Filmes clássicos de grandes diretores

Comecemos nossa lista em ordem cronológica: do período do cinema mudo, 'O Cair das Folhas' é um dos curtas da cineasta francesa Alice Guy-Blaché, a primeira diretora da história do cinema - e provavelmente a única de sua época - que foi injustamente relegada ao esquecimento por um bom tempo parte do século 20, por falta de documentação de seu material. Embora seja um curta-metragem rudimentar para os padrões atuais, na época foi extremamente vanguardista. O filme brinca com a poesia em sua narração, representando a morte iminente como a queda literal das folhas no outono, com uma menina inocentemente tentando detê-la. É um lindo filme e um ótimo ponto de partida para se aproximar da primeira cineasta da história. [-]

Charlie Chaplin é um diretor clássico do cinema mudo, e 'Tempos Modernos' é um dos maiores triunfos da comédia e um marco importantíssimo na carreira do diretor e ator. Além de ser uma obra prima do gênero, o filme é famoso por sua crítica social. Em primeira análise, existe a crítica à sociedade industrial e a crescente automatização da jornada de trabalho e a precarização das condições trabalhistas, consequências do sistema fordista. Em segundo plano porém, existe outro subtexto para este filme: 'Tempos Modernos' reflete a carreira de Chaplin em uma época de transição onde o cinema mudo estava ficando ultrapassado. Ao lançar um filme mudo tão marcante em um período de tempos modernos onde os diálogos dominavam os cinemas, Chaplin provou que filmes mudos não eram feitos por mera restrição tecnológica, mas que eles possuiam seu charme e mérito únicos, e que seriam insubstituíveis. Por fim, Chaplin ainda brinca com essa transição de uma forma extremamente sagaz: ele faz apenas uma cena com som, pela primeira vez podemos ouvir sua voz na história do cinema, e, é emblemático que nesta primeira aparição de sua voz, tudo o que ele fala são balbúcios incompreensíveis, mera enrolação. [-]

O 'Encouraçado Potemkin' é um marco absoluto na história do cinema, e o filme precursor de diversas técnicas que mais tarde seriam popularizadas por todo o meio cinematográfico. O que Sergei Eisenstein faz aqui é romper com os padrões estabelecidos da forma narrativa clássica de Hollywood e criar algo completamente novo. Ele inventa diversos tipos de montagem e os utiliza para criar novos meios de transmitir mensagens ao espectador e evocar diferentes sentimentos. Outra grande ruptura que Eisenstein traz é com o foco narrativo: 'Encouraçado Potemkin' não acompanha a história pela ótica de um personagem principal, com um objetivo e uma progressão, que contracene com coadjuvantes e trace um caminho de ponto A a B. Aqui a história é de uma ótica coletiva, sobre um acontecimento e do ponto de vista geral, todos os personagens são os protagonistas e a unidade é o todo, os personagens não são nomeados, não existe o senso de individualização, é uma história coletiva. Um filme extremamente inovador e transgressor para a sua época, e um divisor de águas no cinema mundial. [-]

Conhecido como o mestre do suspense, Alfred Hitchcock diversas vezes trouxe inovações na indústria, e ‘Festim Diabólico’ é um ótimo exemplo disso. Esse clássico foi uma das primeiras tentativas de um filme em plano sequência, e o resultado foi um triunfo. Trucado com 10 planos que juntos dão a ilusão de estarmos vendo uma sequência, Hitchcock praticamente criou o conceito. A produção também marca a primeira vez em que o cineasta trabalhou com Technicolor, processo que coloria os filmes. Baseado em uma peça de 1929 escrita pelo romancista inglês Patrick Hamilton, a história logo de cara mostra dois amigos matando um colega de classe e escondendo o corpo em um baú, no meio da sala. Um deles, o mais sádico, decide dar uma festa enquanto o cadáver estará escondido durante todo o evento. A ideia deles era fazer o crime perfeito, a trama se desenvolve em torno disso. Talvez, esse seja um dos longas-metragens mais psicológicos de Alfred Hitchcock. Apresenta diálogos profundos e extremamente bem construídos e há um subtexto de que os dois protagonistas são gays - o que seria um escândalo para quem percebeu isso na época. Um filme genial e um dos mais interessantes de Hitchcock. [-]

