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‘O Diabo Branco’: "Estamos buscando a nossa voz", diz diretor do terror argentino
Longa-metragem conta a história de amigos, numa viagem pelo interior da Argentina, perseguidos por uma assombração local
Matheus Mans | 09/08/2021 às 11:39 - Atualizado em: 10/08/2021 às 11:41
O cinema latino-americano de terror está engatinhando. Ainda que Zé do Caixão tenha desbravado o gênero lá pelos idos dos anos 1960, depois o horror latino foi praticamente deixado de lado. Agora, desde os anos 2010, voltou com força: cineastas jovens começam a experimentar linguagens, narrativas e estéticas -- é o caso do argentino estreante Ignacio Rogers.
- Leia também: ‘Abe’: “A mensagem é ser você mesmo”, diz diretor de filme com Noah Schnapp e Seu Jorge
Ator de filmes como ‘Estuários’ e ‘O Crítico’, o argentino pulou para trás das câmeras já em 2009. Desde então, comandou curtas e documentários que, infelizmente, não chegaram ao circuito comercial brasileiro. Agora, ele surpreende com um terror consistente. É ‘O Diabo Branco’, filme que chegou às salas de cinemas espalhados pelo Brasil na última quinta, 5.
Conciso e esteticamente ousado, o longa-metragem conta a história de um grupo de amigos que vai viajar pelo interior da Argentina, onde encontram um homem misterioso e se deparam com uma antiga lenda que assombra o local. Há tintas do cinema slasher americano, mas também há referências claras de produções mais recentes como ‘A Bruxa’.

Mas como Ignacio Rogers chegou no cinema de horror? “No começo, não sabia que seria um filme de terror. Eu queria trabalhar com os sonhos e pensei em escrever um curta-metragem”, conta ele ao Filmelier. “E, sem me dar conta, os sonhos se transformaram em pesadelos. Acabou sendo natural. Afinal, sempre gostei muito do cinema de gênero, do terror e da fantasia”.
Desenvolvimento de ‘O Diabo Branco’
Ao longo do filme, percebe-se como Ignacio encontrou referências no cinemão americano para construir sua história. Vai desde os personagens de inteligência mais limitada, que agem da maneira mais burra possível e não conseguem escapar de quem quer matá-los, até a forma que a violência surge -- ainda que com um caráter mais gore do que o esperado.
No entanto, nas entrelinhas, surge algo diferente. Há um ritmo desacelerado, inserções do folclore regional, a inserção da natureza -- que faz parte da criação e raízes da América do Sul. Ignacio tem uma base de trama quase toda vinda do cinema americano, mas com toques que mostram a origem argentina daquela história. Tudo isso com muito medo.
“Eu gosto mais da construção do terror do que do medo explícito. Queria algo um pouco diferente com esse filme. A primeira versão do roteiro era muito mais experimental”, conta o diretor argentino. “O suspense, a antecipação de que vai acontecer algo terrível cria a ambientação do terror. Você sabe que vai acontecer algo horrível com os personagens”.
Além disso, há muita influência dos personagens, interpretados por atores como Ezequiel Díaz (‘Tenho Medo Toureiro’), Violeta Urtizberea (‘Um Namorado para Minha Esposa’), Julián Tello (‘Paulina’), Martina Juncadella (‘Habi, a Estrangeira’), William Prociuk (‘O Anjo’) e Nicola Siri (‘A Voz do Silêncio’). Ignacio conta que a experiência como ator ajudou no processo.
“Para escrever o roteiro, como ator, tenho ferramentas para fazer os diálogos mais naturais”, explica. “É uma coisa quase musical, de afinação. E também tem a relação com elenco. Quando um ator entende perfeitamente o que tem que fazer, e tem ferramentas interpretativas, tudo sai bem. O ator precisa se sentir cômodo para interpretar o personagem. É preciso ser muito perceptível com todo o elenco em cena”.
Terror latino-americano
Agora, Ignacio Rogers engrossa o coro desses cineastas latinos que mergulham cada vez mais no “cinema de gênero”. Por aqui no Brasil, por exemplo, nomes como Gabriela Amaral Almeida, Juliana Rojas, Marco Dutra e Rodrigo Aragão estão mostrando a força do terror latino. Rogers, no entanto, não se coloca em caixotes do cinema de fantasia e horror.
Seu próximo projeto, para fugir do esperado, é uma comédia baseada em um roteiro que Ignacio escreveu até mesmo antes de ‘O Diabo Branco’.
Mas ele não mede palavras para elogiar o cinema de terror da região, nem descarta outros filmes do gênero. “Conseguiremos fazer muitas coisas novas. As influências do cinema de terror que vimos a vida inteira são estrangeiras. E o cinema da América Latina acontece mais com coisas cotidianas, com a leitura social. E há as lendas rurais, as lendas urbanas, o folclore. Temos tradição de terror, mas o cinema está começando a se expressar agora. Temos muito a crescer. Estamos buscando nossa voz”, diz.
Quando questionado se conhece o cinema de terror brasileiro, Ignacio não tem vergonha de falar que não conhece o bastante e até mesmo pede uma dica. “Não só quero, como preciso conhecer mais”, diz o diretor. Assim que a reportagem do Filmelier diz que ele não pode deixar de assistir Zé do Caixão, o argentino anota rapidamente em um bloquinho e agradece antes de encerrar a conversa. “Preciso de algo assim pra me inspirar”, finaliza.
Quer saber mais sobre 'O Diabo Branco'? Clique aqui e encontre outras informações, incluindo os horários das sessões nos cinemas.
Jornalista especializado em cultura, gastronomia e tecnologia, cobrindo essas áreas desde 2015 em veículos como Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites. Já participou de júris de festivais e hoje é membro votante da On-line Film Critics Society. Hoje, é editor do Filmelier.
Jornalista especializado em cultura, gastronomia e tecnologia, cobrindo essas áreas desde 2015 em veículos como Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites. Já participou de júris de festivais e hoje é membro votante da On-line Film Critics Society. Hoje, é editor do Filmelier.
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