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“Precisamos de ilhas de sensibilidade no meio da barbárie”, diz Miguel Falabella sobre ‘Veneza’
Diretor e elenco falam sobre a experiência com o longa-metragem, adaptação de uma peça argentina
Apenas o segundo trabalho de Miguel Falabella como diretor nos cinemas, com estreia marcada para esta quinta-feira, 17, nos cinemas, e em breve no streaming, ‘Veneza’ é o que podemos chamar de realismo fantástico — gênero que consagrou, na literatura, Jorge Luis Borges e Gabriel García Márquez. Mistura sonho e realidade, sempre com os limites entre os extremos borrados, e com um exercício de criatividade que salta na tela.
Na trama, escrita pelo argentino Jorge Accame, acompanhamos a rotina de um bordel. Gringa (Carmen Maura) é a líder, já combalida pela velhice e a cegueira. Há, ainda, um homem que cuida do lugar (Eduardo Moscovis), uma prostituta (Carol Castro) que se envolve com uma mulher trans não assumida (Caio Manhente), a “mãe” de todos (Dira Paes), uma prostituta analfabeta (Danielle Winits) e uma outra adoecida (Maria Eduarda de Carvalho).
No meio dessa imensa diversidade de personagens, e tramas que se entrelaçam, a magia acontece quando Gringa diz, como numa alucinação fixa, que precisa ir para Veneza. Precisa embarcar para a cidade e encontrar um antigo amor — que conhecemos aos poucos, em delicados flashbacks inseridos na trama por Falabella e seu codiretor, Hsu Chien. Vamos, aos poucos, nos tornando cúmplices da fantasia da personagem.
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“O texto é uma fábula e eu sempre acreditei nas possibilidades cinematográficas dessa história. A América Latina é muito sonhadora, muito mágica, muito fantástica”, diz Miguel Falabella, em coletiva de imprensa com a participação do Filmelier. “É bom que as pessoas acreditem na capacidade dos sonhos, na sua capacidade criativa. Afinal, nós precisamos criar ilhas de sensibilidade no meio da barbárie”.
‘Veneza’ e Miguel Falabella
Durante a coletiva de imprensa, Falabella contou que não lembra exatamente quando o texto de ‘Veneza’, originalmente uma peça de teatro, chegou às suas mãos. Mas, logo de cara, se apaixonou pela história escrita pelo argentino Jorge Accame. “A peça, na Argentina, era montada de maneira muito simples, mas aquele texto me encantou”, relembra Falabella. “Afinal, é assim que tudo começa: com um texto, com a palavra”. Assim, logo de cara, Falabella adaptou o texto para os palcos brasileiros. Contou com Laura Cardoso, Arlete Salles, Ewerton de Castro, Débora Olivieri, Juliana Baroni e Jarbas Homem de Mello no elenco original. Depois, entraram Adriana Lessa, Thiago Fragoso, Mylla Christie e Jussara Freire, quando os atores anteriores não puderam continuar na adaptação. Agora, sem ninguém do elenco anterior, consagra o texto no cinema. “Sempre quando vamos fazer a adaptação de um espetáculo teatral para o cinema, sempre tentamos que aquele universo teatral seja visto no cinema, mesmo que os códigos artísticos sejam outros. Quando recebi o roteiro, fiquei muito emocionado”, conta Eduardo Moscovis, na coletiva de imprensa, quando também se emocionou ao falar sobre a situação do cinema nacional. “A gente está em uma briga de resistência dolorosa”.
Importância do filme
Ao longo da conversa com o elenco e Falabella, ficou evidente a importância da história para os envolvidos. O cineasta e roteirista contou sobre os percalços das gravações: tinham pouco tempo, Carmen Maura não podia gravar no Brasil por conta de alguns entraves e, ainda, tiveram que enfrentar uma tempestade elétrica no meio das gravações. “Aconteceu de tudo, mas precisamos vencer as adversidades”, diz ele. Além disso, enfrentou problemas para encontrar financiamento. “Eu nunca me coloquei numa prateleira, mas as pessoas tendem a nos colocar em prateleiras. Como sou um comediante popular, e fiz comédia popular, tenho esse DNA em mim. Mas eu gosto de fazer tudo, jogar em várias posições. É uma comédia dramática, uma fábula. Ouvi muito ‘não’”, diz ele. “Mas, no final, ficamos com um orçamento decente para a produção”. Mas quem mais emocionou, seja na coletiva ou nas telas, foi Carol Castro. A atriz interpreta a personagem mais forte de ‘Veneza’: Madalena, uma prostituta que quer sair dessa vida, ir para São Paulo, enquanto engata um romance com Júlio, uma mulher transsexual que não se assumiu para o pai. Apesar de Gringa ter o sonho mais evidente do longa-metragem, é a personagem de Carol que emana esperança e sonhos mais do que reais. E, para ela, sua personagem é um marco. Afinal, é o primeiro trabalho após se tornar mãe. “A Madalena é a personificação do amor. Mesmo nessa vida desgraçada que o Miguel retrata com tanta poesia, essas mulheres que não perdem a beleza e o brilho, a Madalena tem gana pelo amor, pela vida, pelos sonhos, pelo futuro”, diz. “Na época, eu nem estava me vendo como mulher, estava me vendo como mãe. Foi um renascimento, redescoberta”.