São as mulheres que dão rédeas a ‘O Homem do Norte’ São as mulheres que dão rédeas a ‘O Homem do Norte’

São as mulheres que dão rédeas a ‘O Homem do Norte’

Em meio às falhas, o novo filme do diretor Robert Eggers (de ‘A Bruxa’) acerta ao retratar a resiliência feminina

14 de maio de 2022 14:17
- Atualizado em 17 de maio de 2022 17:08

‘O Homem do Norte’, um dos principais lançamentos de maio, chegou aos cinemas brasileiros nesta semana. O filme é o terceiro de Robert Eggers, diretor norte-americano conhecido por produções de novo terror como ‘A Bruxa’ (2015) e ‘O Farol’ (2019). Com o sucesso de crítica dos longas anteriores, as expectativas pelo épico estrelado por Alexander Skarsgård eram altas.

Só que, em parte, elas não foram atingidas – ainda que tenha um tema no qual a produção acertou: a representatividade feminina.

O novo filme é inspirado na figura mitológica de Amleth, muito popular em romances escandinavos e que serviu de inspiração para a peça ‘Hamlet’ de William Shakespeare – pois é, só teve uma troca de letras mesmo entre os nomes dos protagonistas. Este é o primeiro trabalho com um viés comercial de Robert Eggers e a história mais complexa que ele já trouxe às telas – pelo menos no sentindo de amplitude.

Alexander Skarsgård como Amleth em ‘O Homem do Norte’ (Crédito: Divulgação/Universal Pictures)

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‘A Bruxa’ e ‘O Farol’ são produções com um orçamento menor e com foco em poucos personagens. Já ‘O Homem do Norte’ é um longa que acaba funcionando mais como produção de ação, o que pede por tratamento de direção diferente do que Eggers havia apresentado.

O cineasta faz um bom trabalho, mas não consegue trazer aquele cinema autoral que o fez se destacar nos últimos anos. Por mais que suas outras histórias tivessem a mitologia e a fantasia como foco, neste filme, Eggers ousa mais e acaba caindo em um cinema que se aproxima do popular – e talvez esse fosse o objetivo dele.

Vale citar que ‘O Homem do Norte’ é também o primeiro filme do diretor com um grande estúdio Hollywood por trás – nesse caso, a Universal Pictures. Sabemos que não é só orçamento que define uma produção, é preciso talento e isso ele tem. É notável que ele conseguiu um excelente resultado, o longa tem um cuidado absurdo, todo o visual, tratamento de imagem, montagem, trilha sonora e elenco mostram isso.

É válido dizer que estamos falando de um bom filme, mas ‘O Homem do Norte’ não é o melhor trabalho de Robert Eggers. Este é o ponto.

Quem é o Homem do Norte?

A lenda de Amleth conta a história de um príncipe, vivido por Alexander Skarsgård na fase adulta, que vê seu pai ser assassinado pelo tio e decide vingá-lo. Reconheceu essa premissa? Sim, como já citado é a conhecida história de ‘Hamlet’, muito popular na literatura, teatro e cinema.

O filme começa muito bem. Toda essa ambientação viking shakespeariana é bem envolvente, mas a narrativa vai se perdendo por se tornar muito superficial. As motivações de Amleth são pouco exploradas, o que é coerente com o lado animalesco que a trama tenta trazer, mas raso para o envolvimento do espectador.

Toda a mitologia nórdica acaba sendo deixada de lado, sendo só utilizada quando conveniente.

A resiliência das mulheres

‘O Homem do Norte’ mostra que as mulheres dos guerreiros e reis eram, muitas vezes, escravas que eles tomavam como esposas contra a vontade delas. Em suma, elas deveriam cuidar da casa e da família, servindo ao homem. Este cenário é completamente problemático e o filme busca dar voz para essas representações femininas que tiveram seus desejos preteridos.

Anya Taylor-Joy é Olga em ‘O Homem do Norte’ (Crédito: Divulgação/Universal Pictures)

A rainha Gudrún (Nicole Kidman) é um desse exemplos. Ela toma completamente o controle de sua vida após um casamento indesejado. Gudrún é um dos mais complexos e com certa profundidade de toda a história. Ao lado dela, temos a feiticeira Olga (Anya Taylor-Joy), que é também uma mulher que enfrenta os homens e se impõe.

Apesar do lado claramente machista, dentro da mitologia viking existiam também importantes deusas, responsáveis por conduzir rituais importantes. Temos a Freya, deusa do amor, fertilidade e beleza; Frigga, deusa protetora das famílias; e Skadi, que representava as estações do ano.

E também as Valquírias, mulheres que desempenhavam o papel de levar os guerreiros para Valhala, salão de Odin, paraíso dos vikings. Além delas, tinham também as escudeiras que lutavam de igual para igual com homens. Uma das figuras mais conhecidas é Lagertha, primeira esposa de Ragnar Lodbrok, retratada na série ‘Vikings’.

As mulheres dão rédeas à história

Ainda que grandes participações do elenco, como Björk e Willem Dafoe, sejam poucos exploradas, elas conseguem causar um impacto. Já Nicole Kidman e Anya Taylor-Joy são bons destaques e fazer a história avançar, de certa forma. Sabemos que na cultura nórdica o papel feminino é mais igualitário do que em outras sociedades da mesma época, mas claro que o machismo segue presente.

Björk faz uma pequena participação em ‘O Homem do Norte’ (Crédito: Divulgação/Universal Pictures)

O ponto de inflexão da história é justamente o peso que as personagens mulheres possuem. Amleth consegue escapar da morte, diferente de seu pai, mas ele vê que sua mãe acaba caindo nas mãos do tio traidor. Seu grande objetivo se torna resgatá-la. Mas eis que entra um questionamento: ela precisa ser salva?

O filme coloca em voga a obsessão masculina com dominação e vingança, em contraponto com os chamados “mistérios femininos”.

Os homens de ‘O Homem do Norte’ parecem ser motivados apenas por sangue, enquanto as mulheres seguem resilientes por serem espertas.

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