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A desvalorização do real frente ao dólar não tem apenas impacto na inflação dos aluguéis (o IGP-M) e no custo dos alimentos para os brasileiros. Sobra, também, para a Netflix. Nesta terça (20), a gigante do streaming divulgou o mais recente relatório trimestral de resultados, comemorando a marca de 195 milhões de assinantes globais. Porém, teve uma região do mundo em que a empresa com sede em Los Gatos, Califórnia, patinou em termos de receita: a América Latina. Em grande parte, culpa da nossa moeda.
Até 1º de outubro de 2020 (os resultados da Netflix divulgados hoje são até 30 de setembro), o real havia perdido 40% de seu valor frente ao dólar americano no ano. De acordo com a Reuters, foi a maior desvalorização monetária em uma lista de 30 países acompanhados pela agência. No começo do 2020, US$ 1 equivalia a R$ 4,0232. No dia 1º, o valor estava em R$ 5,6546. Nesta terça, a moeda americana fechou em R$ 5,611.
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Por ser uma empresa americana, a Netflix contabiliza em seu balanço o ARPU (sigla em inglês para Average Revenue Per User, ou seja, o quanto recebe de cada assinante) em dólares. De acordo com o relatório mais recente, esse valor na América Latina foi de US$ 7,27 no último trimestre. Trata-se do menor ARPU da empresa em todo o mundo. Nos Estados Unidos e Canadá, por exemplo, o valor chega a US$ 13,40. Há um ano, a receita por usuário obtida pela Netflix na nossa região era de US$ 8,63. Por isso, mesmo com um crescimento expressivo de usuários na América Latina no período (de 29,38 milhões para 38,32 milhões), a receita trimestral nessa região do globo cresceu em menor ritmo: de US$ 741 milhões para US$ 789 milhões. Com a contribuição do real, a receita média por usuários de todo o mundo da Netflix diminuiu 1,6% entre agosto e outubro. A tendência, inclusive, é a América Latina cair para a rabeira financeira da Netflix. Por questões burocráticas, o balanço da empresa divide o mundo em quatro grandes regiões – e a América Latina é, neste momento, a terceira em faturamento. Porém, a APAC (Ásia e Pacífico) pulou nos últimos 12 meses de uma receita trimestral de US$ 382 milhões para nada menos de US$ 635 milhões. Lá, o ganho por usuário é de US$ 9,20. Em todo o mundo, a empresa americana fechou o trimestre com uma receita de US$ 6,436 bilhões (quase de R$ 36 bilhões).
Netflix “barata” na América Latina
Fazendo uma conversão simples, o valor padrão da assinatura da Netflix no Brasil, R$ 32,90, rende hoje um faturamento de apenas US$ 5,86 para a empresa de video on demand. Na prática, são os outros países que estão evitando uma queda maior no balanço da empresa na América Latina. Vale dizer que 2020 também não tem sido um ano fácil para outras moedas importantes na nossa região. O México, outro mercado relevante na América Latina, viu o seu peso mexicano perder muito valor a partir de março, no auge da pandemia. No entanto, a moeda se recuperou a partir do final de maio, recompondo parte do tombo – ainda que continue desvalorizada em relação a um ano atrás. No México, essa desvalorização e a aplicação de um novo imposto local elevaram a assinatura padrão da Netflix duas vezes em tempos recentes. Hoje, a mensalidade padrão por lá sai por 196 pesos mexicanos – US$ 9,29 ou R$ 51,92, em valores atualizados. Resta saber, agora, se a Netflix irá repassar para os consumidores brasileiros a desvalorização do real. O valor de R$ 9,90 cobrado pelo Amazon Prime (que inclui o Prime Video) e a promessa de um Disney+ por cerca de R$ 20 podem turbinar a competição e segurar os valores atuais por mais tempo.