‘Um Intruso no Porão’ mostra o reflexo das retóricas negacionistas nos dias atuais ‘Um Intruso no Porão’ mostra o reflexo das retóricas negacionistas nos dias atuais

‘Um Intruso no Porão’ mostra o reflexo das retóricas negacionistas nos dias atuais

Em entrevista exclusiva, o diretor Philippe Le Guay revela os detalhes do thriller francês – que aborda temas como a negação do Holocausto, o antissemitismo e o extremismo

8 de abril de 2022 11:52
- Atualizado em 12 de abril de 2022 12:48

Nesta semana chega nas plataformas de streaming para aluguel ou compra o suspense ‘Um Intruso no Porão’. O filme, baseado em uma história real, conta a história de um casal, Simon (Jérémie Renier) e Hélène (Bérénice Bejo), que vendem o porão de sua casa para um simpático ex-professor de história, Fonzic (François Cluzet), e ele acaba se revelando uma pessoa bastante duvidosa.

Com direção e roteiro de Philippe Le Guay, a produção é um thriller francês que toca em temas bem delicados, como negacionismo, religião e preconceito. Colocando em voga como o mundo tem se transformado, mas ainda é “atrasado” em certas discussões, ‘Um Intruso no Porão’ consegue conversar bem com a sociedade moderna e resgatar certos valores.

Durante o Festival Varilux de Cinema Francês, que aconteceu em novembro passado, tivemos a chance de conversar com Le Guay sobre a produção. O diretor, que já tinha vindo ao Brasil outras vezes, estava bastante empolgado com a visita e com a estreia do longa-metragem no Brasil.

O longa é baseado em uma história que aconteceu com amigos do diretor (Crédito: Divulgação/Synapse)

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“Eu amo o Brasil, essa não é a minha primeira vez aqui, mas é a primeira durante a pandemia. No fim das contas, a maior diferença foi apenas usar máscaras, de resto a recepção e a simpatia dos brasileiros continuam as mesmas”, comentou ele.

Muito simpático e encantado por borboletas, o cineasta chegou a parar a entrevista para comentar sobre como ele gosta desses insetos e todo seu significado ao ver uma tatuagem de uma. Philippe Le Guay contou que costuma tirar fotos quando vê imagens disso e guardar em sua galeria.

Um tanto quanto peculiar, mas, ao ver algum filme dele, conseguimos identificar essa personalidade por trás das câmeras e, principalmente, por uma carreira construída por comédias e dramas. Apesar de ‘Um Intruso no Porão’ trazer uma temática densa, Le Guay, mostrou sua versatilidade na direção.

“Você já assistiu ‘Nightshift’? Foi meu primeiro suspense antes de ‘Um Intruso no Porão’. Há roteiros que nos fazem seguir um caminho diferente. E este filme acaba conversando com outros filmes meus, mesmo que tenha um tom diferente, como no caso de ‘As Mulheres do Sexto Andar'”, explicou.

‘Nightshift’ conta a história de Pierre, um trabalhador de uma fábrica de garrafas, que muda seu turno no emprego, do dia para noite. Ele então passa a sofrer assédio de um colega de equipe, que passa a importuná-lo o tempo inteiro. De certa forma, ‘Um Intruso no Porão’ consegue se aproximar um pouco dessa narrativa.

“A história foi inspirada em
um acontecimento que
amigos meus passaram”

Na trama, Simon vem de uma família judia e acaba se tornando locatário de um homem que simpatiza com o antissemitismo. Neste contexto, o “intruso” começa a incomodar Simon e destilar teorias da conspiração sobre o Holocausto.

Como citamos acima, o roteiro de Le Guay foi baseada em uma acontecimento real, como o próprio explica: “A história foi inspirada em um algo que amigos meus passaram, acho que eu não teria capacidade de inventar uma narrativa como essa, porque ela vai além da ficção, é realmente chocante”.

Por meio de uma reportagem, os amigos do diretor relataram o ocorrido e ele se inspirou para adaptar ao cinema. “Ainda levei quase doze anos para maturar a ideia, comecei a escrever uma primeira versão do roteiro, mas acabei sentindo que ainda não estava preparado para enfrentar um assunto tão difícil como a negação do Holocausto”, completou.

François Cluzet em ‘Um Intruso no Porão’ (Crédito: Divulgação/Synapse)

Inclusive, o personagem de opiniões duvidosas é interpretado pelo adorável ator francês François Cluzet, que já tinha trabalhado antes com Philippe Le Guay. Colocar Cluzet nesse papel foi uma boa jogada, já que ele consegue seduzir o espectador com sua simpatia e causa um estranhamento vê-lo como um antagonista, o que dá esse ar de humanidade para a trama.

“Não podemos perder
a noção de que
ele é humano”

Por mais que seja uma temática delicada, Philippe Le Guay tenta não trazer um representação obtusa e monstruosa: “Não podemos perder a noção de que ele é humano”. O suspense foi o que o ajudou nessa montagem, pois ao conhecermos o professor vivido por Cluzet e a atmosfera do porão, embarcamos em um clima praticamente fantasioso.

Afinal, a ideia de alguém em um ambiente que temos a associamos a algo escuro, escondido e fechado, consegue expandir para a concepção de uma pessoa retrógrada. Então temos os donos do cômodo, Simon (Jérémie Renier) e Hélène (Bérénice Bejo), que nos transportam de volta à realidade.

‘Um Intruso no Porão’ consegue ser também um retrato das redes sociais, onde vemos discussões e opiniões delicadíssimas e raramente vemos quem realmente são essas pessoas. A internet cria um distanciamento, que, inclusive, nos fazer esquecer um pouco de como a mente humana por ser complexa.

Ficou interessado no filme? Clique aqui para encontrar o trailer e ver onde assistir a ‘Um Intruso no Porão’.

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