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‘Traídos pela Guerra’ mostra olhar norueguês sobre o Holocausto
Diretor Eirik Svensson falou sobre o excesso de filmes sobre o conflito e a importância da família Braude
Matheus Mans | 06/07/2021 às 11:01 - Atualizado em: 07/07/2021 às 12:01
A Segunda Guerra Mundial já foi retratada exaustivamente nos cinemas, a partir dos mais diversos olhares, tons, medos e dores. Temos filmes que brincam com a realidade (‘Bastardos Inglórios’, ‘Uma Sombra na Nuvem’), os que mostram microcosmos do conflito (‘A Guerra de Anna’) e aqueles megalomaníacos (‘Dunkirk’). Agora, ‘Traídos pela Guerra’ tenta se destacar a partir de um olhar pouco conhecido: o sofrimento do povo norueguês.
Dirigido por Eirik Svensson e disponível para assistir no Brasil em serviços de streaming para aluguel ou compra (como NOW, Apple TV e Google Play), o longa-metragem conta a história da família Braude. Pai, mãe e filhos vivem uma vida normal na Noruega, com a ameaça nazista sendo apenas uma ameaça distante. Enquanto isso, o jovem Charles Braude (Jakob Oftebro, de ‘A Aventura de Kon Tiki’), queridinho entre os seus, consolida a carreira no boxe e parte para formar sua própria família.

No entanto, em determinado momento, começa aquela história que tanto conhecemos. Judeus, os Braude entram na mira impiedosa do nazismo e, sobretudo, dos agentes do governo norueguês que colaboraram na deportação dos judeus. A partir daí, ‘Traídos pela Guerra’ se torna um filme de sobrevivência, no meio de um campo de concentração. Mãe, pai e filhos precisam encontrar um meio, talvez pelo boxe, para evitar o duro destino.
Mas será que não vimos essa história antes? “O Holocausto e a colaboração dos noruegueses com os nazistas na deportação dos judeus foi muito pouco retratado antes no cinema norueguês e só recentemente fez parte da discussão pública”, diz Eirik Svensson, ao Filmelier, sobre o excessos de histórias sobre o período. “Queria ver esta família como seres humanos reais, com suas esperanças e sonhos para o futuro, assim como você e eu”.
Boxe e Holocausto
Como outro diferencial, o cineasta chama a atenção para o fato de que os Braude são uma família presente na memória norueguesa. O filme é inspirado, em um primeiro momento, em um livro de não-ficção escrito pela jornalista Marte Michelet, onde essa história foi contada pela primeira vez. “Também li uma variedade de outros livros sobre o assunto, conversei com historiadores e pessoas no Museu Judaico em Oslo”, disse.
Svensson, com isso, já tinha um material interessante histórico em mãos. Cinematograficamente, o diretor também tinha material. Afinal, mais do que falar sobre judeus sofrendo durante a Segunda Guerra Mundial, o norueguês também pode explorar, com certa tranquilidade, a jornada e a carreira de Charles como boxeador. Não é uma trama de superação como ‘Rocky’, mas um filme de sobrevivência como o recente ‘Terra Selvagem’.
Afinal, além de ter se consolidado como um dos melhores boxeadores da Noruega antes da Segunda Guerra Mundial, ele também praticou o esporte nos campos de concentração. “A história de Charles Braude foi, claro, um dos primeiros pontos de nossa atenção'', diz. “Ele praticou uma luta de boxe mais informal, mas muito mais emocional, enquanto estava no campo de concentração de Berg depois que sua família foi deportada”.
Com isso, o filme acaba ganhando camadas ao invés de apenas apostar nessa história já vista. “É claro que achei o boxe e a luta uma forte entrada emocional e cinematográfica para contar a história de Charles e sua família, mas ao mesmo tempo eu estava muito ciente de como a violenta luta em Berg seria vivenciada e interpretada pelos público e tentei o meu melhor para encontrar o equilíbrio certo e a sensibilidade para ele”, disse.
Importância de 'Traídos pela Guerra'
No entanto, para Svensson, o grande diferencial está em algo simples, mas substancial nos tempos bicudos que o mundo vive: a necessidade de contar essa história sem exageros, focando nos humanos que sofreram e foram mortos a partir de um movimento fascista na Alemanha -- independente da distância de mais de mil quilômetros entre Oslo e Berlim. Dessa forma, o diretor ajuda a dar mais voz para os judeus desse período.
“Eu realmente tentei fazer esta família ganhar vida na tela, para que possamos lembrá-los como indivíduos únicos e algo mais do que vítimas anônimas entre um grande número insondável de outras pessoas durante o Holocausto”, disse o cineasta. E será que não é uma maneira de encararmos governos protofascistas que o mundo presencia hoje em dia? Também não é um meio de lembrar do passado e evitar dores similares?
“Quando esse tipo de crime acontece em um país, é muito mais confortável apontar o dedo para outro lugar e culpar os outros, em vez de reconhecer que o racismo e, neste caso, o antissemitismo também foi e ainda faz parte da atitude entre nós, noruegueses”, diz o cineasta, sobre a história. "Temos que aprender com o passado e reconhecer os crimes ou erros dos quais nós mesmos participamos, pelos quais fomos responsáveis ou apenas espectadores passivos. Não é exclusivo da história da Noruega. Esse tipo de atrocidades aconteceram e ainda acontecem em todo o mundo”, conclui.
Jornalista especializado em cultura, gastronomia e tecnologia, cobrindo essas áreas desde 2015 em veículos como Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites. Já participou de júris de festivais e hoje é membro votante da On-line Film Critics Society. Hoje, é editor do Filmelier.
Jornalista especializado em cultura, gastronomia e tecnologia, cobrindo essas áreas desde 2015 em veículos como Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites. Já participou de júris de festivais e hoje é membro votante da On-line Film Critics Society. Hoje, é editor do Filmelier.
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