'Ahsoka': a sombra (e o fardo) de Darth Vader em 'Star Wars'
Ver Anakin Skywalker em 'Ahsoka' emocionou os fãs, mas também demonstra a incapacidade de 'Star Wars' de transcender Darth Vader
"Deixei instruções muito específicas para que não haja mais filmes. Em definitivo, não haverá episódios VII ao IX", dizia George Lucas, criador de Star Wars, em um tempo muito, muito distante. "Isso porque não há uma história (...). A história de Star Wars é, na verdade, a tragédia de Darth Vader". Talvez seja por isso que a série Ahsoka, como tantas outras produções na "era Disney" da franquia, parecem obcecadas em retornar ao personagem e ao seu alter ego, Anakin Skywalker.
Talvez devesse ter sido previsto desde que, em 2015, Mickey Mouse inaugurou sua "administração" de Star Wars com o episódio VII, O Despertar da Força, cuja narrativa era, para todo efeito e propósito, um remix da original. Vader, o grande vilão da saga, já estava morto na narrativa há décadas. Mesmo assim, o novo antagonista, Kylo Ren (Adam Driver), não aspirava a nada além de ser como ele e continuar seu legado. Trocamos os Senhores Sith do Império Galáctico pelos Cavaleiros de Ren da Primeira Ordem, e pronto.
Essa obsessão, em retrospecto, parece ser uma indecisão (ou será incapacidade?) da equipe criativa sob o guarda-chuva de Mickey Mouse para contar novas histórias além do personagem mais icônico da saga.
Em parte, faz sentido: os seis episódios criados por George Lucas são os alicerces e a essência de Star Wars, e todos eles, de alguma forma, giram em torno de Anakin Skywalker (ou seu filho, Luke). Não é preciso mais do que ver sua silhueta ou ouvir sua respiração para nos transportar para esta galáxia distante. Na história do cinema, nem Vito Corleone tem tamanho poder.
Mas em uma franquia situada em uma galáxia autêntica, cheia de possibilidades, mundos e até épocas inexploradas, a vida de um único homem (que terminou aos 45 anos) parece pequena, limitada, mesmo que ele tenha aprendido a persistir além da morte através da Força.
Pode ser que muitos fãs tenham aplaudido e gritado quando Hayden Christensen apareceu como Anakin Skywalker em Ahsoka. Da minha parte, não pude evitar sentir mais do que tédio. Mal faz um ano desde que vimos o rosto do cara pela última vez.
Sempre se trata de Darth Vader
Durante seu domínio como mestre e senhor da galáxia distante, George Lucas afirmava que Star Wars era como poesia, porque "rimava". Ele falava sobre a natureza cíclica de sua história: a galáxia mergulha e emerge em guerras, enquanto heróis ascendem à glória e caem para o Lado Sombrio. Tão simples quanto ver o bem e o mal lutando através das eras.
Até certo ponto, a trilogia de sequências da Disney começou honrando esse tema. No entanto, eles carregaram a falha crucial de se ancorar no passado. O primeiro filme, como já mencionamos, apelou demais para a nostalgia segura, limitando-se a apresentar personagens novos que vivem à sombra dos antigos, agarrados às máscaras chamuscadas de seus ídolos.
"Deixe o passado morrer", diz Kylo Ren a Rey (Daisy Ridley) na sequência, Os Últimos Jedi, de 2017, na qual ele mesmo destrói seu capacete (feito à semelhança do de Darth Vader) e na qual o diretor Rian Johnson lançou as bases para mudanças radicais no status quo de Star Wars. "Mate-o se for necessário". Mas não teve sucesso. Os fãs de Star Wars se rebelaram e derramaram sua raiva nas redes sociais.
O resultado? A infâmia de "De alguma forma, Palpatine retornou". Era como se o episódio VIII não tivesse existido, reescrito retroativamente por A Ascensão de Skywalker, em 2019. Kylo Ren tinha seu capacete de volta. Mesmos heróis, mesmos vilões, mesmo romance e os Jedi retornariam no final de tudo.
Mesmo que Darth Vader e Anakin Skywalker não apareçam como tal na trilogia de sequências (exceto por uma breve participação de voz no último filme), está claro que sua sombra paira sobre a narrativa. Não apenas na emulação de Kylo Ren, mas também no fato de que Luke Skywalker (Mark Hamill), seu mestre e tio, ressente sua queda para o Lado Sombrio, assim como aconteceu com o pai ao qual ele tanto se esforçou para salvar. Rima, você vê?
No entanto, os problemas se agravam com as séries de televisão que a Lucasfilm lançou no Disney+. E, embora Obi-Wan Kenobi tenha sido a pior infratora nesse sentido, Ahsoka não fica para trás.
Ahsoka repete o vício de voltar a Anakin Skywalker
Embora Ahsoka Tano tenha sido criada no filme e na série The Clone Wars como uma Padawan para Anakin Skywalker, a fim de dar maior contexto e peso à sua queda para o Lado Sombrio, é preciso reconhecer seu valor como personagem individual.
Ela é a primeira mulher Jedi propriamente desenvolvida na narrativa da franquia, e talvez seja um de seus personagens mais radicais: ela triunfou onde Os Últimos Jedi falhou, ao se mostrar uma guerreira do Lado Luminoso da Força que não está vinculada ao credo antiquado dos Jedi. Ela é a promessa de que um caminho diferente é possível tanto para os personagens dentro da narrativa quanto para a franquia.
Por isso, a aparição de Hayden Christensen como Anakin Skywalker/Darth Vader é tão frustrante. Embora ela esteja sempre ligada ao seu mestre, seus criadores souberam levar Ahsoka por caminhos interessantes. Ela não precisa ser definida pela sombra daquele que não é apenas o personagem mais reconhecível da saga, mas também o mais desgastado e clichê.
Embora os remorsos de Ahsoka em relação a Anakin façam sentido do ponto de vista do personagem (informando seus sentimentos em relação a Sabine Wren, sua própria Padawan), para a franquia, a sombra de Darth Vader já é pouco mais que um fardo. Embora seja bom ver o outrora odiado Hayden Christensen se redimir perante os fãs, esperamos não vê-lo novamente por um bom tempo. Pelo bem de uma franquia cujos números estão cada vez mais fracos.
Confira nossas críticas da série Ahsoka por episódio:
- Episódios 1 e 2: um começo promissor para a série de Star Wars
- Episódio 3: Ahsoka diminui o ritmo
- Episódio 4: meia temporada e pouco a dizer
- Episódio 5: mais fan service do que substância
Lalo Ortega é um crítico mexicano de cinema. Já escreveu para publicações como EMPIRE em español, Cine PREMIERE, La Estatuilla e mais. Hoje, é editor-chefe do Filmelier.
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