O faroeste é provavelmente o gênero mais emblemático do cinema americano, e tanto o diretor John Ford quanto o ator John Wayne são os nomes mais populares dele. 'Rastros do Ódio' é o mais icônico de todos, junto com 'Stagecoach', também de Ford. Curiosamente, o motivo dele ser tão aclamado, é justamente por romper com os cânones idealizados do faroeste até então: aqui o vaqueiro não é o herói que cavalga ao pôr-do-sol, mas um anti-herói ambivalente, para não dizer questionável ou moralmente repreensível. O personagem de Wayne abre a porta, ainda que de maneira imperfeita, para questionar as implicações do mito do “velho oeste” e as atrocidades hediondas sobre as quais ele foi historicamente construído. 'Rastros do Ódio' se consagra por ser um dos primeiros filmes a desconstruir o gênero, podendo assim explorá-lo de maneira mais profunda e honesta. [-]

Um movimento cinematográfico importantíssimo foi o expressionismo alemão, e Fritz Lang é uma das mentes criativas mais conhecidas do movimento, e suas produções são dignas de estudo até hoje. ‘M: O Vampiro de Dusseldorf’ é um clássico e um marco na carreira do realizador. O suspense foi feito na década de 1930, quando o som era uma novidade, e consegue ser um filme com debates atuais sobre justiça e criminosos. A trama é baseada na história do assassino em série alemão Peter Kürten, que cometeu diversos homicídios e agressões sexuais em 1929, na cidade de Düsseldorf -- por isso ficou conhecido como "O Vampiro de Düsseldorf" ou o "Monstro de Düsseldorf". ‘M’ consegue explorar a moral do serial killer de uma forma que beira ao absurdo e ainda tem momentos cômicos. Um dos primeiros filmes sobre essa temática e também, um dos melhores. [-]

Outro grande movimento cinematográfico mundial foi a Nouvelle Vague, e ao lado de grandes nomes como Godard, Truffaut e Àgnes Varda, um que se destacou muito por seu experimentalismo e liricismo em suas obras foi Alain Resnais. Um dos trabalhos mais elogiados da carreira do realizador francês, 'Hiroshima, Meu Amor’ foi comparado a 'Cidadão Kane’ em termos de produção. Já quanto a história, alguns momentos se assemelham a ‘Casablanca’ - pelo contexto de guerra e até mesmo com uma referência ao filme, quando em certo momento vemos um bar chamado Casablanca. O roteiro é pura poesia, no nível de comparar um coração partido com o bombardeio de Hiroshima. ‘Hiroshima, Meu Amor’ é uma história sobre o quão dolorosas são as memórias que deixamos no passado e também as que caminham ao nosso lado ao longo da vida. Por mais que o tempo passe, certas cicatrizes nunca vão sarar completamente. Um filme forte, bonito e que tece críticas pontuais ao que aconteceu na Segunda Guerra Mundial. [-]

Agnès Varda foi um dos maiores nomes do cinema mundial. Baixa em estatura, mas gigante em seu trabalho, Varda foi uma pioneira, influenciadora e figura central do movimento Nouvelle Vague, que redefiniu a sétima arte na França e no resto do planeta – e assinou longas-metragens como ‘Cléo das 5 às 7’ e ‘As Duas Faces da Felicidade’. Para a lista porém, escolhemos um filme mais recente dela. Aos 90 anos de idade a cineasta produziu esta autobiografia cinematográfica, em uma despedida pouco antes de morrer. Com a beleza que sempre marcou a sua obra, Varda olha para os eventos de sua vida de forma pessoal com charme e carinho. Agradável para os fãs do cinema e da pequena grande belga, mas também com apelo emocional o suficiente para envolver os neófitos. [-]

A dupla de artistas Maya Deren e Alexander Hammid são os responsáveis por essa obra surrealista. ‘Tramas do Entardecer’ é quase uma versão feminina de ‘Um Cão Andaluz’, de Luis Buñuel. A produção é cheia de imagens desconexas que vão moldando toda a psique da personagem feminina, em diversos momentos não sabemos se ela está sonhando ou delirando e tudo é esclarecido no desfecho. É um filme bastante curioso, imersivo e sensorial, mas é preciso ter paciência, pois são 15 minutos que podem parecer eternos se você não estiver investido na história. [-]

Inspirado na vida magnata William Randolph Hearst, este é, para alguns, o melhor filme de todos os tempos. Dirigido, co-roteirizado e estrelado por Orson Welles, este reluzente pérola do cinema Hollywoodiano traz diversos elementos próprios a uma grande história: críticas sociais e políticas, um interessante retrato da mídia nos anos 1940, uma trágica história de amor e uma grande, memorável e inesperada reviravolta. Além, claro, de ser uma aula irrepreensível de linguagem cinematográfica. Faturou o Oscar de Melhor Roteiro, além de outras oito indicações. [-]

