Crítica de ‘Os Cavaleiros do Zodíaco’: lembranças de ‘Dragon Ball Evolution’ Crítica de ‘Os Cavaleiros do Zodíaco’: lembranças de ‘Dragon Ball Evolution’

Crítica de ‘Os Cavaleiros do Zodíaco’: lembranças de ‘Dragon Ball Evolution’

‘Cavaleiros do Zodíaco – Saint Seiya: O Começo’ pretende iniciar uma franquia live-action baseada no aclamado anime e mangá. Aqui está a crítica da adaptação

Lalo Ortega   |  
27 de abril de 2023 10:13

O anime japonês e o cinema hollywoodiano em imagem real (ou live action) têm, como os fãs de ambos podem lembrar com amargura, uma relação complicada e cheia de decepções. Isso para dizer o mínimo de adaptações como Dragon Ball Evolution ou Death Note da Netflix. Um questionável clube ao qual se unirá Os Cavaleiros do Zodíaco – Saint Seiya: O Começo, nos cinemas do Brasil a partir de 27 de abril de 2023.

Baseada na bem-sucedida série de anime e mangá criada por Masami Kurumada no final dos anos 1980, (conhecida no Japão como Saint Seiya e lançada com tremendo sucesso na América Latina como Cavaleiros do Zodíaco), o filme marca a muito esperada estreia da franquia em live action para as telonas.

No entanto, a única coisa que se pode afirmar é que se trata da mais recente tentativa de Hollywood de massacrar um anime querido. É um sucesso retumbante e indiscutível nesse sentido.

A questão da “ocidentalização” do anime

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Sempre é preciso abordar qualquer filme com o chamado “benefício da dúvida”. No entanto, desde o trailer de Cavaleiros do Zodíaco, já se podiam ver os problemas que, de fato, arrastaria o produto final.

Talvez seja uma verdade difícil de digerir em Hollywood, mas os estúdios devem aceitar que muitos animes são bregas, dramáticos em um nível exagerado e extravagantes em suas premissas. Essas características – somadas a durações episódicas bastante extensas – os tornam materiais muito difíceis de adaptar.

Só falando de Saint Seiya, estamos diante de uma história sobre a deusa grega Athena, que reencarna a cada certo número de séculos e que deve ser protegida por seus cavaleiros – guerreiros dotados de armaduras sagradas e de uma energia mística conhecida como “Cosmo” – em uma guerra contra outros deuses. É uma fantasia extravagante e ambiciosa que, além de sua extensa mitologia, é complicada de traduzir para o live action por sua própria sensibilidade artística.

Mackenyu interpreta Seiya nesta adaptação de ‘Cavaleiros do Zodíaco’ (Crédito: Sony Pictures)

Os Cavaleiros do Zodíaco – Saint Seiya: O Começo segue uma rota muito similar à que, em seu momento, seguiu Dragon Ball Evolution, com seu protagonista branco e universitário, com tudo o que há de interesse romântico, em um mundo que mais se parece a uma cidade estadunidense do que ao mágico e estranho mundo de Dragon Ball.

Aqui, pelo menos, algumas das bases são respeitadas. Seiya (interpretado por Mackenyu) é um jovem lutador de origem asiática, cuja busca por sua irmã perdida o leva a conhecer Sienna (Madison Iseman), a reencarnação da deusa Athena. Assim, ele descobre que está destinado a se tornar o Pégaso, um dos cavaleiros jurados a protegê-la.

Além disso, nomes de personagens e incidentes adaptados de forma solta do mangá e anime originais, o resto de Cavaleiros do Zodíaco cai nessa “ocidentalização”. O grande conflito se resume ao fato de que os pais adotivos de Sienna, Alman Kiddo (Sean Bean) e Guraad (Famke Janssen), têm visões diferentes sobre o destino de Athena: ele acredita que ela protegerá a humanidade e ela acredita que a destruirá, então ela quer assassiná-la. Por isso, dedica todos os recursos de sua corporação milionária para criar ciborgues que possam vencer em combate os guerreiros de Athena.

Mas qual era a necessidade?

