DVD e streaming ganham força com “cinema em casa” DVD e streaming ganham força com “cinema em casa”

DVD e streaming ganham força com “cinema em casa”

Comportamento ganhou força entre espectadores, que compensaram a falta de salas escuras com filmes no streaming e lançamentos em mídias físicas

Matheus Mans   |  
14 de julho de 2020 10:09
- Atualizado em 17 de julho de 2020 12:43

Sem ver público desde meados de março, os cinemas estão passando por uma das maiores crises de sua história. Lançamentos foram adiados, a bilheteria zerou em todo o país e as soluções parecem cada vez mais difíceis e distantes. Com isso, DVD e digital ganharam força redobrada no Brasil.

Primeiramente, os serviços de streaming “ganharam corpo” durante a crise. Hoje, plataformas de video on demand já se estabilizaram como segundo maior ibope do país. Além disso, várias distribuidoras começaram a enxergar no digital uma possibilidade de ampliar o alcance de seus filmes.

Nos Estados Unidos, a Universal Pictures lançou a animação ‘Trolls 2’ diretamente no video on demand. Depois disso, filmes como ‘Bob Esponja: O Incrível Resgate’ e ‘Scooby! O Filme’ fizeram o mesmo. Já outras produções foram adiantadas pro digital após rápida passagem nos cinemas no início do ano.

‘Scooby! O Filme’ vai direto para video on demand (Crédito: Divulgação/Warner Bros. Pictures)

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Com isso, especialistas já acreditam que o cinema deverá passar por fortes mudanças após essas experimentações dos usuários. “O espectador sentiu o gostinho de liberdade que o streaming pode dar. Agora duvido que tudo poderá voltar ao que era antes”, afirma Omarson Costa, executivo do setor.

Segundo ele, que teve passagens por empresas como Netflix e Roku, o espectador entendeu que o tempo pode ser poupado. E o estúdios, que podem ganhar mais dinheiro. “Vender direto para o consumidor poupa tempo, dinheiro, energia gasta”, afirma. “Vivemos um novo momento”.

No entanto, vale dizer que isso está mais para o início de uma guerra do que um fato concreto. Afinal, exibidores e digital continuam a medir forças.

DVD, Blu-Ray e mídia física

Mas não é só o streaming que vive uma explosão. Outro setor que está observando uma “explosão” neste período de cinemas com salas fechadas é a o da mídia física. Não há números consolidados sobre a atual situação desse mercado, mas dá para sentir como os ventos mudaram no período.

Diversas empresas do setor — sejam elas grandes ou pequenas — voltaram a direcionar a atenção para lançamentos em mídia física. É DVD, Blu-Ray e edições especiais que estão fazendo os olhos de colecionadores brilharem. Anteriormente, lançamentos inimagináveis por parte de espectadores.

“Estamos vivendo o renascimento do mercado”, afirma Juliano “Jotacê” Vasconcellos, dono do tradicional Blog do Jotacê. ” Na pandemia, muitas pessoas ficaram em casa e redescobriram a mídia física com esse confinamento. As empresas, enquanto isso, voltaram a olhar para o setor”.

Imovision voltou a colocar DVDs no mercado de olho no “cinema em casa” (Crédito: Divulgação/Imovision)

Empresas como Universal, Sony e Paramount voltaram a lançar filmes que tinham sido deixados de lado. Dentre outros lançamentos, destacam-se ‘O Farol‘, ‘Projeto Gemini‘ e ‘Nós‘. São filmes que antes não tinha indicativos de lançamento em mídia física, mas que agora já estão com espaço na estante.

A Imovision, distribuidora do empresário francês Jean-Thomas Bernardini, também voltou a dar atenção ao setor. Depois de anos sem lançar seus títulos em mídia física, a empresa colocou no mercado filmes como ‘O Bar Luva Dourada‘, ‘Varda por Agnès‘, ‘Clímax‘ e ‘O Paraíso Deve Ser Aqui‘.

“Agora, o clima é diferente.
Tem cinéfilos pedindo
a mídia física”.

“Deixamos de vender DVDs em uma época em que o mercado estava desanimado. Toda semana tinha empresa do setor fechando”, conta Jean. “Agora, o clima é diferente. Tem cinéfilos pedindo a mídia física. Nos surpreendeu. Assim, nós já estamos tendo um lucro que não esperávamos”.

Além disso, vale destacar que as edições para colecionadores também estão ganhando espaço. Empresas como Obras-Primas do Cinema e Versátil lançaram edições especiais — com luvas, cards, extras e material adicional — de filmes como ‘Um Lobisomem Americano em Londres’ e ‘A Mosca’.

“O mercado de DVD é de nicho. Mas esse ano houve um pequeno crescimento devido por conta da pandemia”, diz Juliano Melo, diretor de marketing e e-commerce da Versátil. “Distribuidoras e lojas estão divulgando lançamentos exclusivos em edições especiais em mídia física”.

‘A Mosca’, de 1986, ganhou edição especial pela Versátil (Crédito: Divulgação/Fox)

Mídia física e streaming

Por fim, neste momento, em que a quarentena começa a ser flexibilizada e a reabertura dos cinemas é adiantada, uma série de questões começa a ser levantada. Afinal, será que as empresas continuam a prestar atenção na mídia física? Será que streaming pode acabar afetando o setor de DVD?

Para Omarson Costa, que vê o futuro da sétima arte totalmente calcado no video on demand, os cinemas, DVDs e outras “janelas de distribuição” serão exclusivos para poucos. “Cinemas, mídia física, tudo isso vai ser como jornal impresso. Os mais velhos vão consumir, mas aos poucos vai morrendo”, diz.

Já Jotacê e Juliano Melo, da Versátil, divergem de Omarson. Juliano, antes de tudo, acredita que streaming e mídias físicas podem coexistir. “Se complementam. Há muitos casos de pessoas assistem a um filme em streaming e depois saem à procura do DVD para outros conteúdos”, resume.

Além disso, Jotacê diz que vai “ficar de olho” no mercado pós-pandemia. “Será muito triste, e até surpreendente, se os estúdios voltarem a abandonar de novo a mídia física”, afirma o dono do Blog do Jotacê, referência de notícias sobre DVDs e Blu-Rays. “A comunidade está de olho”.