Cinemateca: sem conservação, até 1.000 filmes podem já estar perdidos Cinemateca: sem conservação, até 1.000 filmes podem já estar perdidos

Cinemateca: sem conservação, até 1.000 filmes podem já estar perdidos

A Cinemateca Brasileira, que guarda 250 mil rolos de filmes e parte importante da nossa história e cultura cinematográfica, sofre com a falta de conservação

31 de maio de 2021 11:55
- Atualizado em 29 de julho de 2021 18:48

Mais uma péssima notícia para a memória do cinema brasileiro. De acordo com o colunista Ricardo Feltrin, do UOL, entre 600 a 1.000 filmes do acervo da Cinemateca Brasileira, em São Paulo, podem já ter sido perdidos. O local está fechado – e sem conservação correta dos rolos de filme armazenados ali – há 15 meses.

A Cinemateca Brasileira passa por uma situação complicada desde de dezembro de 2019. No final de 2020, a gestão foi repassada a secretaria federal da Cultura, atualmente dentro do Ministério do Turismo. Anteriormente, o local era gerido pela Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp), que cuidava também da manutenção do acervo.

O interior da Cinemateca Brasileira (Foto: Raíssa Basílio)

Entre outras funções, a Cinemateca guarda cerca de 90 mil filmes das mais diversas áreas e época, em um total de 250 mil rolos de película, que registram não só a nossa cultura cinematográfica, mas também trechos importantes da história do Brasil.

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Como relata Feltrin, que apurou a informação junto a fontes ligadas ao espaço, parte desse acervo é da primeira metade do século passado e no material nitrato de celulose, que é altamente inflamável e se deteriora com facilidade.

Por conta desse tipo de filme e de seu armazenamento precário, há casos históricos de incêndios em canais de TV no Brasil – só a Record, por exemplo, sofreu com as chamas em 1960, 1966 e 1969.

A situação, destaca o jornalista, não era fácil antes da atual crise, com diversos rolos já precisando de restauração imediata. Porém, após o problema na troca de gestão, outros filmes ficaram armazenados em condições ambientais inadequadas para o seu estado.

Há, ao menos, um sopro de esperança: boa parte desses rolos foi digitalizado. Ainda que os originais sejam perdidos, ainda ficarão suas cópias para a história. Não é, no entanto, o ideal: com esses originais seria possível, no futuro, novas remasterizações e a preservação da história como ela foi efetivamente feita.

Agora, a esperança é que Cinemateca seja reaberta em agosto, mas a data pode ser adiada por conta de investigações do Ministério Público Federal relacionada aos imbróglios do governo com a Acerp, e os problemas de conservação que já vinham ocorrendo.

Enquanto isso, o patrimônio cultural brasileiro segue, literalmente, se apagando.

A importância da Cinemateca


A Cinemateca Brasileira foi criada na década de 1940, sendo a quinta maior cinemateca do mundo em restauro nesta época. O órgão tem o maior acervo de imagens da América do Sul. Cerca de 250 mil rolos de filmes, 40 mil títulos, entre Super 8, curtas e longas-metragens.

Parte desse conteúdo é compostos por nitrato de celulose – material que pode entrar em autocombustão se não for mantidos em refrigeração. Por conta disso é preocupante o risco de incêndio no local.

Segundo a pesquisadora, Eloá Chouzal, o conteúdo que existe no prédio é tão importante que existem películas do Brasil em movimento de 1897, final do século XIX, de quando filme foi inventado. Para entender melhor, ela também explicou o trabalho que eles fazem, não é somente um lugar que armazena imagens:

“A Cinemateca que eu falo não é um museu só, porque muita gente acha que é um museu de imagem. Não, a Cinemateca tem três pilares como missão: O primeiro é preservar, que é a guarda desse acervo. Também tem a missão de difundir, então lá tem sala de cinema, workshop, mostra, crianças de escolas da comunidade que vão pela primeira vez assistir um filme numa tela grande. E o terceiro pilar é o restauro”, contou Chouzal em entrevista ao Brasil de Fato.

Para a história do cinema nacional – e internacional – a Cinemateca tem arquivos de Glauber Rocha, Jean-Claude Bernardet, sendo roteiros, cartas entre cineasta, fotos de produções. Esse acervo não existe em nenhum outro lugar no mundo. Esses conteúdos são importantes para novas criações no ramo da comunicação, pois são itens para pesquisa necessários para entender sobre cinema e também sobre transformações no país ao longo dos anos.

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