Crítica: 'Sede Assassina' é thriller mediano do diretor de 'Relatos Selvagens'
Longa-metragem fala sobre uma policial com um passado turbulento que precisa encontrar um terrorista fora dos padrões
Desde que Relatos Selvagens chegou aos cinemas, fazendo um sucesso inesperado e sendo até mesmo indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional, o mundo se pergunta: qual será o próximo projeto do diretor Damián Szifron? O argentino, afinal, rapidamente se tornou um nome cobiçado na indústria e poderia abraçar qualquer tipo de projeto. A resposta para isso chega aos cinemas nesta quinta-feira, 22 de junho, com o thriller norte-americano Sede Assassina.
Qual é a trama de Sede Assassina?
Na história, acompanhamos uma investigação que, superficialmente, se parece com qualquer outra coisa que já vimos no cinema dos Estados Unidos -- algo como O Colecionador de Ossos, por exemplo. Afinal, logo de cara, Sede Assassina nos mostra o crime: um ato de terrorismo, em plena véspera de Ano Novo, que mata quase uma dezena de pessoas inocentes. Jovens, idosos, pretos, brancos. Não há diferenciação ou um objetivo. O criminoso parece matar pelo prazer.
É aí que entra a investigação da policial Eleonor (Shailene Woodley) e dos agentes Lammark (Ben Mendelsohn) e Jack McKenzie (Jovan Adepo). Aos poucos, eles começam a mergulhar no mundo desse criminosos e a tentar encontrar padrões, pistas, indícios. Rapidamente, fica evidente como o criminoso não é alguém com um grande aparato por trás, mas um homem comum -- que ama, é amado por alguém, que se desaponta e também decepciona os outros.
Como encontrar esse homem que pode estar em qualquer lugar, que pode ser qualquer pessoa? Qual pista seguir?
Sede Assassina é um bom filme?
A partir disso, o longa-metragem de Szifron praticamente se divide em dois. De um lado, há o suspense clássico e tradicional, sem grandes diferenciais. É aquele típico filme que explodiu nos anos 1990 e 2000, que estreava aos montes nos cinemas e em home video, em que víamos policiais desajustados perseguindo criminosos sádicos, quase impossíveis de encontrar. Sede Assassina é um pouco perdido no tempo. Seria sucesso há 20 ou 30 anos, não agora.
Afinal, o longa-metragem pouco se esforça para sair do lugar-comum, sendo essencialmente aquilo que já conhecemos e sabemos. A fórmula usada pelo roteiro de Szifron e Jonathan Wakeham chega a ser cansativa: é o agente do FBI que quebra todas as regras para chegar ao assassino, a policial que tem um passado manchado pelo vício, o criminoso que aos poucos vai revelando particularidades bizarras e um comportamento inusual. Tudo batido.
No entanto, Sede Assassina não é apenas um suspense que emula a história de clássicos preguiçosamente. O diretor tem momentos de brilho e que fazem o filme ganhar uma camada de verniz interessante. É o caso da cena muito bem filmada no shopping, a sequência na lojinha de conveniência e, principalmente, quando há comentários sociais não só na história, mas também na forma que o cineasta filma alguns momentos da investigação, que poderiam ser só banais.
O filme usa o contexto desse crime e da investigação para tecer um comentário ácido e provocativo sobre a sociedade americana, doente pelo consumismo, pela violência que se tornou comum, pela ausência de empatia pelo próximo.
E são nesses momentos que o longa-metragem quase chega em um resultado surpreendente, acima da média. Mas repare: quase chega. Sede Assassina, infelizmente, fica mais preso nos padrões do gênero, com seus chavões e clichês, ao invés de realmente fazer a diferença de ser um filme recheado de comentários ácidos -- como vimos, em um outro sentido da coisa, em Relatos Selvagens. Parece que Szifron ficou podado na forma de contar a sua própria história.
Ainda há espaço para suspenses assim?
Agora, voltemos a algo que falei lá no começo: Sede Assassina é um filme perdido no tempo, que seria sucesso há 20 ou 30 anos, não agora. O que aconteceu com esse gênero, que basicamente dominou as bilheterias nesse período?
Hoje, o que mais vemos são filmes como Sede Assassina, que beliscam possibilidades empolgantes com comentários sociais ou até políticos, mas que dificilmente saem da fórmula que ficou estabelecida há décadas atrás, com suspenses noir e afins. O clima da história, o perfil do criminoso, os problemas dos investigadores: tudo isso se repete e repete e repete em uma infinidade de histórias que parecem estar em um ciclo de mesmice, sem encontrar uma saída de fato.
São filmes como Sombras de Um Crime, Em Busca de um Assassino e Em Busca da Verdade, apenas para citar exemplos mais recentes, que trafegam no mesmo mar. É uma sensação de que o gênero está preso, apenas com bons filmes cá e acolá (God's Country e A Extorsão), lutando para encontrar um caminho para escapar, mas ficando no mesmo lugar.
Sede Assassina já está em cartaz nos cinemas. Clique aqui para comprar ingressos.
Jornalista especializado em cultura, gastronomia e tecnologia, cobrindo essas áreas desde 2015 em veículos como Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites. Já participou de júris de festivais e hoje é membro votante da On-line Film Critics Society. Hoje, é editor do Filmelier.
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