O ingrediente chave em um thriller de espionagem – seja ele qual for, não apenas Invasão Secreta – é a intriga. A incógnita de quem é amigo e quem é inimigo, a incerteza de uma ameaça constante que pode se esconder em qualquer lugar. No entanto, o episódio 3 da série do Universo Cinematográfico Marvel (MCU), lançado em 5 de julho no Disney+, larga esse elemento crucial.
É uma decisão criativa estranha, para não dizer questionável. Embora se possam entender os possíveis motivos, eles também falam sobre a grande fraqueza da franquia: sua obsessão pela trama, pelo enredo, em fazer coisas acontecerem o tempo todo.
Atenção: spoilers do terceiro episódio da série a seguir.
A obsessão da Marvel em avançar a trama
Em termos de logística, a decisão é compreensível: a série terá apenas seis episódios (o padrão para o MCU, cujas séries tiveram somente nove episódios em três ocasiões). No meio do caminho, as coisas precisam avançar. Mas o problema com o terceiro episódio de Invasão Secreta é que muita coisa acontece, mas pouco tem substância. Pior ainda, quase nada é interessante. O episódio 2 nos deixou com Nick Fury (Samuel L. Jackson) separado de seu aliado Skrull, Talos (Ben Mendelsohn), após perder Maria Hill (Cobie Smulders). Então, o antigo líder da S.H.I.E.L.D. encontra o coronel Rhodes (Don Cheadle), que o afasta de seu cargo no programa espacial S.A.B.E.R. Claramente, Fury está em apuros quando volta para casa com sua esposa, Priscilla (Charlayne Woodard), que imediatamente é revelada como uma Skrull. Enquanto isso, a lealdade de G’iah (Emilia Clarke) continua sendo ambígua: ela está ao lado de seu pai, Talos, ou do líder dos Skrulls terroristas, Gravik (Kingsley Ben-Adir). Muitas dessas questões são esquecidas ou decididas sem mais delongas no episódio 3: o roteiro se vira para reunir Fury novamente com Talos, e em vez de termos um protagonista psicologicamente abalado ou irritado, vemos diálogos engraçados saindo de sua boca, como se estivéssemos em Pulp Fiction. G’iah, de repente, passa de uma agente dupla com lealdades incertas para uma infiltrada leal a Talos.
Muita coisa acontece, mas nada substancial em Invasão Secreta (Créditos: Marvel Studios) O restante do episódio se concentra na dupla tentando impedir um ataque Skrull às Nações Unidas que poderia levar à Terceira Guerra Mundial. Como eles fazem isso não é realmente interessante: golpes aqui, tiros ali, uma contagem regressiva e tudo dá certo. No final, há um evento chocante – que previsivelmente será revertido nos episódios seguintes, porque você não contrata uma atriz tão famosa para eliminá-la no terceiro episódio — e uma revelação que teria sido melhor guardar para depois.
O episódio 3 é uma entrega mediana
Essa revelação final é emblemática do que o terceiro episódio de Invasão Secreta faz tão mal: em vez de preservar a intriga sobre as lealdades daquele personagem até o final – e a enorme tensão narrativa que vem com isso –, os roteiristas optam por revelar a verdade sem mais delongas. A aposta é clara: dar uma reviravolta possível que mude tudo – e surpreenda – nos episódios seguintes. O problema com isso, por um lado, é que só funciona se a série fornecer motivos suficientes para nos interessarmos pelos personagens. Mas, até agora, não tem sido assim: de repente, o corajoso e cansado Fury está fazendo piadas por aí, e Talos não tem a chance de se desenvolver como personagem. Ele existe como um acessório do protagonista, apesar dos esforços louváveis de Mendelsohn em dar um pouco de profundidade a ele. O outro problema é que, dessa forma, Invasão Secreta se despe do seu elemento chave: o desconhecido, a terrível dúvida de que até o seu melhor amigo possa ser um invasor, como em Vampiros de Almas (Invasores de Corpos). Qual é o ponto se sabemos quais jogadores são e não são Skrulls? Mas, fiel à tradição da Marvel Studios, o objetivo é soltar algumas referências aqui e ali para manter os fãs atentos. Sim, aí vêm os infames Super Skrulls. Mas devemos nos importar com o que está acontecendo enquanto isso?
Confira nossas críticas de Invasão Secreta por episódio:
