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‘Velozes & Furiosos 9’ é o ápice da geração millennial
Em tempos de memes e discussões entre gerações nas redes sociais, a franquia ‘Velozes & Furiosos’ se encaminha para o fim como o retrato da cultura de quem nasceu a partir dos anos 80
Era difícil imaginar o que estava por vir em 28 de setembro de 2001, o dia em que o primeiro ‘Velozes e Furiosos‘ estreou nos cinemas brasileiros. Quase 20 anos depois, a franquia alcança o seu nono capítulo – ‘Velozes & Furiosos 9‘, que finalmente chega às telas grandes do nosso país nesta quinta, 24. E é surpreendente constatar quanta coisa mudou nessas duas décadas, revelando que aquela velha máxima do vinho, que melhora com o tempo, se aplica aos blockbusters.
Quer dizer, com perdão da metáfora, essa uva tinha quase tudo para virar vinagre. Porém, não só soube se reinventar, como se tornou o retrato de duas gerações.
O primeiro filme, inspirado em um artigo de jornal sobre os rachas que aconteciam pelas ruas de Los Angeles, era estrelado pelos ainda pouco conhecidos Vin Diesel, Paul Walker, Michelle Rodriguez e Jornada Brewster. A força da história estava justamente em dialogar com o espírito daquela época, quando os jovens nascidos entre os anos 1970 e começo dos 80 (na virada da geração X para os millennials) queriam carros tunados e com nitro, colocando no volume mais alto músicas de artistas como Ashanti, Limp Bizkit, DMX e Ja Jule.
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Virou um fenômeno. Todo adolescente ou jovem adulto de 2000 e pouco foi extremamente impactado pela obra dirigida por Rob Cohen. Carros como Nissan Skyline GT-R, Mitsubish Eclipse e o Dodge Charger R/T ficaram como a marca sobre rodas dessa troca de gerações, assim como o característico som da entrada do óxido nitroso nas câmaras de combustão do motor.
Momento de se reinventar
Eventualmente, Diesel, Walker e Rodriguez foram buscar novos ares nas carreiras. O terceiro filme, ‘Velozes e Furiosos: Desafio em Tóquio‘, partiu para o oriente e tentou mergulhar em outro fenômeno da época, o drift. Não funcionou. Aquele parecia o fim da franquia. O tempo havia passado. Já era 2009, oito anos após o lançamento do primeiro longa, que o diretor Justin Lin mudou o jogo. Ele, que também havia comandado o terceiro capítulo, finalmente pode contar com o retorno do quarteto original, promovendo uma espécie de reboot na série. Não, ele não recontou a mesma história do começo, mas aproveitou os personagens originais para reestabelecer as bases daquele universo. Não à toa, a produção em inglês se chama ‘Fast & Furious‘ – quase o mesmo título do original, que é ‘The Fast and the Furious’. Isso não quer dizer que Lin não tenha trazido elementos novos. O chinês de Taiwan já estava de olho da mudança de foco do cinema e do público, com os super-heróis tomando um grande espaço em Hollywood. Ainda que não tenham superpoderes, os personagens Domic Toretto, Brian O’Conner e Letty Ortiz ganharam ares de invencibilidade, pulando de um carro em movimento para outro, ou desviando de balas como se não fossem nada. A franquia não tinha ainda caído nas graças da crítica antes, mas o resultado de ‘Velozes & Furiosos 4’ é ainda pior nesse sentido. A produção tem, até hoje, a pior média da série no compilador de críticas Rotten Tomatoes: 28%. Não importa: aquela história finalmente fez sentido para o público, para a Universal Pictures e, principalmente, para o elenco. A longevidade de ‘Velozes & Furiosos’ estava consolidada ali, com a série sendo definitivamente abraçada pela geração do milênio, daqueles que nasceram entre 1981 e meados dos anos 1990. Não à toa, os dez longas da série (incluindo o spin-off ‘Hobbs & Shawn‘) somam até aqui uma bilheteria global conjunta de US$ 6,2 bilhões, com dois desses filmes tendo passado da marca de US$ 1 bilhão.
Agora, com um ano de atraso por causa da pandemia, ‘Velozes & Furiosos 9’ chega com uma fórmula consolidada e o retorno do diretor Justin Lin. Como poucos conseguem, ele e o roteirista Daniel Casey misturam no mesmo caldeirão elementos das produções de super-heróis, espionagem e filmes de ação dos anos 1980. Não há inovação e a tela transborda clichês, mas é isso justamente o que o público, a essa altura, espera. Nessa evolução para se adaptar aos tempos modernos, é curioso ver que os carros perderam parte de seu protagonismo na história. Afinal, com o Uber e a revolução dos serviços online, com debates sobre a necessidade de se possuir versus usufruir, os carros não estão mais no zeitgeist de quem nasceu a partir de meados da década de 1980. A indústria automobilística, em todo o mundo, vende cada vez menos. Coincidência ou não, a transformação iniciada por Justin Lin em 2009 chega em 2021 completamente adaptada a isso. Os carros estão lá e têm a sua relevância – há até no novo longa uma parte dedicada a NASCAR, categoria de stock cars americana -, mas são como referências e citações para os fãs mais inveterados. Pouco agregam para a ação que está sendo contada na tela. Em tempos em que o debate entre as gerações millennial e Z tomou as redes sociais, ‘Velozes & Furiosos’ soube como poucas franquias pular das ambições do finalzinho da geração X e embarcar nos desejos de muitos daqueles que vieram depois e, hoje, estão na casa dos 39 aos 25 anos. Agora, com quem nasceu a partir de 1997 finalmente entrando no mercado consumidor, ‘Velozes & Furiosos’ já marcou a despedida com o seu décimo capítulo, que chega aos cinemas em um futuro próximo. Certamente, com mil perdões aos fãs, essa série de filmes irá representar o início e o auge da cultura millennial muito mais do que ‘Harry Potter‘ – e certamente vai causar bastante vergonha alheia (o famoso “cringe”) para as gerações posteriores. Azar delas.