‘Crepúsculo dos Deuses’ é provavelmente o filme mais marcante da Era de Ouro de Hollywood, e Billy Wilder provavelmente o diretor mais importante de seu período. O título original, ‘Sunset Boulevard’, é uma referência a avenida paralela a Hollywood Boulevard – onde, na Era de Ouro do cinema, havia grandes estúdios e moravam as estrelas em suas enormes mansões. Na obra-prima de Billy Wilder (diretor de ‘Se Meu Apartamento Falasse’), temos uma história metaficional muito incomum para sua época, que lhe valeu o Oscar de melhor roteiro (música e direção de arte também foram premiadas). É um clássico essencial para quem é fã do cinema de Hollywood ou da sétima arte em geral. [-]

Um dos melhores e mais impactantes filmes de Sergio Leone, pai do faroeste Spaghetti, ‘Era Uma Vez no Oeste’ é daquelas produções para sentir e mergulhar na proposta. Afinal, ao longo de 175 minutos, o cineasta brinca com os estereótipos e tipos mais comuns do western para criar um filme lírico, quase contemplativo, que se tornou parte da santíssima trindade dos faroestes -- ao lado de ‘Três Homens em Conflito’ e ‘Por Um Punhado de Dólares’. É preciso embarcar na proposta do longa, que cruza a história de quatro estranhos personagens (uma ex-prostituta, um bandido, um pistoleiro de aluguel e um homem misterioso) em um ambiente árido que exigirá tudo deles. Isso sem falar da trilha sonora marcante de Ennio Morricone (oscarizado por ‘Os Oito Odiados’), que soube mesclar todos os sentimentos que surgem a partir da história com o potente e marcante som da gaita. [-]

Glauber Rocha foi um transgressor, um dos mais importantes nomes do cinema brasileiro e grande expoente do Cinema Novo, e 'Deus e o Diabo na Terra do Sol' é uma de suas maiores obras. Em uma história de fugitivos e foras da lei no sertão, em uma terra onde ninguém está por ninguém, Glauber aborda diversos temas, como misticismo, cultura popular e religião por meio de simbolismos, enfatizando que o homem deveria escolher sua própria crença e caminho, em vez de se deixar guiar por influências externas. O diretor não se atém ao momento de sua época, mas trata questões atemporais do Brasil, como os fenômenos que alienam o trabalhador e distraem sua percepção da própria realidade com promessas intangíveis. [-]

Considerado um dos cineastas mais influentes e característicos ​​da história, Andrei Tarkovski é conhecido por uma filmografia que evoca temas metafísicos e meditações profundas sobre o tempo, a memória, a fé e a melancolia, por meio de imagens que buscam enfatizar a passagem do tempo, o tempo e a contemplação. Dentro dessa tradição, 'Stalker' é provavelmente o mais famoso e menos impenetrável de uma filmografia que mal cobriu uma dúzia de longas-metragens. Através de seus personagens (um escritor e um cientista, guiados pelo "stalker" titular), o filme se torna uma profunda meditação sobre a consciência humana, seus desejos mais profundos e suas contradições entre fé e conhecimento. Para aqueles que desejam mergulhar em seu estilo taciturno de planos gerais e belas imagens poéticas, esta é certamente uma experiência potencialmente momentosa. [-]

O sueco Ingmar Bergman é um dos grandes nomes do cinema mundial, com uma vasta filmografia de mais de 40 filmes, dentre os quais ‘O Sétimo Selo’ é, provavelmente, o seu filme mais conhecido, baseado em uma peça teatral que ele mesmo escreveu. O longa se passa em um período sombrio da Idade Média, e Max von Sydow, outro grande nome do cinema, vive um cavaleiro medieval que deve evitar o seu próprio fim - e, para isso, joga xadrez contra a personificação da Morte. Mesmo que você não tenha assistido a ‘O Sétimo Selo’, certamente já viu uma das diversas referências à obra já feitas no cinema e na TV. Temas recorrentes da carreira do cineasta, como o sentido da existência, a inevitabilidade da morte e o questionamento da fé estão todos presentes aqui, e exemplificam muito bem a filosofia do diretor. [-]

