‘Reação em Cadeia’ e ‘Garota da Moto’ mostram crescimento da ação no Brasil ‘Reação em Cadeia’ e ‘Garota da Moto’ mostram crescimento da ação no Brasil

‘Reação em Cadeia’ e ‘Garota da Moto’ mostram crescimento da ação no Brasil

Duas estreias seguidas mostram que os filmes brasileiros de ação passam a ganhar força nos cinemas

Matheus Mans   |  
22 de setembro de 2021 12:09

Pode ser apenas coincidência, mas o cinema nacional está mostrando um crescimento da adrenalina em suas histórias. Na quinta-feira passada, 16, as salas brasileiras começaram a exibir ‘Reação em Cadeia‘, novo longa-metragem de Márcio Garcia sobre um auditor envolvido num esquema de corrupção político complicado. Agora, nesta quinta-feira, 23, estreia ‘Garota da Moto‘, derivado de uma elogiada série sobre uma justiceira nas ruas de São Paulo.

Isso é um movimento surpreendente do cinema nacional. Afinal, mais focadas em dramas independentes e comédias populares, as produções do Brasil quase não dão atenção ao chamado “cinema de gênero”, que envolve ação, fantasia e ficção científica. Dos últimos anos, dá para contar nos dedos os que realmente abraçaram a ação, especificamente. ‘Alemão’, ‘Cano Serrado’, ‘Polícia Federal’, ‘O Doutrinador‘, ‘Operações Especiais’ e ‘Tropa de Elite‘ são alguns deles.

Bruno Gissoni interpreta um auditor que, quase sem querer, se envolve em um esquema de corrupção (Crédito: Divulgação/Downtown)

Agora, com duas produções de uma tacada só, vem a questão: será que o preconceito com o cinema de gênero no país está diminuindo? “Existe mesmo um preconceito muito grande por parte até da imprensa, muitas vezes, e de algumas camadas sociais em relação aos gêneros que nós exercitamos”, diz João Daniel Tikhomiroff, diretor de ‘Besouro’ e produtor de ‘Garota da Moto’ e ‘Confia em Mim’. “Hoje, as plataformas de streaming conseguiram quebrar muito dos estereótipos e das rotulagens dos países que são bons nisso e não são bons em outras áreas”.

Ação política de ‘Reação em Cadeia’

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‘Reação em Cadeia’ é um filme diferente dentro de seu gênero. Nada da ação pela ação. Aqui, temos uma história que trafega também entre o drama, o romance e a comédia, mas também trazendo uma adrenalina pouco vista por aí. Tudo isso graças ao personagem de Bruno Gissoni, um auditor que descobre um esquema de corrupção e que, ao invés de dar um fim nessa história, acaba (sem querer) entrando nesse furacão.

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“Eu acho que o Brasil tem toda a condição de fazer [filmes de gênero]. Obviamente, a gente precisa se inspirar nas grandes produções, mas caindo na nossa realidade. Dá pra gente fazer coisa bacana por aqui, indo além do tiroteio e do pontapé”, comenta Márcio Garcia, diretor de ‘Reação em Cadeia’. “Afinal, a ação por ação só o público não consome mais. Ação é um tempero do filme. Roteiro ruim de ação é aquele filme que fica na ação o tempo todo. O Brasil tem muitos cenários, atores e profissionais para desempenhar esse tipo de trabalho. A questão é arriscar mais”.

Gissoni, aliás, conta que sempre teve interesse em atuar em um filme de ação, mas nunca teve realmente uma boa oportunidade. “Não vou dizer que ‘Reação em Cadeia’ é um filme pioneiro do gênero, mas é com certeza um filme pioneiro em mostrar como o brasileiro é capaz de fazer filmes de ação. O Brasil é um país continental. A gente pode narrar o gênero de dez maneiras diferentes graças à nossa riqueza cultural”, complementa o ator.

Além disso, é interessante notar como Garcia usou personagens coadjuvantes para ir modulando o tom da história e não ficar apenas no tiro, porrada e bomba. O personagem de André Bankoff, por exemplo, traz um humor característico — além das boas cenas de perseguição. “Nossos diretores e produtores têm medo em arriscar”, sintetiza o ator. “A gente precisa fazer cada vez mais ação, cada vez mais cinema de gênero. Temos material para isso”.

Justiceira de ‘Garota da Moto’

Já em ‘Garota da Moto’, que estreia desta quinta-feira, 23, acompanhamos uma história que é pura porradaria. Seguindo os passos de ‘O Doutrinador’, este longa-metragem é o spin-off de uma série exibida no SBT e no Amazon Prime Video sobre Joana, uma motogirl justiceira que, depois de desbaratar um esquema de trabalho escravo, entra mira do chefão dessa máfia e que agora precisa mostrar serviço. Se deixar tudo ir por água abaixo, todo o trabalho também pode fracassar.

Maria Casadevall vive um drama familiar enquanto busca justiça e foge de uma vingança (Crédito: Divulgação/Paris Filmes)

“Eu acho que a gente é pop e corajoso. A gente deve exercitar os gêneros, deve ser eclético, deve ser cinematográfico”, diz Luís Pinheiro, diretor de ‘Garota da Moto’. “Eu vejo com muitos bons olhos o cinema de gênero. Eu acho que a gente deve se lançar de corpo e alma em filmes assim. A gente tem uma clareza de gênero. Não tem história de amor para a Joana. Essa é a linha da nossa história, é seca. É o nosso viés brasileiro, com nossa realidade”.

Aliás, Maria Casadevall, protagonista do longa, comemora a possibilidade de fazer essa personagem e como conseguiu se preparar bem para o papel. “Se tem uma coisa importante para entrar num novo projeto é que ele seja diferente do que fiz anteriormente. Essa diferenciação fala sobre a excelência do nosso trabalho como ator e atriz. O desafio da Joana foi no sentido de não ter intimidade com esse universo de filmes de ação. Era um universo muito novo”, conta a atriz. “Entrar nesse universo da luta também foi um desafio, mas tive uma preparação incrível levando a dramaticidade para a luta”.

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