Mercado de cinema

Funcionários da Cinemateca são demitidos após Governo Federal assumir gestão

A Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp), responsável por administrar a Cinemateca até a última sexta, 7, demitiu todos os 41 funcionários da instituição nesta quinta-feira, 13. A decisão surge após o local passar a ser gerido pelo Governo Federal, em um embate entre instituições e governos que vem se desenrolando há meses.

“No último dia 7, em que a Secretaria Especial de Cultura chegou para assumir a Cinemateca, junto com um contingente da Polícia Federal, insistimos com o secretário adjunto para que os funcionários fossem mantidos ou recontratados. Mas, infelizmente, não obtivemos nenhum compromisso formal”, diz uma nota da Acerp ao jornal O Estado de S. Paulo.

Além disso, a entidade complementou dizendo que não teria como manter e pagar o corpo técnico, altamente especializado, e que passa por grave crise.

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Em nota também enviada ao jornal, o Ministério do Turismo diz que “aguarda o envio da listagem dos colaboradores que atuaram junto à Cinemateca para que essas informações sejam repassadas para a nova organização social”. Um novo edital para chamamento de entidades gestoras deve ser divulgado nas próximas semanas, segundo o governo.
Prédio da Cinemateca em São Paulo (Crédito: Raíssa Basílio)

Calamidade na Cinemateca

A demissão é apenas mais um passo na triste e delicada situação que passa a Cinemateca, importante instituição que guarda grande parte do acervo do audiovisual brasileiro. Desde de dezembro de 2019, o espaço está sem contrato para gestão e os funcionários ficaram sem receber salários. Fora isso, a estrutura sofre com risco de incêndio, falta de vigilância, atrasos nas contas de água e luz. Sem falar da ameaça de deixar a capital paulista. No começo de julho, o Ministério Público Federal, em São Paulo, entrou com uma ação contra a União por abandono da Cinemateca Brasileira. O órgão está com uma dívida que passa dos R$ 13 milhões – e aumenta mais de R$ 1 milhão a cada mês. Agora, sob comando federal, o futuro da instituição é incerto e não se sabe quais serão os próximos passos da Cinemateca.

A importância da Cinemateca

A Cinemateca Brasileira foi criada na década de 1940, sendo a quinta maior cinemateca do mundo em restauro nesta época. O órgão tem o maior acervo de imagens da América do Sul. Cerca de 250 mil rolos de filmes, 40 mil títulos, entre Super 8, curtas, longa metragens, parte desse conteúdo é compostos por nitrato de celulose – material que pode entrar em autocombustão se não for mantidos em refrigeração. Por conta disso é preocupante o risco de incêndio no local. Segundo a pesquisadora, Eloá Chouzal, o conteúdo que existe no prédio é tão importante que existem películas do Brasil em movimento de 1897, final do século XIX, de quando filme foi inventado. Para entender melhor, ela também explicou o trabalho que eles fazem, não é somente um lugar que armazena imagens: “A Cinemateca que eu falo não é um museu só, porque muita gente acha que é um museu de imagem. Não, a Cinemateca tem três pilares como missão: O primeiro é preservar, que é a guarda desse acervo. Também tem a missão de difundir, então lá tem sala de cinema, workshop, mostra, crianças de escolas da comunidade que vão pela primeira vez assistir um filme numa tela grande. E o terceiro pilar é o restauro”, contou Chouzal em entrevista ao Brasil de Fato. Para a história do cinema nacional – e internacional – a Cinemateca tem arquivos de Glauber Rocha, Jean-Claude Bernardet, sendo roteiros, cartas entre cineasta, fotos de produções. Esse acervo não existe em nenhum outro lugar no mundo. Esses conteúdos são importantes para novas criações no ramo da comunicação, pois são itens para pesquisa necessários para entender sobre cinema e também sobre transformações no país ao longo dos anos.
Matheus ManseRaíssa Basílio

Jornalista especializado em cultura e tecnologia, com seis anos de experiência. Já passou pelo Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites, sempre falando de cinema, inovação e tecnologia. Hoje, é editor do Filmelier.

Escrito por
Matheus ManseRaíssa Basílio

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