Este é, sem dúvida alguma, o trabalho mais marcante da musa Catherine Deneuve e do diretor Luis Buñuel – e, quem sabe, um dos mais famosos representantes do cinema francês, ainda que dirigido por um espanhol. Baseado no romance ‘Belle de Jour’, de Joseph Kessel, o título é um trocadilho com “belle de nuit” (dama da noite, como ficou popularizado aqui no Brasil), um eufemismo para prostituta – só que Séverine, a personagem de Catherine, trabalha apenas durante a tarde. Outra curiosidade é que o figurino leva a assinatura de ninguém menos que do estilista Yves St. Laurent. O longa-metragem é sexual, surrealista e escandaloso, como bem cabe no trabalho de Buñuel. Vencedor do Leão de Ouro do Festival de Veneza, ‘A Bela da Tarde’ é o filme que qualquer apreciador do cinema de arte precisa ter assistido – nem que seja para ter a propriedade de dizer “não gostei”. [-]

Akira Kurosawa é um dos grandes diretores japoneses senão o maior, mundialmente conhecido por seus épicos filmes de samurais. A maioria de seus filmes infelizmente não se encontra disponível online, então escolhemos Sonhos, que se distancia um pouco do tom geral de sua filmografia para uma experiência mais intimista e pessoal. Este é um filme marcante, que consegue despertar o interesse sobre a cultura japonesa, especialmente se você tiver visto na infância. É de encher os olhos a quantidade de beleza e referências desta produção. ‘Sonhos’ pode ser uma ótima introdução ao cinema de Kurosawa, pois apesar de ser um dos últimos trabalhos do realizador, é um de seus filmes mais poéticos e fáceis de ver. É possível dizer também que, por ser uma produção lúdica, é primoroso ver como a fotografia é belíssima, te transportando para uma atmosfera de sonhos e cada conto retratado no filme tem essa característica. ‘Sonhos’ é uma das obras-primas de Akira Kurosawa e do cinema. [-]

Tratando do cinema japonês, não podemos deixar de lado um de seus traços mais característicos: a animação. Para isso escolhemos um dos filmes mais singelos e simpáticos do Studio Ghibli e do diretor Hayao Miyazaki, ‘Meu Amigo Totoro’ é daquelas pérolas que merecem ser vistas, revistas e apresentadas aos filhos, sobrinhos, netos e afins. Afinal, com uma delicadeza característica dos filmes do estúdio japonês, aqui acompanhamos a jornada de duas irmãs que precisam se mudar para uma casa rural com o pai, enquanto a mãe passa por um tratamento no hospital. A partir daí, as duas passam a interagir com uma criatura da natureza, apelidada de Totoro. É uma jornada particular muito emocionante, recheada de momentos sensíveis e profundos, ainda que a narrativa em momento algum comprometa o seu tom infantil e direcionado para os menores. Difícil não ter vontade, enquanto sobem os créditos, de ter seu próprio Totoro. [-]

Rogério Sganzerla é o maior expoente do movimento de contracultura que foi o cinema Marginal, rompendo com as estruturas do cinema Novo brasileiro e trazendo novos discursos visuais. 'O Bandido da Luz Vermelha' é livremente baseado na vida do bandido João Acácio Pereira da Costa, que aterrorizou o Brasil nos anos 1960. Esta é a obra mais popular do chamado "Cinema Marginal" brasileiro, e revela a desesperança das pessoas no Brasil urbano que estava surgindo. Sganzerla compõe um cinema tão político e pessoal, que em nenhum outro lugar do mundo, em nenhuma outra conjuntura um filme como esse seria concebido. Homenageando grandes mestres que Sganzerla admirava, como Godard e Orson Welles, ele faz um filme extremamente transgressor e emblemático, recheado de cinismo e deboche, com críticas ácidas à nossa sociedade e sua organização. Em 'O Bandido da Luz vermelha', a esculhambação e a avacalhação são adotadas como estética, para desenhar explicitamente o significado de frases como "quando a gente não pode fazer nada, a gente avacalha", ou então "o terceiro mundo vai explodir e quem estiver de sapato não sobra". [-]

O "filme de cabeceira" para qualquer amante de cinema, uma obra-prima dirigida por Francis Ford Coppola e que é uma verdadeira análise da máfia e da imigração italiana nos Estados Unidos. 'O Poderoso Chefão' não só influenciou o que seria feito a partir dali, se transformando em um dos melhores filmes de todos os tempos, como também foi um dos primeiros responsáveis a trazer Hollywood de volta aos seus anos dourados. [-]

