‘Ambulância: Um Dia de Crime’ dá sentido ao estilo Michael Bay de cinema
Se você tiver paciência e analisar a filmografia do cineasta Michael Bay, verá consistência. Seja na saga ‘Transformers’, em ‘A Ilha’ ou ‘Armageddon’, o norte-americano tem um estilo muito próprio: durações exageradas, explosões para todos os lados, uma fotografia que imita a estética de videoclipes e exagero na quantidade de câmera tremida. Apesar do cansaço dessa repetição, finalmente Bay encontra um filme em que esses elementos fazem sentido: ‘Ambulância‘.
Estreia dos cinemas desta quinta-feira, 24, o longa-metragem conta história de dois assaltantes (Jake Gyllenhaal e Yahya Abdul-Mateen II) que sequestram uma ambulância para fugir de policiais. O veículo é a única saída da dupla. Dentro dela, porém, há dois personagens que trazem uma complicação a mais para os protagonistas Danny (Gyllenhaal) e Will (Yahya): a médica de emergência Cam (Eiza González) e o policial ferido Zach (Jackson White).
Na trama, todos os elementos de Bay são perceptíveis: a câmera tremida está lá, assim como a duração exagerada com mais de 2h15. Explosões estão mais contidas, mas há um exagero tremendo com o uso de imagens feitas por drones.
Em ‘Ambulância’, Bay faz sentido
Em algo quase inédito no cinema de Michael Bay, o cineasta encontrou uma história que faz com que esses elementos façam sentido. A câmera tremida, por exemplo, dá desespero na história de dois assaltantes. O ambiente claustrofóbico é acentuado conforme a imagem não fica parada estaticamente em um dos atores. Cria-se uma sensação de desorientação, de falta de estabilidade, que impactam diretamente na narrativa proposta pelo filme. Enquanto isso, o tom grandioso da produção parece ser usado com um pouco mais de parcimônia – em ‘Transformers’, por exemplo, isso é tão sem propósito em alguns momentos que o filme está mais perto de um grande brinquedo de parque de diversões do que cinema. ‘Ambulância’, por outro lado, exige que essa grandiosidade esteja presente para que o espectador compreenda melhor a dimensão daquele acontecimento localizado em um veículo. Até mesmo a condução confusa dos atores funciona em ‘Ambulância’. Gyllenhaal é o ponto alto: enquanto o excepcional Yahya Abdul-Mateen II parece se levar a sério demais, o ator de ‘O Segredo de Brokeback Mountain‘ traz uma loucura insana, que até faz o filme se confundir em gêneros, e faz com que a experiência seja mais interessante.
Mas, porém, todavia, entretanto…
Apesar dessa empolgação com os exageros de Michael Bay fazendo sentido no cinema desde ‘Armageddon’, é claro que ‘Ambulância’ não é perfeito. Há exageros, elementos cansativos, escolhas criativas que vão além, além de piadas que não fazem sentido algum – o personagem de Gyllenhaal reclamando da sujeira na cashmere, a dupla cantando no meio da perseguição. Típico de Bay, que parece dar uma piscadela à audiência acostumada com seu estilo.
Essa suspensão da realidade, também comum na filmografia de Michael Bay, é o grande calcanhar de Aquiles de ‘Ambulância’. Enquanto a câmera tremida cria a sensação de claustrofobia e desespero e as explosões mostram a grandiosidade da coisa, esses momentos sem vínculo com o mundo ao nosso redor fazem o público se lembrar que nada aquilo é verdade – algo ruim para o filme que quer, em última instância, fazer o espectador mergulhar na trama. Além disso, precisava mesmo ter mais de 2h15? É cansativo, é demais, é exagerado. Se o editor do longa-metragem tivesse cortado todas as cenas desnecessárias com drones, já ajudaria. Mais algumas pequenas histórias paralelas que não fazem sentido para o todo, e ‘Ambulância’ cairia para menos de duas horas. Infelizmente, o cineasta não entendeu como essas durações longuíssimas podem ser prejudiciais para um filme após ‘Transformers: O Último Cavaleiro’. Apesar dos problemas, ‘Ambulância’ é o filme mais acessível de Michael Bay. Ou seja: mesmo aqueles que detestam a forma que o cineasta filma pode gostar do que vê aqui. O segredo é esquecer da vida lá fora, pegar um grande balde de pipoca, um refrigerante e, na maior tela possível, aproveitar o que Michael Bay tem a nos oferecer nos cinemas.
Jornalista especializado em cultura e tecnologia, com seis anos de experiência. Já passou pelo Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites, sempre falando de cinema, inovação e tecnologia. Hoje, é editor do Filmelier.