A Noite do FogoFilme na Netflix

Com seu terceiro longa-metragem, a cineasta Tatiana Huezo (‘Tempestade’) dá um salto para o cinema de ficção e a transição é, em termos gerais, um sucesso. Mesmo que as implicações de narrar ficção sejam diferentes (com um roteiro baseado no romance 'Prayers for the Stolen', de Jennifer Clement), a diretora mantém com ‘A Noite de Fogo’ uma continuidade temática de seus longas-metragens anteriores. São assuntos como a raiva e o medo daqueles que foram deslocados de suas casas pelo crime e pela guerra, com especial destaque para as vítimas femininas desses contextos. O filme é contundente em sua representação de uma dolorosa realidade no México contemporâneo, mas nunca cai na exploração da miséria de outros longas semelhantes. Pelo contrário, Huezo preserva sua maestria para retratar o que não se vê, a raiva e os medos que não se afirmam, mas que se entendem nas entrelinhas (ou entre as imagens). O impacto é um tanto diluído pelo imediatismo da ficção – o lirismo da memória narrada, fundamental em 'Tempestade', não tem lugar aqui – , mas sua proximidade para contar a história de uma mãe e uma filha, que representam tantas outras mulheres, consegue inevitavelmente e indiscutivelmente abalar o espectador.

Lalo Ortega

Editor do Filmelier