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“Os direitos humanos estão em fluxo constante”, diz diretora de ‘Blue Jean’

Filme em cartaz nos cinemas desde a última quinta-feira, 27, Blue Jean é um filme duro, difícil — mesmo que não pareça em um primeiro momento. Ele conta a história de Jean (Rosy McEwen), uma professora lésbica do Ensino Médio durante o ano de 1988, no Reino Unido. Um período conturbado, pra dizer o mínimo: foi quando a primeira-ministra Margareth Thatcher instituiu a cláusula 28, que proibia a “promoção” da homossexualidade nas escolas.

Jean, assim, está em um cenário de opressão. Não pode ser livre — ou, pior do que isso, sequer pode se sentir assim. As coisas se tornam ainda mais atribuladas quando uma nova aluna chega em sua aula e, rapidamente, a protagonista a identifica como uma garota lésbica. Talvez seja possível lidar com suas dores, mas e com as dores dos outros? “Acredito que é importante estar ciente de que os direitos humanos estão em fluxo constante. Leis como essa, de 30 anos atrás no Reino Unido, estão surgindo em outros países em 2023”, conta a diretora Georgia Oakley ao Filmelier.

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Confira, a seguir, a conversa completa com Georgia Oakley sobre sua estreia na direção de longas com Blue Jean:

Filmelier: Blue Jean é sua estreia na direção de longas. É um desafio muito diferente do que dirigir curtas ou filmes para televisão? Como foi a experiência?

Georgia Oakley: Certamente foi um desafio muito diferente. Antes disso, minha filmagem de ficção mais longa tinha sido de cerca de quatro dias, então isso pareceu uma maratona em comparação. No entanto, o processo é semelhante. E grande parte do tempo você está focado em um grupo muito pequeno de pessoas, apesar da equipe ser enorme. Gostei de conhecer minha equipe ao longo de alguns meses. Nunca tinha trabalhado com nenhum deles antes, então foi uma experiência totalmente nova nesse aspecto. E, é claro, o simples fato de acompanhar um único personagem por 90 minutos e rastrear sua jornada emocional ao longo do filme foi emocionante para mim, algo que só havia feito curtas antes.
Jean, a protagonista do drama de Georgia Oakley (Crédito: Synapse)

Filmelier: A direção de arte do filme, assim como a fotografia, chamou minha atenção. Há uma ambientação nos anos 1980, mas o filme também tem um aspecto de sonho ou memória. Houve o desejo de retratar aquele período, mas tornar a história ainda mais atemporal? Como foi esse processo?

Georgia Oakley: Nos propusemos a fazer um filme que se sentisse autenticamente da época, mas também atemporal de alguma forma. Eu não queria fazer um filme em que você pudesse congelar a imagem a qualquer momento e saber exatamente em que ano estava situado. Queria que parecesse mais como olhar para a memória de alguém daquele tempo, embora uma memória falha, mas com a essência e a energia que eles se lembravam. Isso se deve em parte à pesquisa que conduzimos por anos antes de fazer o filme, trabalhando em estreita colaboração com conselheiros, muitos deles professoras de educação física lésbicas, cujas experiências forneceram o tecido para a história.

Filmelier: Falando novamente sobre isso: o filme se passa nos anos 1980, mas ainda tem uma mensagem muito importante para os dias de hoje. Como você vê a importância de Blue Jean para pensarmos sobre o presente? E quais são suas expectativas com a estreia em outros territórios, como o Brasil?

Georgia Oakley: Acredito que é importante estar ciente de que os direitos humanos estão em fluxo constante. Leis como essa, de 30 anos atrás no Reino Unido, estão surgindo em outros países em 2023. O progresso é algo subjetivo. No fim das contas, não vejo Blue Jean como um filme sobre um problema específico, mas como a história humana no centro de um momento político definido pelo pânico moral. Não tenho expectativas em si. Mas espero que a história ressoe com seres humanos ao redor do mundo, independente de suas experiências de vida.

Blue Jean está em cartaz nos cinemas brasileiros. Clique aqui para comprar ingressos.

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Matheus Mans

Jornalista especializado em cultura e tecnologia, com seis anos de experiência. Já passou pelo Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites, sempre falando de cinema, inovação e tecnologia. Hoje, é editor do Filmelier.

Escrito por
Matheus Mans

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