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Crítica: ‘Ahsoka’ diminui o ritmo com seu episódio 3

Toda história, poderia dizer-se, precisa de suas mudanças de ritmo. Momentos para dar um respiro a seus personagens, desenvolver as relações entre eles, estabelecer (ou esclarecer) objetivos narrativos. É hora de decolar, o episódio 3 da série Ahsoka no Disney+, é esse necessário momento. E mesmo apesar dos sacrifícios na ação (e de incorrer em clichês da saga Star Wars), consegue um equilíbrio positivo.

Para bem e para mal, o terceiro episódio da série também se apoia em um dos elementos menos empolgantes – e mais criticados – das prequelas: a intriga e a política. Essas sequências, embora contribuam para estabelecer os interesses em jogo diante da nova e iminente ameaça do Grande Almirante Thrawn, também apontam para a tediosa necessidade de estabelecer a série como parte de uma narrativa interconectada com outras histórias.

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Nenhuma surpresa para ninguém

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Com a relação de mestra e aprendiz entre Ahsoka (Rosario Dawson) e Sabine (Natasha Liu Bordizzo) já restabelecida, o par de guerreiras parte em perseguição aos seus inimigos nas bordas da galáxia, com a informação obtida do mapa estelar. Elas esperam que a General Hera Syndulla (Mary Elizabeth Winstead) consiga reforços da Nova República para a missão. No entanto, Hera se depara com uma parede ao expor a urgência da missão a um grupo de senadores, que desconsideram seu argumento diante da necessidade de priorizar objetivos mais proveitosos para a consolidação da Nova República. As sementes da desconfiança, plantadas pelos traidores da República no episódio anterior, germinam em mais intriga. É o tipo de sequência que, apesar de sua importância para a narrativa de Ahsoka como série, resulta trivial e redundante no grande esquema das coisas. Para aqueles que estão adentrando a galáxia distante com esta série, talvez seja surpreendente descobrir que há agentes leais ao Império infiltrados na Nova República. Mas no universo interconectado e em constante expansão de Star Wars, isso não é surpresa para ninguém. É óbvio, até. Se não graças aos eventos da terceira temporada de The Mandalorian, sim graças à trilogia de sequências. É lógico que o Império (ou uma variante do mesmo) ressurja em algum momento. Assim, o terceiro episódio de Ahsoka se resigna, nesse ponto, a reiterar o óbvio e surpreender por meio das participações especiais, piscadelas e easter eggs. Nada de novo para ver aqui, apesar dos esforços de Mary Elizabeth Winstead e de outra aparição de Mon Mothma (Genevieve O’Reilly), para alegrar os fãs.

Biscoitos da sorte

Do outro lado da missão, temos Ahsoka e Sabine em uma viagem convenientemente longa pelo hiperespaço, para dar tempo suficiente para desenvolver ainda mais o seu vínculo de estrita mestra e aprendiz frustrada. Esta sequência é, mais uma vez, outro clichê de Star Wars: as cenas de treinamento Jedi às cegas já parecem praticamente obrigatórias. A jovem guerreira mandaloriana passa pelos exercícios de sua mestra, que, como um biscoito da fortuna intergaláctico, oferece frases de sabedoria como “ver com algo mais do que os olhos”. O droide Huyang (voz de David Tennant) comenta que o par vem de uma linhagem pouco convencional de Jedi, mas se algo é certo, é que essa sequência é convencional. Mais uma vez, a referência como um clichê. A questão só se torna encantadora graças às interpretações sinceras de Dawson e Liu Bordizzo.
Natasha Liu Bordizzo pode ser quem rouba a cena (Crédito: Lucasfilm)
No entanto, é aqui que Sabine, mais do que Ahsoka em si, se firma como o potencial coração da série. Ela é realmente uma aprendiz não convencional: não é habilidosa com a Força e está longe de ser habilidosa com o sabre de luz. Huyang está certo: ela é tudo menos o que se espera de uma Padawan. E por isso, ela poderia ser uma das personagens mais fascinantes de toda a saga. Minutos depois, o episódio 3 da série recorre a outro elemento do manual de Star Wars: os combates aéreos. Todos nós já sabemos como eles se desenrolam: inimigos aparecem no radar, a perseguição começa, os personagens dialogam pelo intercomunicador da nave. Vemos os inimigos fazendo o mesmo das cabines de suas naves. Tiros são disparados e, cada vez que um dos heróis derruba uma nave inimiga, há gritos e celebração. Tradição, portanto. Existem momentos brilhantes (como o que Ahsoka faz para defender a nave) e a direção de Steph Green (Watchmen) é eficiente o suficiente para emocionar. Mas, sem dúvida, o episódio 3 da série é uma mudança de ritmo necessária. Se ao menos não abusasse de recursos já vistos até a exaustão na série.

Confira nossas outras críticas da série Ahsoka por episódio:

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Lalo Ortega

Lalo Ortega é crítico e jornalista de cinema, mestre em Arte Cinematográfica pelo Centro de Cultura Casa Lamm e vencedor do 10º Concurso de Crítica Cinematográfica Alfonso Reyes 'Fósforo' no FICUNAM 2020. Já colaborou com publicações como Empire en español, Revista Encuadres, Festival Internacional de Cinema de Los Cabos, CLAPPER, Sector Cine e Paréntesis.com, entre outros. Hoje, é editor chefe do Filmelier.

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Lalo Ortega

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