Como Daniel Craig se tornou o espião mais conhecido do mundo Como Daniel Craig se tornou o espião mais conhecido do mundo

Como Daniel Craig se tornou o espião mais conhecido do mundo

Astro foi criticado ao ser escolhido para ser o James Bond, em 2005, mas sai 16 anos depois com a dever cumprido

Matheus Mans   |  
1 de outubro de 2021 09:25
- Atualizado em 3 de outubro de 2021 13:08

O mês de setembro de 2021 sem dúvidas vai ficar marcado na memória do britânico Daniel Craig. Afinal, após 15 anos à frente da franquia James Bond, o astro se despede do personagem com o ótimo ‘007: Sem Tempo para Morrer’, que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 30. É fim de papo para Craig, que se mostrava infeliz com o personagem desde ‘007 Contra Spectre’, de 2015, quando afirmou que não voltaria ao papel.

No entanto, apesar desse fim desejado pelo ator, não dá para dizer que James Bond não foi um definidor de águas em sua carreira. Nascido em Chester, na Inglaterra, Craig desde cedo teve contato com o mundo das artes — afinal, apesar do pai ter sido um guarda-marinha da Marinha Mercante e dono de dois bares, a mãe era uma professora de arte e que admirava sua profissão. O ator, assim, foi incentivado desde bem pequeno.

Daniel Craig em 'Algumas Vozes'
Craig em ‘Algumas Vozes’, um de seus personagens mais desafiadores (Crédito: Divulgação/Dragon Pictures)

Não é à toa que, aos 16 anos, se mudou. Deixou a cidade ao norte de Gales, hoje com menos de 120 mil habitantes, e rumou para Londres para estudar o que mais queria: teatro. Se formou e, já em 1992, apenas um ano depois de sua formatura, foi para a tela grande com um pequeno papel em ‘O Poder de um Jovem’, longa estrelado por Stephen Dorff e Morgan Freeman. Depois, no ano seguinte, foram nove participações em séries.

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E foi assim, de pequeno papel em pequeno papel, que Craig foi aparecendo. Até o final dos anos 1990, pode-se dizer que nenhum de seus personagens deve realmente relevância — apesar das atuações em filmes como ‘Elizabeth’, protagonizado por Cate Blanchett e Geoffrey Rush, e no drama de guerra ‘The Trench’, de 1999, em que interpreta o Sargento Winter. A virada viria enfim com a chegada dos anos 2000 e novos papéis.

Daniel Craig surge

O primeiro protagonista de Craig chegou em 2000, com um papel desafiador: Ray, da controversa comédia ‘Algumas Vozes’, em que interpreta um rapaz esquizofrênico ao lado de Kelly Macdonald. Apesar de algumas derrapadas na direção de Simon Cellan Jones, Craig mostrou que podia lidar com personagens mais desafiadores e que tinha estofo para papeis com mais do que duas ou três linhas de falas nos roteiros.

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Não é surpresa, então, o personagem que ganhou no blockbuster ‘Lara Croft: Tomb Raider’, ao lado de Angelina Jolie, em 2001. Depois, ainda entrou na mira do cineasta Sam Mendes (‘1917’) quando ganhou o papel do filho ciumento de Paul Newman em ‘Estrada para Perdição’ — filme também estrelado por Tom Hanks e Jude Law. Craig, então, já tinha o seu espaço, até confortável, conquistado no cinema inglês e americano.

Nos anos seguintes, conseguiu emplacar personagens (sejam eles protagonistas ou não) em produções com alguma importância no circuito. Fez ‘Sylvia: Paixão Além das Palavras’, como o poeta Ted Hughes,  ao lado de Gwyneth Paltrow. Em 2004, atuou em ‘Amor Para Sempre’, de Roger Michell e, como cereja do bolo, esteve em ‘Munique’, de Steven Spielberg. Foi por volta dessa época que Craig entrou na mira da EON Productions.

Craig, Daniel Craig

Em 14 de outubro de 2005, outra data que Craig com certeza nunca mais irá esquecer, que o inglês foi escolhido como o novo James Bond. Marcou o renascimento da franquia após alguns anos adormecida e substituiu Pierce Brosnan — além de entrar numa linhagem que conta com nomes como Sean Connery, Roger Moore e Timothy Dalton. Assim, mais do que um simples papel, Craig estava assumindo uma posição muito disputada.