Embora tenha sua base em certos elementos do material original (os cavaleiros de aço), esse aspecto dos ciborgues é apenas uma mostra da resistência a abraçar os aspectos mais fantásticos do anime e do mangá. Foram deixados de fora os torneios cósmicos, a magia e as cores em favor de um mundo cinza, com lutas de rua e corporações que nunca são agradáveis aos olhos.

E não é que tentar algo diferente seja ruim em si mesmo – é bastante louvável, na verdade. No entanto, o problema com Os Cavaleiros do Zodíaco – Saint Seiya: O Começo não é necessariamente que seja uma adaptação pouco fiel. É que sacrifica todo o apelo de seu material original para ser um filme incompetente em níveis muito básicos.

O filme, escrito (incrivelmente) por três roteiristas, Kiel Murray (Luck), Josh Campbell e Matt Stuecken (Rua Cloverfield, 10), está repleto de motivações pouco desenvolvidas ou até contraditórias. Personagens que tomam decisões opostas ao que devem fazer (como não sair de seu refúgio no caso de Sienna), ou que mudam de propósito de forma arbitrária, porque a história precisa mudar de rumo.

A qualidade do figurino e dos efeitos visuais deixa muito a desejar (Crédito: Sony Pictures)

Isso, sem falar de uma evidente falta de química entre os protagonistas, um trabalho de design de produção esquecível e efeitos especiais como se fossem extraídos de uma cena de videogame do PlayStation 2 (o diretor do filme, o polonês Tomasz Bagiński, é mais conhecido por animações para videogames como The Witcher e Cyberpunk 2077). Há problemas graves quando o clímax de um filme parece um cosplay mal feito adornado por animadores com pouco orçamento e ainda menos tempo.

O que é a necessidade disso? Nenhuma, na verdade. Mas Hollywood – indústria em constante e perpetua seca criativa – tende a olhar para outros lugares para encontrar ideias lucrativas. E lá estava o renomado estúdio japonês Toei Animation, disposto a injetar 60 milhões de dólares em um filme para levar seus horizontes além da animação.

O pior é que há adaptações boas de anime

Deveria Hollywood adaptar um anime quadro por quadro, traduzindo seu drama e distensão extrema do tempo para a grande tela? De forma alguma. Mas os resultados costumam ser bons quando os estúdios abraçam a idiossincrasia tipicamente excêntrica do material original – e houve sucesso em ambos os lados do Oceano Pacífico.

Basta olhar para as adaptações live-action de Death Note ou Samurai X para o caso japonês: filmes que conseguem se sustentar por si mesmos, mas com fidelidade nada tímida às histórias que lhes deram origem.

Nos Estados Unidos, podemos citar Alita. Ou um caso ainda mais conhecido: Círculo de Fogo, de Guillermo del Toro, que mesmo sem estar baseada em uma série específica – embora tenha influências óbvias de Gundam – entende, respeita e abraça as excentricidades do anime japonês.

Cavaleiros do Zodíaco é, infelizmente, uma adaptação muito pobre, mas nem o pior resultado evitará que Hollywood, indústria que costuma extrair suas ideias de outros lugares, tente novamente com outros animes. Eles não fariam mal em olhar para os casos de sucesso na próxima vez.

Sobre o que se trata Os Cavaleiros do Zodíaco – Saint Seiya: O Começo?

Confira a sinopse oficial da Sony Pictures:

Seiya é um jovem obstinado que passa seu tempo lutando por dinheiro enquanto procura por sua irmã sequestrada. Quando uma de suas lutas inadvertidamente explora poderes místicos que ele nunca soube que tinha, Seiya se vê lançado em um mundo de guerreiros, treinamento mágico antigo e uma deusa reencarnada que precisa de sua proteção. Se ele quiser sobreviver, precisará abraçar seu destino e sacrificar tudo para ocupar seu lugar de direito entre os Cavaleiros do Zodíaco.

Confira o trailer do filme Cavaleiros do Zodíaco:

Os Cavaleiros do Zodíaco – Saint Seiya: O Começo já está em cartaz nos cinemas. Clique aqui para comprar ingressos.

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