Crítica: ‘Boogeyman: Seu Medo é Real’ mantém maldição de Stephen King Crítica: ‘Boogeyman: Seu Medo é Real’ mantém maldição de Stephen King

Crítica: ‘Boogeyman: Seu Medo é Real’ mantém maldição de Stephen King

Apesar do sucesso do norte-americano na literatura, as adaptações nos cinemas não estão rendendo bons frutos para o “rei do horror”

Matheus Mans   |  
25 de maio de 2023 19:00
- Atualizado em 26 de maio de 2023 10:16

Virou regra, não exceção: nos últimos anos, os filmes inspirados nos livros de Stephen King são realmente ruins. Obras como O Telefone do Sr. Harrigan, A Torre Negra, Carrie, Cemitério Maldito, 1922, Campo do Medo e Celular trouxeram tramas fracas e sem vidas, fracassando em crítica, público e bilheteria – It: A Coisa é uma agradável surpresa, pelo menos. Agora, o novo Boogeyman: Seu Medo é Real engrossa essa lista negativa.

Dirigido por Rob Savage (do bom Cuidado com Quem Chama), e estreia nos cinemas em 1⁰ de junho, o longa-metragem se vale do monstro do bicho-papão para falar sobre uma família em luto. Will Harper (Chris Messina) é pai de duas meninas, a pequena Sawyer (Vivien Lyra Blair) e a independente Sadie (Sophie Thatcher). E não estão no melhor de suas vidas: a mãe acabou de morrer e os dias da família ficaram mais sombrios.

É aí que o bicho-papão, que nada mais é que um folclore que personifica o medo, surge. Ele está na escuridão, no armário do quarto, no canto mofado da parede. Os primeiros 20 ou 25 minutos de Boogeyman: Seu Medo é Real são desesperadores: Savage mostra ter domínio da câmera e do ambiente, dando medo em cada virada de câmera, em cada luz que apaga, em cada momento que Sawyer decide dar uma espiadinha debaixo da cama.

O bicho-papão é o monstro que dá arrepios em Boogeyman
O bicho-papão é o monstro que dá arrepios em Boogeyman (Crédito: Universal Studios)

Boogeyman: Seu Medo é Real começa assustador…

Publicidade

Obviamente, mesmo nesse início, há o contexto do luto envolvendo os personagens, mas nada é exagerado, nada é forçado. Fica subentendido que a escuridão está dentro de Will, Sadie e Sawyer para que o bicho-papão encontre espaço para crescer. Savage está, corretamente, preocupado em assustar. E consegue: mesmo com uma atuação fraca de Messina (Argo, Demônio), a gente se conecta com os personagens e sofre na poltrona.

Além disso, ainda que muito mais contido do que foi visto em Cuidado com Quem Chama, Savage parece se divertir em criar nesse começo. Ele gira a câmera para mostrar a parte debaixo da cama, brinca com os efeitos visuais da porta de uma lava-roupas, coloca olhos fixos nos personagens em cada canto da casa – e que, depois, pode se revelar como sendo apenas um reflexo inocente em um armário, as luzes em um eletrodoméstico e afins.

…mas o roteiro se complica demais

Só que logo fica evidente como os roteiristas Scott Beck (Um Lugar Silencioso), Bryan Woods (65: Ameaça Pré-Histórica) e Mark Heyman (Cisne Negro) não sabem trabalhar com o simples, com o básico – como acontece no conto de Stephen King, presente na coletânea Sombras da Noite. Parece que ter um monstro de pernas longas, finas e de rosto assustador é pouco. E, num piscar de olhos, o roteiro se complica e se torna chato.

Sophie Thatcher é a grande protagonistas de B

Lembrando bastante a história de O Babadook, Boogeyman: Seu Medo é Real começa a falar mais sobre a depressão dos personagens do que sobre esse monstro na casa. Isso coloca o filme em outro tipo de história: deixa de ser um simples filme de terror que serve pra assustar e divertir para tratar de temas complexos que exigem seriedade no trato, mesmo que em um filme de fantasia como esse. E é aí que tudo começa a desmoronar.

Savage sabe dar susto, não refletir sobre luto e depressão. Temas sérios são tratados de maneira leviana, sem profundidade – o pai, que parece ser o mais afetado ali, simplesmente some e não aparece mesmo quando a filha está voando no teto da sala. O monstro, então, se torna coadjuvante da própria história. Essa criatura tão poderosa, que pode se moldar aos medos mais profundos de cada um, vira um cachorro deformado mal feito em CGI.

O medo, num estalar de dedos, some. O bicho-papão é só mais um monstro. Até a atuação das duas meninas, antes funcional, desaparece na montanha de drama desnecessário. E o filme começa a investir em cenas bregas, que causam até riso involuntário, com cenas como a da chama do isqueiro ou, então, a tentativa de armadilha. E isso só comprova como o simples, às vezes, é mais eficaz. E, principalmente, que Stephen King precisa ter mais sorte nos cinemas – ou, então, um agente que saiba vender melhor suas histórias.

Confira o trailer de Boogeyman: Seu Medo é Real:

Siga o Filmelier no FacebookTwitterInstagram e TikTok.