‘Napoleão’: verdades e mentiras no filme com Joaquin Phoenix

Ridley Scott não está feliz. O cineasta, que dirigiu filmes como Alien: O Oitavo Passageiro e Gladiador, ficou bravo com as críticas de historiadores sobre a acurácia histórica de seu novo filme, o épico Napoleão, que estreia nesta quinta-feira, 23 de novembro. Chegou a dizer para um historiador, que o criticou, “arranjar algo pra fazer”. Joaquin Phoenix, o protagonista que interpreta o imperador francês, também saiu em sua defesa e disse que “se você quer realmente entender Napoleão, então provavelmente deveria estudar e ler por conta própria”, já que esta é a visão de Ridley Scott.

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Mas, então, o que de fato é verdade e o que é mentira no novo filme? A seguir, detalhamos o que é fato e o que é fake em Napoleão, com base em uma entrevista para o site Time Out do professor Michael Broers, da Universidade de Oxford, um dos maiores especialistas em Napoleão no mundo, e em informações retiradas do livro de Adam Zamoyski. Vale o aviso: apesar de falarmos de fatos históricos centenários, o conteúdo pode ser considerado spoiler por alguns.

Verdades e mentiras de Napoleão, de Ridley Scott

Napoleão assistiu Maria Antonieta ser decapitada?

Logo em uma das primeiras cenas de Napoleão, vemos o personagem de Joaquin Phoenix assistindo a um evento histórico que mudou sua vida: a decapitação de Maria Antonieta durante a Revolução Francesa. No entanto, isso não foi bem assim — e é um dos pontos que mais irritou Dan Snow, o historiador que irritou de vez Ridley Scott.

O fato é que Napoleão não estava nem sequer perto da Place de la Révolution naquele momento. “Ele não estava na execução. Estava de serviço na guarnição no sul naquele momento”, observa Broers ao Time Out. O historiador salienta que Napoleão estava em Paris para ver Maria Antonieta e Luís XVI serem presos em 1792. “Isso causou-lhe uma impressão indelével – ele estava aterrorizado por esta multidão raivosa – então Ridley está reunindo duas coisas lá”.

Napoleão realmente se destacou no Cerco de Toulon?

Outro evento emblemático no “nascimento” de Napoleão como líder militar e político foi o Cerco de Toulon, quando o francês mostrou uma perícia inacreditável em estratégia militar e conseguiu recuperar essa região dos ingleses.

Na biografia, é destacado como ele planejou uma estratégia inteligente assumindo o controle de uma colina próxima e usando-a como ponto de vista para disparar contra as forças britânicas. Com isso, ele foi promovido a general de brigada e assumiu a liderança de tropas francesas que estavam na Itália em 1796. Um salto e tanto para Napoleão.

O imperador francês realmente disparou canhões contra as pirâmides?

Um dos momentos mais emblemáticos de Napoleão é quando ele dispara balas de canhão contra as pirâmides, na tentativa de “libertar” o Egito — ou seria conquistar? O fato é que esse é outro ponto que irritou Snow em sua análise.

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No entanto, há uma divergência no meio acadêmico se soldados franceses não atiraram no nariz da Esfinge — algo que é sustentado por Broers, o consultor do filme. “Eu disse a Ridley: ‘Vamos, atire no topo das pirâmides?'”, lembra Broers ao site. “Aprendi que não estávamos fazendo um documentário, estávamos fazendo um filme”.

Vale acrescentar que, mesmo vitorioso, os soldados pereceram de vítimas da peste bubônica e foram derrotados pelos britânicos em uma batalha naval. Assim, Napoleão teve que deixar o Egito. Por isso, historiadores salientam que essa batalha foi mais uma vitória cultural, já que os franceses reivindicaram vários artefatos, como a Pedra de Roseta.

Napoleão era realmente pouco hábil sexualmente?

Um dos retratos mais marcantes na biografia comandada por Ridley Scott é como Napoleão não consegue satisfazer sua esposa, Josephine. Ele não só aparenta ter modos estranhos, como também a deixa sonolenta em qualquer momento. Segundo historiadores, esse retrato é preciso por mostrar como ele tinha pouca experiência na época.

“Sabemos que era inexperiente sexualmente quando conheceu Josephine. Ele contou às pessoas e isso está em suas memórias. Ele estava inseguro com Josephine, mas não com qualquer outra coisa que eu possa imaginar”, diz Broers.

O relacionamento dele com Josephine foi realmente tão intenso?

Sim, Josephine (Vanessa Kirby, deslumbrante) foi realmente o grande amor da vida de Napoleão. Ela ficou viúva depois que seu marido foi guilhotinado durante a Revolução Francesa e se casou com Napoleão em 1796. Ficaram juntos até 1810, quando Napoleão anulou o casamento porque ela não podia lhe dar filhos. Durante toda a vida, ela escreveu muitas cartas românticas famosas a Napoleão e os dois se amaram, mesmo separados, até a morte de Josephine.

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No entanto, historiadores acrescentam que algumas liberdades foram tomadas aqui. “Compreensivelmente, o filme evita a precisão histórica estrita na representação de Josephine“, diz Broers, ressaltando a fisicalidade da imperatriz. “Seus dentes eram quase inexistentes por conta do costume de mascar cana-de-açúcar quando estava no Caribe”.

Joaquin Phoenix está parecido com a descrições de Napoleão da época?

Ao Time Out, Broers elogiou a atuação de Joaquin Phoenix, principalmente no que diz respeito à criação física e gestual do personagem — que, convenhamos, é um dos pontos altos do longa-metragem do cineasta Ridley Scott.

“Napoleão era multifacetado, mas não complicado, e achei que ele captou isso muito bem”, explica o historiador ao site. Broers ainda destaca que o francês também foi “um provocador incorrigível” e o ator, diz ele, “capta o senso de ironia de Napoleão e sua capacidade de rir de si mesmo quando estabelece a lei”.

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