Assim como é impossível classificar a filmografia de David Lynch em conceitos e definições específicos, é extremamente difícil determinar qual de seus filmes é o ponto de partida ideal para mergulhar nele. Mas esse ponto de partida pode ser 'Blue Velvet', talvez o que mais concentre os seus interesses estéticos e temáticos de uma forma mais digerível, embora não menos estranha e perturbadora. Assim como a série 'Twin Peaks' faria anos depois, 'Blue Velvet' propõe uma jornada dantesca às profundezas obscuras do modo de vida americano, por trás da fachada de bairros pacíficos com cercas brancas, jardins coloridos e famílias unidas, um olhar direto e destemido para toda sujeira que há sob as rosas. [-]

Steven Spielberg é basicamente o pai do cinema blockbuster moderno. Com uma habilidade de conduzir e manipular emoções como ninguém, filmes mundialmente conhecidos e uma filmografia marcada por franquias clássicas como 'Indiana Jones' e 'O Parque dos Dinossauros'. Considerado um dos maiores filmes da história, 'Tubarão' é o primeiro blockbuster de verão do cinema moderno, que ajudou a restabelecer Hollywood e a definir o modelo de negócio da indústria. Isso, somado a uma trilha sonora inesquecível que evoca puro terror e uma direção impecável de Steven Spielberg, faz com que 'Tubarão' permaneça como uma das aventuras mais emocionantes e marcantes da história do cinema. [-]

Stanley Kubrick foi um diretor marcante e extremamente prolífico, tendo criados obras primas em diversos gêneros do cinema, e alguns dos filmes mais importantes da história. Seu último (e mais polêmico) filme é tecnicamente e visualmente impecável, com uma história recheada de apelo sexual e mistério. Uma produção tão conturbada que entrou para o Livro dos Recordes como aquela que teve o maior período continuo de gravações na história do cinema - 400 dias. Muito se teoriza também que a morte de Kubrick, pouquíssimos dias após a finalização do filme, estaria ligada aos temas denunciados no filme, que fariam referência a práticas cometidas pela alta sociedade de Holywood [-]

A diretora francesa Claire Denis tem uma extensa e importante filmografia, marcada por diferentes fases. Ela é conhecida por ‘Bom Trabalho’, ‘O Intruso’, ‘Minha Terra, África’, entre outras produções. Como estas não estão disponíveis, escolhemos para representá-la ‘High Life’ acompanhamos uma nova empreitada da cineasta francesa, ela trouxe uma ficção científica, que tem Robert Pattinson como protagonista. Não é um filme fácil, mas é bem interessante de assistir, é quase uma experiência científica. O filme remete a ‘Solaris’ de Tarkovsky, em trechos bem específicos, talvez pelo clima de mistério e também pela solidão, que acompanha o personagem de Pattinson - que está brilhante. O elenco também conta com Juliette Binoche, André Benjamin e Mia Goth. [-]

Coutinho é um mestre documentarista, em sua filmografia praticamente existe um subgênero que são os filmes de conversa, e 'Edifício Master' é provavelmente o mais abrangente deles. É um filme sobre o Rio, sobre Copacabana, sobre o prédio, mas nada disso tem destaque. Em vez de mostrar Copacabana, Coutinho se debruça para dentro dos apartamentos e faz com que enxerguemos ela pelos olhos de outras pessoas , e todo o desenho cria a atmosfera para isso: a câmera e a equipe entram no prédio, Coutinho se apresenta, pede licença e então dá total atenção a cada indivíduo que compõe esse microcosmo que é o edifício. Coutinho tem uma habilidade impressionante de fazer as pessoas se abrirem, e assim procura o brilho contido em cada pessoa como se fossem jóias brutas, cuidadosamente as lapidando, conduzindo suas conversas de maneira magistral para assim extrair algo de um valor inestimável. No final, temos um universo inteiro dentro de um prédio, e por trás de cada porta poderíamos ter um filme único. [-]

Clint Eastwood é um ótimo exemplo de profissional que consegue brilhar como ator e diretor. Como diretor, ele se assume um formalista, trabalhando com a narrativa clássica com maestria. Aos 90 anos, segue muito prolífico, criando novas obras e ainda atuando. Um traço comum de sua filmografia são filmes que questionam o sonho americano e o que ele se tornou, o que é curioso, já que Clint é um republicano assumido. No comando de ‘Menina de Ouro’ Eastwood mostra que sua capacidade de direção é impecável. Ao lado de Hilary Swank, ganhadora do Oscar pela segunda vez com essa produção, temos uma história forte, envolvente e com uma valiosa lição de moral. [-]

