Entre ‘A Chamada’ e ‘De Volta à Itália’, Liam Neeson é astro certeiro do cinema ação, drama e suspense
Apesar de já ter 70 anos, ator irlandês continua distribuindo tabefes por aí e mostra que também sabe emocionar
Se o cinema tem, hoje, um nome que transita facilmente entre os mais variados gêneros, este alguém é Liam Neeson. O ator irlandês, de 70 anos, fez seu nome principalmente nos anos 1990 e 2000, quando colecionou uma série de trabalhos memoráveis: desde o drama de Spielberg, em ‘A Lista de Schindler’, até chegar na empolgação de ‘Busca Implacável’.
Nos anos 2020, Neeson está colhendo os frutos de uma carreira diversa e que nunca se limitou a um único gênero. Com menos vontade de fazer filmes de porradaria, começou a buscar, cada vez mais, filmes introspectivos. Menos socos, mais diálogos. E, com isso, se reafirma como um dos nomes mais interessantes do cinema hollywoodiano em atividade.
Como foi o começo da carreira de Liam Neeson?
Liam Neeson nasceu na Irlanda do Norte, em 1952, sem muitas perspectivas: os pais não tinham muitas condições financeiras e Liam começou a atuar no mercado de trabalho como operador de grua e pugilista amador, aos 15 anos. No entanto, em 1976, a mosquinha do teatro o mordeu e Neeson resolveu se inscrever em uma companhia de teatro de Belfast.
Depois de anos de estudo, e algumas peças como protagonista, Neeson começou a sentir o gostinho do cinema. Foi convidado, em 1981, pelo cineasta John Boorman, para interpretar um pequeno papel em ‘Excalibur’, um filme passado na lendária época do rei Artur. Não teve muito destaque, mas foi o bastante para começar a fazer contatos e novos trabalhos.
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“Filmamos ‘Excalibur’ na Irlanda em 1980. Foi extraordinário. Tinha Helen Mirren e Nicol Williamson - que está morto agora, que Deus o tenha, um ator extraordinário. Lá estamos nós, todos vestidos com armaduras brilhantes e montados em cavalos. Foi como um sonho realizado, sabe? Contando esse mito arturiano, essa história que tem milhares de anos”, conta Liam Neeson, relembrando o seu primeiro papel nos cinemas, em entrevista à IndieWire.
Seus primeiros trabalhos, todos nos anos 1980, se concentram principalmente em produções televisivas de baixíssimo orçamento -- desde séries até filmes. A coisa foi engrenando quando, em 1987, aconteceu seu primeiro papel de destaque como um homem surdo em ‘Sob Suspeita’. Apesar de coadjuvante, foi elogiado e conseguiu se destacar.
A partir daí, os papéis secundários foram se amontoando, com algumas oportunidades melhores do que outras. Foi positiva, por exemplo, sua participação em ‘Dirty Harry’, com o astro Clint Eastwood, assim como sua atuação emocionante em ‘O Preço da Paixão’, de 1988. Tentou também emplacar seu próprio super-herói, com o obscuro ‘Darkman’.
“‘Darkman’, que fiz com Sam Raimi há 32 ou 33 anos, foi muito desafiador fisicamente, porque fiquei na cadeira de maquiagem por muito, muito tempo, por muitas horas. Eu também estava me preparando para um filme de boxe sem luvas logo depois disso. Eu era muito mais jovem, o que ajudou, claro”, contextualizou o astro, também para a IndieWire.
Mas tudo mudou quando o diretor Steven Spielberg viu Liam Neeson em um palco de Londres.
Liam Neeson depois de ‘A Lista de Schindler’
Diz a lenda que Spielberg estava em Londres, pré-produzindo o drama épico ‘A Lista de Schindler’, quando viu Liam Neeson atuando no teatro. Ficou animado com sua aparência física (o irlandês é alto, com 1,93m) e a força de sua voz. Foi o bastante para convidá-lo a estrelar a produção interpretando Oskar Schindler, industrial alemão que salvou pouco mais de mil judeus, durante a Segunda Guerra Mundial, por meio de um esquema da empresa.
Neeson agarrou essa oportunidade, 1993, como a chance de uma vida. Se entregou de corpo e alma e, como resultado, conseguiu uma indicação para o Oscar de Melhor Ator -- prêmio que, no entanto, foi para Tom Hanks por ‘Filadélfia’. Depois disso, até o final dos anos 2010, começou a receber propostas mais arrojadas e a estrelar grandes blockbusters.
Trabalhou com George Lucas em ‘Star Wars: A Ameaça Fantasma’, como o mestre jedi Qui-Gon Jinn; com Martin Scorsese em ‘Gangues de Nova York’; com Richard Curtis na comédia romântica ‘Simplesmente Amor’; com Bill Condon no elogiado ‘Kinsey: Vamos Falar de Sexo’; e, é claro, com Christopher Nolan como o vilão de ‘Batman Begins’.