Logo em seguida, começou um temporal de críticas, como é contado no documentário ‘Ser James Bond’. Parte do público e, principalmente, a imprensa britânica não entendia como aquele ator de pouca expressão e nenhum papel de ação tinha conquistado uma posição tão desejada. Nesse longínquo 2005, Craig ficou longe de ser unanimidade. Foi humilhado, desmerecido e, de cara, causou atrito entre ele e a imprensa. 

Daniel Craig trouxe modernidade, e seu próprio estilo, para o personagem James Bond (Crédito: Divulgação/Universal)

A coisa começou a mudar, enfim, depois do público ver fotos e notar como o astro estava realmente se esforçando e se preparando para o papel, deixando o físico mais de acordo com o que é esperado do personagem — a foto dele numa praia, de sunga, causou um frisson. E assim, em 2006, ainda em um clima um tanto quanto estranho, chegou aos cinemas ‘007: Cassino Royale’. Foi o “cala a boca” que Daniel Craig tanto queria na época.

O filme foi elogiado e público e crítica gostaram do que o astro imprimiu em seu papel. Era um Bond mais moderno, que dispensava o uso de chavões que a franquia criou, em prol de linguagens que se conectavam com os mais jovens — e que não necessariamente gostavam ou até mesmo conheciam Connery, Moore e a história de Bond como um todo. Foi um recomeço para a saga, um recomeço para o personagem e, claro, pra Craig.

Depois de ‘Cassino Royale’

Após ser enfim aceito por imprensa e público, Craig entrou na “A List” de Hollywood, ainda que com um certo ar de desconfiança ao seu redor. Infelizmente, porém, sua carreira não manteve uma estabilidade ou algo do tipo. Protagonizou dois fracassos (‘A Bússola de Ouro’ e ‘Cowboys vs Aliens’) e dois filmes não atingiram o sucesso esperado, ainda que estejam longe do “fracasso” — no caso, ‘A Casa dos Sonhos’ e ‘Invasores’.

Além disso, na franquia 007, também houve instabilidade. Após o sucesso absoluto de ‘Cassino Royale’, em 2008, chegou o desastrado ‘007: Quantum of Solace’. Por conta de uma greve de roteiristas em Hollywood, não havia profissionais disponíveis para desenvolver a história do longa. Assim, a EON Productions tomou a decisão de começar as gravações sem sequer ter o roteiro final em mãos. Percebe-se, assim, uma trama instável. Ruim.

Felizmente, porém, em 2011, sua carreira começa a mudar novamente. Depois dessa série de fracassos ou filmes abaixo do esperado, Craig protagoniza o excelente remake ‘Millennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres’. Um suspense sob medida, dirigido por David Fincher. Depois, ainda emplaca o ótimo ‘007: Operação Skyfall’, talvez o melhor de toda a era Craig, e ainda o interessante ‘007 Contra Spectre’.

Agora, para encerrar de vez, traz uma forte carga emocional em ‘007: Sem Tempo para Morrer’. Chave de ouro.

Não é, assim, uma carreira linear, apenas com altos. Craig saboreou muitos fracassos, muitos tombos e decepções. Mas, agora, encerra sua participação em 007 com um sabor de dever cumprido. Deu tudo ao personagem, no desgaste que é interpretá-lo, inclusive indo além da linha demarcada do esforço físico necessário para viver James Bond nas telonas. Dessa forma, não dá para dizer que Craig não se esforçou, não correu atrás.

Futuro de Daniel Craig

Agora, com os créditos subindo quando falamos de James Bond, Craig tem uma outra franquia e tanto engatilhada: ‘Entre Facas e Segredos’. No primeiro longa-metragem, que conta com nomes como Jamie Lee Curtis, Chris Evans e Michael Shannon, Craig acertou em cheio como o detetive Benoit Blanc. Foi um sucesso. Agora, a Netflix desembolsou US$ 450 milhões para garantir que mais dois filmes entrem direto em seu catálogo.

O segundo filme, já gravado e em pós-produção, conta com nomes como Ethan Hawke, Dave Bautista, Kate Hudson, Edward Norton, Leslie Odom Jr.

Além disso, não há grandes perspectivas ou confirmações na carreira de Craig — há, por enquanto, apenas um outro projeto anunciado com o diretor Todd Field (‘Pecados Íntimos’). E é mais do que merecido. Afinal, depois de tanto tempo vivendo o estresse (e ganhando milhões de dólares) por ser Bond, Daniel Craig provavelmente quer ser Daniel Craig. Aproveitar a família, a esposa Rachel Weisz e ser, enfim, mais um eterno James Bond.

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