Wong Kar-Wai é um dos nomes mais relevantes do cinema asiático contemporâneo, com uma filmografia fortemente marcada por histórias de amores, muitas vezes impossíveis. Seria tecnicamente correto, embora limitante, dizer que 'Amor à Flor da Pele' é um dos mais belos filmes sobre amor e desgosto da história do cinema. Lançado com a chegada do novo século - e milênio - mas ambientado na década crucial dos anos 60 para a história asiática moderna, 'Amor à Flor da Pele' não é apenas uma ode pós-moderna ao desejo de intimidade, mas também à inevitável transitoriedade tudo o que existe, cujos restos nada mais são do que memórias impalpáveis, inalcançáveis ​​e cada vez mais turvas. O diretor Wong Kar-Wai consegue captar no filme a única coisa que resta no final: o deslocamento, a sensação de ficar em um tempo e lugar que não existe mais e para o qual sempre se anseia voltar. [-]

Chantal Akerman foi uma diretora europeia de extrema relevância, e sua filmografia marcada por fortes obras feministas, por mais que ela mesma não gostasse de ser limitada apenas a isso. Filmado poucos meses antes da morte de sua mãe - uma sobrevivente do Holocausto - 'Não é um Filme Caseiro' é também o último filme da grande Chantal Akerman ('Jeanne Dielman'). Fiel à filmografia anterior, este filme também consegue conjugar o dramático com o mundano num documentário, de forma intimista e sensível. Uma obra de arte tão pessoal quanto universal, o filme captura alguns dos últimos momentos de Chantal e sua mãe, conversando e trocando memórias, dotada de lampejos de amor e da dor do desenraizamento da imigração. O filme é um fragmento genuíno da relação entre as duas, e é muito significativo como seu filme testamento, pois imortaliza a relação dela com a mãe, pouco antes de Chantal mesmo falecer. [-]

O diretor Jean-Luc Godard é um dos grandes nomes do cinema mundial, principalmente por conta do trabalho produzido durante a explosão da Nouvelle Vague. Ainda na ativa, o franco-suíço, hoje, produz menos que em seus tempos áureos, mas ainda busca um olhar de inovação dentro de suas obras. ‘Imagem e Palavra’ vai justamente nesse caminho, em uma história contada em cinco partes (como no número de dedos de uma mão), que reúne diferentes expressões da arte para apontar um único problema: a ineficiência do cinema como arma de protesto e denúncia contra as grandes atrocidades da humanidade. Não é para todos, nem para qualquer momento. Prepare bem o espírito antes de assistir - ainda assim, assista. Trata-se de uma reflexão necessária. Vale ressaltar que, a pedido do próprio diretor e por escolha artística, nem todos os diálogos do longa estão traduzidos nas legendas. A intenção é justamente mexer com a percepção do espectador. [-]

A cineasta argentina Lucrecia Martel tem um cinema íntimo e pessoal, de uma personalidade fascinante e hipnótica. Sua estreia em 2001, 'O Pântano', já mostrava suas habilidades e muito de seu estilo, com um filme maduro e dotado de autorismo. Depois de nove longos anos de espera, a diretora Lucrecia Martel volta com este lúdico longa. ‘Zama’ é um filme sofisticado, muito bem feito, com um grande elenco e não é indicado a qualquer público. Uma produção que pode não ser facilmente entendida, requer uma longa reflexão, deixando a trama ainda mais envolvente aos amantes da cineasta. É um filme enigmático, confuso, pesado e também, muito apaixonante. [-]

Abbas Kiarostami é um dos nomes contemporâneos mais interessantes, com uma filmografia ousada e tocante, sempre buscou experimentar e desafiar as formas narrativas em suas possibilidades. Este é o primeiro longa-metragem de ficção que o consagrado diretor iraniano filmou fora de seu país natal, e um dos últimos antes de sua morte em 2016. 'Cópia Fiel' mantém o elegante estilo de enredos aparentemente simples na filmografia do cineasta, mas com uma profundidade que chega ao metafísico. O personagem principal, assim como o próprio filme, propõe um debate sobre autenticidade na arte, o quanto isso realmente importa e influencia em nosso julgamento, e enquanto o debate entre os personagens se desenvolve, o filme toma uma guinada em que ele coloca a própria teoria em prática, e temos um concreto sobre o tema discutido. Uma narrativa extremamente inovadora e impressionante, da maneira que Kiarostami sabe fazer, sempre subvertendo expectativas. [-]