Há dois anos, o astro Liam Neeson fez uma declaração que ninguém esperava que iria chegar tão cedo e tão rapidamente: ele estava prestes a se aposentar de vez do cinema de ação. Disse que já estava ficando velho e não fazia sentido continuar com o mesmo estilo de filmes. Faz sentido. Agora, já conseguimos sentir melhor os efeitos dessa decisão de Neeson com filmes como A Chamada, longa que estreou nos cinemas na quinta-feira, 24.
Qual a história de A Chamada?
Dirigido por Nimród Antal (de O Bandido e Predadores), o longa conta a história de um homem (Neeson), do ramo financeiro, que sai de casa para levar os dois filhos para a escola. O que ele não espera é que há uma bomba debaixo de seu banco de motorista. Se ele sair dali, tudo explode — incluindo ele e seus filhos. O que fazer? Quem armou isso?
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A partir daí, acompanhamos uma trama que pende mais para o thriller e para o suspense do que para a ação, ainda que Neeson continue como aquela figura que faz de tudo para defender os filhos e, apesar de deslizes, se tornar um pai exemplar no final do dia. É, assim, um Liam Neeson mais contido, que não desfere um único soco ao longo de todo o filme e que, por isso, tem numa cena de corrida de carros o seu ápice da ação e enfrentamento.
Liam Neeson fica rendido com uma bomba dentro de seu carro (Crédito: Paris Filmes)Segunda adaptação do longa-metragem El Desconocido, a história é naturalmente boa — se não fosse, não teria dois remakes até o momento, com mais a caminho. Você, como espectador, fica intrigado em saber como a situação irá se desenrolar e como o protagonista vai escapar vivo. A boa atuação de Neeson, que sempre se dá bem nesses papéis de personagens tentando sobreviver, também ajuda a dar o tom da boa narrativa da história.
Os erros de A Chamada
No entanto, o diretor Antal comete alguns pecados que enfraquecem a história. Por exemplo: toda a narrativa se passa dentro de um carro, mas nunca, em momento algum, o cineasta brinca com o sentimento claustrofóbico da coisa. Uma movimentação para pegar algo no porta-luvas, por exemplo, poderia desencadear um bipe de movimentação na bomba que está abaixo de seu banco do motorista. E aí ele retorna pro lugar? Fica parado? São pequenas sacadinhas que passam batidas e que poderiam deixar a trama mais intensa. Além disso, o final é bem diferente dos outros dois filmes e segue por um caminho diametralmente oposto do que vimos até agora. Por um lado, é bom: mostra que o filme não é um copia e cola descarado, sem qualquer sopro de inventividade no que é contado aqui.
Por outro, a revelação final é, basicamente, um furo de roteiro. Preste atenção no filme e perceberá como aquilo não é possível. Isso faz com que a história fique bem menos interessante e o impacto final, que poderia elevar o filme para outro patamar, o torna bobo — parece que o roteiro de Christopher Salmanpour não soube como encerrar a história sem se atropelar, deixando espaços na trama que fazem com que a gente questione tudo até ali. O fato é que Liam Neeson está realmente cansado. Dá pra ver na tela que ele não tem mais pique para fazer o que fez em Busca Implacável, A Perseguição e afins. A Chamada não é efetivamente ruim (até diverte em vários momentos com sua trama rocambolesca), mas é, tal qual Liam Neeson, sem vontade. Sem muita vida. Tomara que o astro se reencontre em outros cinemas em breve, que não sejam essas produções de ação genéricas e volte para o drama ou até mesmo para o suspense. Talento ele tem de sobra. Faltam bons projetos.
