Christian Petzold quebra paradigmas de contos de fadas em ‘Undine’ Christian Petzold quebra paradigmas de contos de fadas em ‘Undine’

Christian Petzold quebra paradigmas de contos de fadas em ‘Undine’

Cineasta conhecido por filmes como ‘Em Trânsito’ e ‘Barbara’, Petzold falou com o Filmelier sobre seu novo longa-metragem

23 de dezembro de 2021 08:45
- Atualizado em 27 de dezembro de 2021 11:41

Undine é mais do que o nome do filme ou da mulher que protagoniza essa história. Undine (ou Ondine, no original) é um mito. É uma entidade da natureza, filha do oceano, que tem uma história típica de folclore: ela sai do mar, assumindo sua forma humana, para conquistar e matar homens. É sua sina, sua dor. E é justamente essa história que Christian Petzold conta.

Diretor de filmes como ‘Barbara’ e ‘Phoenix’, Petzold abraça a fantasia de vez em ‘Undine’, longa-metragem que chegou aos cinemas na quinta, 23. No filme, ele se vale do mito na ninfa das águas para contar a história de Undine (Paula Beer), uma mulher que descobre a traição do namorado. De acordo com o mito, ela precisa matá-lo e, assim, voltar pra sua vida no mar.

‘Undine’ reverte a lógica dos filmes sobre contos de fadas (Crédito: Divulgação/Imovision)

Só que não é isso que acontece. Logo depois da traição, Undine passa a viver um romance inesperado com Christoph (Franz Rogowski). O mito e a tradição ficam de lado. “Essa é uma lenda muito antiga na Alemanha, muito conhecida, e que inclusive já ganhou uma adaptação nos cinemas pela Disney, ‘A Pequena Sereia’”, diz Petzold em entrevista ao Filmelier.

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E a ideia, como dá para perceber, nasceu a partir do estranhamento, da vontade de afastá-la de uma trama otimista. “Meu interesse surgiu quando entrei em contato com o livro de Ingeborg Bachmann, ‘Undine geht’. É a primeira vez que toda a história dessa personagem é contada sob a perspectiva de uma mulher, da Undine. E isso é interessante. Na história do cinema, da música e dos contos de fadas, é sempre da perspectiva do homem. São sempre belas mulheres do ponto de vista masculino”, explica.

Com isso, Petzold conta que houve até certo estranhamento positivo nos bastidores de ‘Undine’. Franz Rogowski, que interpreta o par romântico da protagonista, ficou “do outro lado”. “Undine é a personagem principal. Durante as gravações, Franz veio até mim e disse que estava fazendo o papel feminino. Disse que era mais ou menos aquilo. Ele era o personagem inocente, um pouco tímido, e tem seus movimentos a partir da perspectiva de uma mulher”.

‘Undine’ em outros tempos

Quebrando isso, Petzold coloca a personagem de Undine, da Sereia, no centro das atenções. O desenvolvimento de suas emoções é o foco. E, ao invés de abraçar o tradicionalismo dessa história, Petzold também quebra o formato, a temporalidade: ‘Undine’, contrariando a origem do mito do século XIX, é uma história moderna, que se passa na Alemanha de hoje.

No entanto, ao ser questionado sobre o posicionamento dessa história em uma Alemanha contemporânea, Petzold vai além e coloca o longa-metragem em uma meta, um objetivo. Seguindo o caminho contrário de Hollywood, que está investindo cada vez mais na nostalgia em filmes como ‘Homem-Aranha: Sem Volta para Casa’ e ‘Matrix Resurrections’, Petzold diz que não quer nada disso. Quer a beleza do hoje.

“Eu odeio coisas nostálgicas, odeio quando as pessoas falam que o passado é melhor e que precisa ser recriado”, sentencia Petzold, na contramão do mercado. “Sou de Düsseldorf, uma cidade na Alemanha, e o grupo pop Kraftwerk também é de lá. Eles gostam de procurar a beleza no mundo moderno, não no mundo antigo. Gostam de encontrar a beleza das luzes neon, na cidade. Acho que é justamente isso que estou procurando”.

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