Ele já era popular, mas tudo ficou ainda mais grandioso em 2008 com ‘Busca Implacável’.
Neeson, o astro dos filmes de ação
Lançado no segundo auge da carreira do irlandês, entre as estreias de ‘As Crônicas de Nárnia: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa’ e ‘O Amante’, o filme ‘Busca Implacável’ é muitas vezes considerado como um renascimento de Liam Neeson. Afinal, o ator parecia sem um “perfil” em seus filmes quando mostrou que funcionava muito bem como astro da ação.
Afinal, quando ele diz no telefone, para o sequestrador de sua filha, que vai “te procurar, te encontrar e te matar”, Neeson mostra que não precisa ficar espalhando sopapos por aí para causar tensão -- ainda que também seja muito bom nisso. Ele consegue passar esse clima de ameaça com seu jeito de falar, dando arrepios até mesmo no espectador que nada sabe.
O ator conta que literalmente pediu para Luc Besson, roteirista e produtor da franquia, considerá-lo para o papel desse pai tentando salvar a filha. “Eu disse: ‘Olha, Luc, tenho certeza de que não estou nem na sua longa lista de pessoas, mas você me consideraria?’”, conta. Acabou sendo escalado depois de três meses de preparação e filmagem em Paris.
Depois, veio a surpresa. “O filme estreou e foi bem primeiro na França. Depois foi para a Coreia do Sul. Então, lembro-me de receber algumas ligações de meus sobrinhos na Irlanda: ‘oi, tio Liam. Vimos seu filme’. ‘Qual?’. ‘Busca Implacável’'.” Eu disse que eles não poderiam ter assistido, ainda não tinha estreado. ‘Oh, bem, nós baixamos’. Eu pensei: ‘bem, isso é o fim’”. Mas não foi: além do sucesso com a pirataria, o filme fez US$ 226 mil de bilheteria, bem acima dos US$ 25 mil de orçamento. Garantiu, assim, duas sequências.
Também chacoalhou a carreira de Liam Neeson: depois disso, começou a fazer um filme de ação atrás do outro (e vários deles parecidos com ‘Busca Implacável’). Dentre uma longa lista, com alguns títulos realmente bons dentro de seus gêneros, filmes como ‘Desconhecido’, ‘A Perseguição’, ‘Sem Escalas’, ‘Caçada Mortal’, ‘Noite sem Fim’, ‘O Passageiro’ -- neste aqui, no auge da ação desenfreada e sem pensar muito, chega a lutar usando uma guitarra.
Também deu tempo para uma polêmica daquelas: Neeson, ao promover 'Vingança a Sangue Frio', soltou uma informação terrível. Questionado pelo jornal britânico Independent se já tinha sentido o desejo de vingança, se recordou de querer vingança contra ‘um preto bastardo’ depois de uma querida amiga de sua vida afirmar que foi estuprada. Obviamente, a afirmação não caiu nada, nada bem e o filme chegou a ser adiado pra esfriar o caso.
Liam Neeson se aposentou do cinema de ação?
Depois de tanto tiro, porrada e bomba, porém, Liam Neeson cansou do cinema de ação. Em 2021, já batendo na casa dos 70 anos, disse que não se via fazendo mais produções do gênero. “Há mais alguns [filmes de ação] que farei ainda neste ano - espero que a covid-19 nos permita. Há dois deles em fase de preparação, e acho que será isso. A não ser que passe a usar um andador ou algo assim”, explicou ao Entertainment Tonight.
"Tive uma cena de luta com um garoto — um adorável e doce ator chamado Taylor — e no meio da luta eu olhei para cima, estava sem fôlego e não custou nada para ele. Aí eu disse: 'Taylor, que idade você tem?' Ele disse: '25 ' e eu disse: 'Essa é a idade do meu filho mais velho!'", contou o ator, indicando como já estava se sentindo deslocado no set de filmagem.
Agora, esta sua nova fase começa a ficar evidente com os lançamentos mais recentes estrelados por Liam Neeson. Está fazendo filmes que cada vez mais exigem menos fisicamente do astro, como o recente ‘Sombras de um Crime’. O fato é que seja no drama, na ação ou no suspense, Neeson ainda é um astro completo e atraindo atenção por onde passa.
Publicado originalmente no 12 de abril de 2023, e atualizado no 23 de outubro de 2023.
Jornalista especializado em cultura, gastronomia e tecnologia, cobrindo essas áreas desde 2015 em veículos como Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites. Já participou de júris de festivais e hoje é membro votante da On-line Film Critics Society. Hoje, é editor do Filmelier.
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