sempre proporciona, são os rumores e boatos de tudo que aconteceu nos bastidores das gravações e pré-produção.

Bastidores de ‘Não se Preocupe, Querida’

Tudo começou com a escalação de elenco. Primeiramente, Dakota Johnson (‘50 Tons de Cinza‘) saiu do projeto por conflitos de agenda, sendo substituída por KiKi Layne. Até aí tudo bem, faz parte do jogo. O problema vem com Shia LaBeouf (‘Honey Boy’). Ele, que era protagonista ao lado de Pugh, saiu do filme após o início das gravações, quando a produção foi interrompida pela contaminação do set por covid-19. Wilde disse que era para criar um ambiente seguro nas gravações e que o ator não colaborava para o ambiente seguro e positivo de filmagem. E aí que as coisas complicam: LaBeouf, que foi acusado recentemente de violência sexual, comprovou que as coisas não foram assim.

Exibição de Não se Preocupe, Querida em Veneza
Climão em Veneza apenas reforçou que as coisas não foram bem nos bastidores do filme (Crédito: Reprodução)

Ele saiu do projeto, na verdade, por conflito de agenda. Chegou a exibir um vídeo com a própria diretora pedindo para que ele ficasse e reconsiderasse, desmentindo o que ela vinha dizendo até então. Criou-se o primeiro grande climão.

Depois, já com Harry Styles no elenco, surgiu um elemento que quase sempre causa problemas nos sets de filmagem: paixão. Durante as gravações, Wilde se divorciou do marido, o ator Jason Sudeikis, e logo engatou esse novo romance. O processo com o astro de ‘Ted Lasso’ logo viria a se tornar tumultuado, com a entrega de documentação da guarda dos filhos no meio de um painel de ‘Não se Preocupe, Querida’ da CinemaCon. Além disso, esse amor entre Wilde e Styles foi o bastante, segundo rumores, para desagradar Pugh. A atriz teria se desentendido com a diretora por conta de tratamento diferenciado e por ter assumido funções que não eram suas por conta do distanciamento de Wilde.

Vale dizer que essas informações são fruto de boatos e de comentários não identificados de pessoas ligadas ao set. Mas a falta de qualquer divulgação do filme por parte de Pugh, muito ativa nas redes, causa estranheza. Além disso, quando as gravações chegaram ao fim, a protagonista agradeceu a todos os envolvidos, menos Styles e Olivia Wilde.

Por fim, colocando mais pimenta nessa história de bastidores, está o Festival de Veneza. Além de todo o desconforto visível do elenco e a ausência de Florence Pugh na coletiva e no tapete vermelho, um vídeo começou a circular nas redes sociais com Harry Styles supostamente cuspindo em Chris Pine. Obviamente, as assessorias dos atores negaram o ocorrido. Mas, cá entre nós, o vídeo é realmente estranho: Pine para de aplaudir repentinamente, olha para baixo incrédulo e dá uma risada. Enquanto isso, Styles realmente faz um movimento estranho com a boca. Nunca saberemos.

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E o filme?

Mas vamos ao que interessa: o filme. Ainda que esses bastidores atribulados deem a sensação de que o filme será uma repleta bagunça, não é isso que sentimos na telona. ‘Não se Preocupe, Querida’ tem problemas, é claro. Primeiramente, a premissa bastante batida: a releitura do Mito da Caverna de Platão, com uma pessoa observando sombras e tentando descobrir o que há por trás delas. ‘1984’, ‘Admirável Mundo Novo’, ‘O Show de Truman’, ‘Mulheres Perfeitas’ e até mesmo ‘Midsommar’, filme também protagonizado por Florence Pugh, flertam com a essência dessa história já mitológica.

As surpresas da trama não são realmente surpreendentes e a história se torna muito familiar.

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Além disso, Harry Styles realmente não está bem na produção. Como ator, ele apenas reforça como é um cantor completo e que deveria focar nessa carreira. Ele não consegue levar intensidade para seu personagem, tampouco fazer com que ele seja crível na tela. Um problema e tanto, já que o andamento da trama e as emoções nascem a partir do que seu personagem faz ou deixa de fazer.

Gemma Chan, que já tinha mostrado apatia em ‘Eternos’, repete uma performance opaca, quase sem vida. Pelo menos não prejudica tanto o filme, já que é uma coadjuvante menor.

Pelo menos os problemas ficam aí, nessas atuações medianas e na falta de criatividade. Em termos de ritmo, ‘Não se Preocupe, Querida’ é razoável, principalmente por conta de seu final enérgico e potente, escancarando uma mensagem que vinha sendo trabalhada com pouca delicadeza. Causa impacto, porém.

O melhor de tudo, no final das contas, é Florence Pugh: a atriz, que mostra bom desempenho desde ‘Lady Macbeth’, só comprova que é um dos grandes nomes de Hollywood. Sua atuação é potente, repleta de emoção e de camadas. Merecia um filme menos caótico e não tão eclipsado pelos bastidores — afinal, é evidente que ‘Não se Preocupe, Querida’ será eternizado pelos rumores e não por suas qualidades como filme.

E isso, a partir de uma história com pontos positivos, é uma pena.

‘Não se Preocupe, Querida’ está nos cinemas. Se você quiser saber mais sobre o filme ou encontrar o link para comprar ingressos, clique aqui.

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