Crítica de ‘Dinheiro Fácil’: Vencer o sistema? Crítica de ‘Dinheiro Fácil’: Vencer o sistema?

Crítica de ‘Dinheiro Fácil’: Vencer o sistema?

‘Dinheiro Fácil’ (‘Dumb Money’) simplifica o mundo das finanças para contar uma história verídica

Lalo Ortega   |  
30 de outubro de 2023 10:00
- Atualizado em 27 de outubro de 2023 20:36

Às vezes, a pandemia de COVID-19 – e a crise econômica adjacente – parece ser um período tão próximo que é curioso abordá-lo em retrospectiva. Ainda mais estranho é focar em um dos eventos financeiros mais singulares: o caso do estrangulamento da GameStop, retratado no filme Dinheiro Fácil, que estreia nos cinemas em 2 de novembro.

Dirigido por Craig Gillespie (Eu, Tonya) e inspirado no livro The Antisocial Network de Ben Mezrich, o filme adota uma estratégia semelhante a A Grande Aposta, de Adam McKay: pegar um livro que analisa uma das conjunturas financeiras mais importantes na história recente dos Estados Unidos e trazê-lo para a tela grande de forma semi-ficcional e semi-cômica.

Dinheiro Fácil: histórias do cidadão comum

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Mesmo fora dos Estados Unidos, muitos de nós lembramos a pandemia de maneira semelhante: isolamento em casa, trabalho remoto na melhor das hipóteses, ou desemprego e empregos precários no pior cenário.

A trama de Dinheiro Fácil se concentra principalmente em uma versão dramatizada de Keith Gill (Paul Dano), um analista financeiro e youtuber por hobby que era conhecido pelo pseudônimo “Roaring Kitty” e compartilhava suas opiniões sobre o mercado de ações no Reddit e no YouTube.

Em 2020, no auge da pandemia, Gill percebe que as ações da GameStop, a cadeia de lojas de videogames, estão em queda. Ao descobrir que os fundos de hedge estão vendendo ações a descoberto, apostando na falência da empresa para gerar lucros, ele decide arriscar todas as suas economias e apostar contra.

No entanto, o verdadeiro cerne de Dinheiro Fácil está em tudo o que acontece em torno disso. Gill, popular no YouTube e no Reddit, compartilha sua estratégia com outras pessoas que enfrentam dificuldades financeiras e decidem segui-lo em sua aposta.

America Ferrera lidera um elenco de cidadãos comuns que tentam progredir (Crédito: Sony Pictures)

Há, por exemplo, a enfermeira e mãe solteira, Jennifer (America Ferrera, Barbie); o funcionário da GameStop, Marcos (Anthony Ramos, Transformers: O Despertar das Feras); e o casal de universitárias endividadas, Riri (Myha’la Herrold, Morte. Morte. Morte.) e Harmony (Talia Ryder, Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre). O filme dedica pelo menos algumas cenas para explorar as dificuldades e aspirações de cada um.

O contraponto irreverente está nos CEOs ricos, cínicos e até impiedosos dos fundos de hedge, que discutem operações milionárias – com repercussões para milhões de pessoas – como crianças trocando brinquedos. E depois, com um desenvolvimento menor, há os criadores do infame aplicativo de investimentos, Robinhood (brilhantemente interpretados por Sebastian Stan e Rushi Kota), “tech-bros” delirantemente desconectados da realidade.

Obviamente – e com razão – a narrativa de Dinheiro Fácil se inclina para as pessoas comuns, que decidem se organizar para explorar uma pequena falha em um sistema já inclinado a favor dos ricos, arriscando tudo e, talvez, aspirando a uma pequena parte dessa riqueza.

David contra Golias?

Nesse sentido, Dinheiro Fácil consegue tornar compreensível o mundo das finanças e investimentos para aqueles com menos conhecimento econômico (como eu). Não há cenas de Margot Robbie explicando os princípios da Bolsa de Valores em uma banheira de espuma, mas Gillespie consegue replicar o mesmo tom irreverente.

Dinheiro Fácil é irreverente, mas um pouco frouxo com os fatos (Crédito: Sony Pictures)

O resultado é um filme feel-good que, de forma quase totalmente acrítica, transforma sua história em uma versão financeira de David contra Golias; e Keith Gill/Roaring Kitty quase se torna um Prometeu, um herói popular que, fazendo uso da suposta grande arma do povo (a internet), consegue derrubar Wall Street. É fácil apresentar alguém como herói quando os vilões veem o mercado de ações como um jogo de crianças.

A verdade, como sempre, costuma ser mais complexa e matizada (ou pelo menos, não tão idealizada). O filme, embora não omita esse fato, apenas faz alusão a algumas das armadilhas do mundo das finanças, onde alguns precisam perder para que outros ganhem.

O caso da GameStop proporcionará diferentes tipos de lições por muito tempo, desde que seja estudado com cuidado. Dinheiro Fácil funciona como uma primeira abordagem e como uma história inspiradora que encontra entretenimento em um mundo complexo.

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