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‘Antologia da Pandemia’ traz olhar de terror e fantasia ao coronavírus

Não é exagero dizer que a pandemia de covid-19 mudou o mundo. Vidas foram perdidas, processos digitalizados, empresas fechadas. E o cinema, nesse terremoto de acontecimentos, ficou parado. Precisou se reinventar para encontrar meios de chegar ao público, de continuar vivo. E um bom exemplo de “cinema de guerrilha” no período é ‘Antologia da Pandemia’.

Idealizado pelos organizadores do Fantaspoa e disponível em plataformas digitais desde quinta-feira, 6, o longa-metragem é uma reunião de curtas de vários realizadores ao redor do mundo. Em comum, a temática da pandemia. Todos essas pequenas histórias, de uma maneira ou de outra, tratam de temas que acabaram se tornando recorrentes no novo dia a dia.

E aqui há de tudo. Luto com vidas perdidas (‘Às Vezes Ela Volta’); oportunismos de empresários (‘Barata’); alucinações e assombrações causadas pela claustrofobia da casa (‘Pique Esconde Macabro’, ‘A Mancha na Parede’); domínio de animais sobre a raça humana (‘Jérome: Um Conto de Natal’); e até mesmo as “doenças políticas” do período (‘Estúpedemia’).
Cena de ‘Eclosão’, curta-metragem de Alejo Rébora (Foto: Divulgação/O2 Filmes)

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“O fato de ser uma produção despretensiosa acaba dando liberdade para as equipes, pois nenhum curta-metragem contou com grandes investimentos financeiros”, conta João Fleck, produtor do filme e organizador do Fantaspoa. “Tivemos feedback referentes a alguns terem apreciado a limitação, tendo que ser criativos e com roteiros mínimos”. Tudo isso, é claro, com a embalagem do terror e da fantasia como já são esperados do Fantaspoa. “A maioria dos diretores realizou seus curtas-metragens em menos de 10 dias”, conta Fleck. “Isso é positivo, pois muitas vezes diretores ficam maturando projetos por anos que acabam nunca se concretizando. Isso acabou sendo um grande incentivo”.

Recursos próprios

Assim como toda reunião de curtas, ‘Antologia da Pandemia’ também tem altos e baixos, pontos fortes e fracos. Aqui, nesta produção do Fantaspoa, acaba sendo um diferencial a criatividade em lidar com recursos próprios e uma limitação por conta da quarentena. ‘O Último Dia’, mais curto de todos os filmes, conta com um efeito especial surpreendente ao final. Em ‘Quarentena sem Fim’, o cineasta Fabrícia Bittar (de ‘Os Exterminadores do Além Contra a Loira do Banheiro’) fala sobre relacionamentos a partir da tela do computador — como ‘Buscando…’ ou ‘Amizade Desfeita’. Já ‘A Mancha na Parede’ abraçou os recursos limitados e brincou com bons “jumpscares” em uma trama estranha e sobrenatural.
Curtas brincam com os limites impostos pela pandemia (Foto: Divulgação/O2 Filmes)
No entanto, o melhor curta-metragem é ‘Jérome: Um Conto de Natal’. Aqui, a cineasta Beatriz Saldanha usou seu próprio gato e os ambiente de sua casa para falar sobre o fim do mundo. A partir disso, os animais sobreviventes precisam abraçar forças sombrias — isso mesmo que você leu — para conseguir sobreviver e constituir uma verdadeira sociedade. “Como eu levei totalmente à risca a regra do festival de fazer o curta apenas com o que tinha em casa, foi bastante desafiador. Desempenhei sozinha praticamente todos os papéis dentro de uma produção”, conta a diretora em entrevista ao Filmelier. “Tive que como contar uma história com o que tinha à mão e integrar objetos do cotidiano nos cenários”.

Depois da ’Antologia da Pandemia’

Por fim, enquanto sobem os créditos de ‘Antologia da Pandemia’, é impossível não se perguntar: o que podemos aprender com isso? Será que existirá, de fato, um novo normal? Será que o audiovisual terá mais vontade, prazer e empolgação em produzir com recursos cada vez mais limitados, repetindo esses ensinamentos que vieram com o isolamento?
“Sim, sem dúvidas”, responde a diretora Beatriz Saldanha, de ‘Jêrome: Um Conto de Natal’, quando questionada sobre o futuro do cinema. “Quando a gente abre mão de algumas coisas e precisa recorrer ao que está disponível, se pega pensando o que é, de fato, imprescindível. Isso não apenas na hora de fazer filmes, mas em outros setores da vida também”. Fleck, enquanto isso, está animado com os rumos de ‘Antologia da Pandemia’. “A recepção no Fantaspoa foi positiva. Tivemos 1300 espectadores em três dias”, conta. “No exterior, a Raven Banner Entertainment está trabalhando as vendas internacionais do filme e esperamos ter distribuição em diversos territórios no 1º semestre de 2021”.
Matheus Mans

Jornalista especializado em cultura e tecnologia, com seis anos de experiência. Já passou pelo Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites, sempre falando de cinema, inovação e tecnologia. Hoje, é editor do Filmelier.

Escrito por
Matheus Mans

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