Crítica: 'Homem-Aranha: Através do Aranhaverso' é bonito, mas perde fôlego
Apesar da estética do filme surpreender ainda mais, animação do Homem-Aranha quer construir um universo ao invés de encantar
Ninguém esperava muita coisa de Homem-Aranha no Aranhaverso. Sim, o visual era encantador já na divulgação, mas, na época, havia a sensação de que o Cabeça de Teia já estava no limite – naquele momento, três atores já tinham vestido o manto de Peter Parker. Já não bastava? Não: a Sony Pictures conseguiu mostrar ao mundo que uma animação do herói era o que a gente precisava. Fez US$ 400 milhões de bilheteria, venceu o Oscar de Melhor Animação e, agora, ganha a sequência Homem-Aranha: Através do Aranhaverso.
Qual é a história de Homem-Aranha: Através do Aranhaverso?
Estreia desta quinta-feira, 1⁰ de junho, o novo filme traz Miles Morales, queridinho do público e que consegue ser ainda mais divertido e interessante do que Peter Parker, passando pelo processo de crescimento. É o meio da adolescência, ele começa a ficar cada vez mais adulto. Afinal, ele viu sua vida se transformar com a picada de aranha que lhe deu poderes e, agora, tenta conciliar isso com a consciência de que há um universo paralelo com Gwen, a Mulher-Aranha que conquistou o coração do rapaz de Nova York.
No entanto, o que poderia ser um drama romântico dividido por multiversos se torna rapidamente um típico filme de franquia. Apesar de todo o sopro de criatividade do primeiro longa-metragem, a sequência mostra que Miles Morales e todo o Aranhaverso estão trabalhando em prol de mais filmes, mais sequências, mais personagens. A preocupação em criar uma história impactante dá lugar à preocupação de se criar uma nova saga. Com isso, muito daquele encantamento juvenil do primeiro filme desaparece em um estalo.
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Os 140 minutos de Homem-Aranha: Através do Aranhaverso fazem com que a franquia ganhe ares complexos – a história, que continua sendo assinada por Phil Lord e Christopher Miller (os roteiristas também do original), se torna até confusa e cansativa em vários momentos. Afinal, há uma busca incessante por ampliar tudo aquilo que a gente viu antes para um cenário de multiverso que pode visitar, inclusive, outros produtos do estúdio, como os filmes de Venom, Mulher Teia, Kraven e por aí vai. Fica a sensação de que é mais um produto.
Lembra bastante o tratamento do multiverso que já vimos em Doutor Estranho no Multiverso da Loucura e, principalmente, na série Loki. Será que não tinha outro formato, outra ideia?
Um filme repartido
Muito dessa sensação é acentuada por conta também das circunstâncias que o filme chega aos cinemas. Miller e Lord estavam escrevendo o segundo filme quando perceberam, durante o processo, que eles precisavam dividir essa história em dois. Ao Collider, a dupla diz que, enquanto escreviam o texto, notaram que Miles Morales e Gwen Stacy tinham uma jornada própria, um arco bem definido, com “começo, meio e fim”. Saem transformados.
Mas, apesar dessa ideia de Miller e Lord pelo produto que eles escreveram, não é isso que é traduzido na tela. Lembrando a primeira metade de capítulos finais como Harry Potter, Jogos Vorazes e, mais recentemente, Velozes e Furiosos, Homem-Aranha: Através do Aranhaverso traz a sensação de uma conversa interrompida. Algo que era para ser, mas não foi. A história fica muito tempo andando em círculos, tentando definir novos personagens, novos universos, novas dinâmicas – algumas, até, abrindo furos na trama.
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O grande vilão do filme, Mancha, é uma das sacadas mais criativas dessa nova história. Ele é estranho, divertido, desafiador. Um vilão que só funcionaria, de fato, nos traços dos quadrinhos ou de uma animação. Mas ele também é deixado de lado, enquanto o longa-metragem tenta se decidir por qual caminho seguir. No terceiro ato, enquanto isso, outros vilões surgem, vira um amontoado. Não aprenderam nada com Homem-Aranha 3?
Homem-Aranha: Através do Aranhaverso continua surpreendendo com a estética
Apesar dos erros, deixando o filme ficar entre o cansativo e o óbvio, Homem-Aranha: Através do Aranhaverso continua a acertar no ponto mais positivo do primeiro longa-metragem: o visual. Com mais de 1 mil artistas envolvidos no desenvolvimento, este segundo filme é uma explosão de cores, de ideias, de traços, de estilos, de caminhos.
O mundo de Gwen, por exemplo, parece saído de uma aquarela. Um Abutre no começo do filme parece ter os traços de Da Vinci. E por aí vai. Segundo a Sony Pictures, mais de 1 mil artistas participaram do filme. Algo sem precedentes e que, mesmo com uma história esquecível, coloca o filme em outro patamar. Dá para fazer coisas incríveis com desenhos.
Homem-Aranha: Através do Aranhaverso chega aos cinemas em 1º de junho de 2023.
Jornalista especializado em cultura, gastronomia e tecnologia, cobrindo essas áreas desde 2015 em veículos como Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites. Já participou de júris de festivais e hoje é membro votante da On-line Film Critics Society. Hoje, é editor do Filmelier.
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