‘Abe’: “A mensagem é ser você mesmo”, diz diretor de filme com Noah Schnapp e Seu Jorge ‘Abe’: “A mensagem é ser você mesmo”, diz diretor de filme com Noah Schnapp e Seu Jorge

‘Abe’: “A mensagem é ser você mesmo”, diz diretor de filme com Noah Schnapp e Seu Jorge

Longa-metragem conta a história de um garotinho experimentando o gosto da liberdade na pré-adolescência

Matheus Mans   |  
5 de agosto de 2021 11:30
- Atualizado em 6 de agosto de 2021 16:48

O cineasta Fernando Grostein Andrade, responsável por títulos como ‘Quebrando o Tabu’ e ‘Coração Vagabundo’, começou a escrever o argumento de ‘Abe’ há treze anos. Na época, claro, ele não tinha noção de que aquela ideia iria se transformar, em 2021, em um filme protagonizado pela sensação Noah Schnapp (‘Stranger Things’) e Seu Jorge (‘Marighella’).

Mas a história, que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 5, não poderia ser mais a cara de Fernando Grostein. A trama, que se concentra sobretudo na jornada individual de Abe (Schnapp), é inspirada livremente na própria vida do cineasta. O garotinho, no longa, se divide entre o amor à gastronomia com a briga em casa sobre a religião que Abe deve seguir.

Cena do filme Abe
Noah Schnapp é o protagonista do longa-metragem comandado por brasileiro (Crédito: Divulgação/Paris Filmes)

Os pais, afinal, se dividem entre famílias judias e palestinas. Briga histórica no Oriente Médio que ganha contornos debaixo do teto de Abe. “Sou filho de casamento misto. Metade de origem católica, metade de origem judaica”, conta o diretor em entrevista ao Filmelier. “Resolvi alterar o lado católico para palestino, para fazer um tributo à causa e para, claro, promover o debate”.

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Além disso, o amor à gastronomia — que surge aqui com escapadas de Abe ao restaurante brasileiro do personagem do Seu Jorge — também faz parte do repertório de Fernando. “Perdi meu pai aos 10 anos, aos 11 comecei a cultivar orquídeas. Depois, fui criado pelo meu padrasto que era cozinheiro amador”, conta. “Troquei o lado de orquídeas por gastronomia”.

Acima de tudo, liberdade

Achou pouca a relação entre Fernando e Abe? Bom, tem mais coisa. Quando o menino interpretado por Schnapp precisa fazer suas escolhas, seja a paixão pela gastronomia ou a pressão de escolher uma profissão para seguir, ele está principalmente falando sobre liberdade. Liberdade de escolha, de pensamento e até de expressão — por meio da gastronomia.

Durante as entrevistas com a imprensa na última semana, Fernando percebeu um fator: ele não havia assumido a sua sexualidade há 13 anos. 

“Eu ainda não tinha saído do armário. E, parando pra pensar, a mensagem do filme é para você ser você mesmo”, conta o cineasta, mostrando certa emoção ao falar sobre o significado de ‘Abe’ para ele hoje em dia. “Acho que ainda tinha uma motivação na época de passar uma mensagem de aceitação dentro de signos e alegorias, como a religião e a gastronomia”.

Além disso, ele fala sobre toques que trazem o Fernando do passado. Uma cena do avô de Abe falando demais, sem pensar, lembra o passado do diretor, quando era um pouco esquentado, cabeça-quente. “Também diz muito sobre as redes sociais hoje em dia”, diz o cineasta. “As pessoas estão cada vez mais incapazes de conversar. Mas no filme, depois, tem perdão”.

Impacto de ‘Abe’

Falando sobre temas tão densos, como liberdade, religião e conflitos familiares, ‘Abe’ foi tratado com cuidado por Fernando, empregando leveza e um tom familiar na história. “Eu brincava lá atrás que a gente estava fazendo um filme ‘live action’ da Pixar. Era a capacidade de tocar em coisas difíceis”, conta Fernando, quando questionado sobre esse desafio.

Hoje, comemora o resultado. Antes da pandemia, o filme chegou a rodar em um festival judaico de cinema do Vale do Silício, nos Estados Unidos. Para ele, foi uma vitória. Afinal, além da assinatura de Fernando, os palestinos Lameece Issaq e Jacob Kader deram sua visão para o conflito. E o diretor conta que não mexeu em uma única vírgula escrita pela dupla.

“Passou em algumas escolas, e vi aquelas crianças de quipá assistindo os argumentos do outro lado. Será que elas teriam sido expostas a isso de outra forma?”, questiona Fernando na entrevista com o Filmelier. “O cinema ajuda a tecer a fibra moral da sociedade. O cinema tem esse poder, para o bem e para o mal. Isso me dá muito orgulho, muito prazer”.

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