‘tick, tick…BOOM!’: Lin-Manuel Miranda estreia na direção com um musical sensível e real ‘tick, tick…BOOM!’: Lin-Manuel Miranda estreia na direção com um musical sensível e real

‘tick, tick…BOOM!’: Lin-Manuel Miranda estreia na direção com um musical sensível e real

Miranda é o condutor e Andrew Garfield é o coração do filme, que acaba de estrear na Netflix e vai muito além de uma biografia

19 de novembro de 2021 12:57
- Atualizado em 22 de novembro de 2021 11:17

Filmes têm o poder de mexer com nossas emoções das mais diversas formas. ‘tick, tick…BOOM!’, musical que estreia hoje (19) na Netflix, é o primeiro trabalho de Lin-Manuel Miranda (‘Hamilton’) como diretor – e, se você é um jovem beirando os 30 anos, provavelmente vai se identificar com o protagonista, Jonathan Larson.

Dito isso, é impossível, para mim, não entrar em um âmbito mais pessoal para falar de do filme. Sou jornalista, tenho 29 anos e Miranda tocou na parte mais escondida da minha mente quando resolveu adaptar a história de um escritor que mudou o rumo da Broadway. Isso porque ele mostra todas as inseguranças do protagonista de uma maneira bastante relacionável.

Jonathan Larson levou quase toda a sua vida para que o mundo reconhecesse sua magnitude, infelizmente parte dela só veio após sua morte. Ele morreu precocemente aos 35 anos, vítima de uma dissecção aórtica, quando sua carreira estava deslanchando.

tick, tick...BOOM: Andrew Garfield, Lin-Manuel Miranda e o time de produção de 'tick, tick...BOOM!' (Crédito: Divulgação/Netflix)
Andrew Garfield, Lin-Manuel Miranda e o time de produção de ‘tick, tick…BOOM!’ (Crédito: Divulgação/Netflix)

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Larson nunca soube do sucesso de seu musical ‘Rent’, que o renderia três prêmios Tony e um Pulitzer de Teatro, todos póstumos. Sequer conseguiu ver a peça na estreia da Broadway. A vida é injusta e ‘tick, tick…BOOM!’ pincela isso, de uma forma poética e até mesmo educada. O legado de obra do dramaturgo ecoa mais forte do que seu criador, porque o mantém vivo até hoje.

‘Rent’ é uma adaptação moderna da ópera ‘La Boheme’, se passa nos anos 1980 e conta a história de um grupo de amigos que vive o lado bom e ruim da vida de artistas em Nova York – que era basicamente a realidade de Jonathan Larson. A trama trata também de homossexualidade, AIDS e drogas, que eram e ainda são considerados temas tabus.

Todo esse contexto embala ‘tick, tick…BOOM!’, que conta com um elenco formado por Andrew Garfield (‘Até O Último Homem’), Alexandra Shipp (‘Com Amor, Simon’), Robin de Jesús (‘The Boys in the Band’), Joshua Henry (da série ‘See’), MJ Rodriguez (‘Pose’) e Vanessa Hudgens (‘A Princesa e a Plebeia’).

O longa acompanha uma parte da vida de Jonathan Larson, baseado no musical criado por ele que dá título ao filme. O monólogo biográfico se chamava originalmente ’30/90′ e ganhou outro título quando estreou na Broadway – que contou com Lin-Manuel Miranda no papel principal em um revival em 2014. Sob a ótica do próprio Miranda, a história virou um longa-metragem.

A produção traz um formato diferente de musical, algo que o diretor já havia nos mostrado que sabia fazer quando trouxe ‘Hamilton’ ao mundo. Em certos momentos, ‘tick, tick…BOOM!’ é a montagem da peça de Larson, mas em outras é um filme mais tradicional – majoritariamente linear.

Robin de Jesús, MJ Rodriguez e Ben Levi em ‘tick, tick…BOOM!’ (Crédito: Divulgação/Netflix)

Antes de chegar ao streaming, a produção teve uma breve estreia nos cinemas brasileiros, em apenas três salas em todo o país, o que dificultou o acesso. Como uma boa fã de Miranda e de Andrew Garfield, resolvi ir ao cinema sozinha em uma pacata quarta-feira à noite na esperança de assistir a algo bom. Para minha surpresa, vi um musical impecável.

‘tick, tick…BOOM!’: cheiro de Oscar?

Não só as músicas são incríveis, como também o elenco. Garfield é possivelmente um candidato a estatuetas na temporada de premiações com sua atuação, assim como toda a parte musical. Mas ‘tick, tick…BOOM!’ vai além disso: é uma história sobre pessoas reais e com sonhos que jamais se mostram inatingíveis – esse papinho parece clichê, mas, dentro da trama, não é.

Coincidentemente, antes de assistir ao filme, eu estava transcrevendo uma entrevista com Ron e Russell Mael, criadores de ‘Annette‘ – que chega ao streaming na próxima semana -, e eles falavam sobre o molde de Hollywood para fazer musicais.

Os irmãos Mael gostariam que esse gênero tivesse um outro tipo de sensibilidade, um tom mais mundano, mais realista, e Lin-Manual Miranda consegue sintetizar, de certa forma, o que eles disseram. ‘tick, tick…BOOM!’ tem algo a mais, uma alma que enche a tela e o espectador.

Por mais que ainda preencha os pré-requisitos de um filme hollywoodiano e tenha algumas cenas piegas, a produção da Netflix não se resume a isso e esse, talvez, seja o seu diferencial. Andrew Garfield também ajudou nessa tarefa: o Jonathan Larson dele é um ser humano cheio de emoção, sonhos e defeitos.

Andrew Garfield dá vida a Jonathan Larson (Crédito: Divulgação/Netflix)

O personagem principal está o tempo todo se cobrando por estar quase com 30 anos e ainda não ter conquistado nada. Mas, no fundo, não dá para resumir todas as nossas realizações a prêmios e fama, e sim ao nosso dia-a-dia e as pequenas transformações que fazemos na vida de quem amamos.

Um dos grandes aprendizados que o escritor deixou é que não devemos desistir do que almejamos, mas que não vale a pena machucar quem nos rodeia no meio do caminho. Durante 35 anos, ele teve muita coragem para viver como bem entendia e levar ao extremo o que era ser um artista.

Além de toda essa profundidade, o longa também fala sobre o começo da epidemia de HIV, no anos 1980 e 1990, e da marginalização LGBTQ+. Como vemos, dá, sim, para abordar assuntos importantes e fazer um filme bonito, que te faz sorrir, chorar e entender que a vida é bonita da forma mais mundana possível.

Quer saber mais sobre ‘tick, tick…BOOM!’, incluindo trailer, outros motivos para assistir e o link para ver na Netflix? Clique aqui.

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