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“Evitavam Bolsonaro, viam ele como um alienígena”, diz diretor de ‘O Fórum’

Na última semana, estreou em plataformas digitais o documentário ‘O Fórum’, mostrando os bastidores do Fórum Econômico Mundial de Davos. Apesar de ter quase duas horas e dezenas de figuras influentes indo e vindo em suas cenas, o longa-metragem acabou viralizando por conta de um momento: o de Jair Bolsonaro, sem jeito, falando com líderes políticos.

Ao estilo ‘The Office’, a sequência mostra Bolsonaro acuado em um canto. Quase pedindo por atenção. Enquanto isso, Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores, se preocupa em comer. De repente, Al Gore, ex-vice-presidente dos Estados Unidos, chega para conversar. Bolsonaro não entende, fala coisas desconexas. O americano sai desconcertado do papo.

Marcus Vetter, diretor de ‘O Fórum’, confirmou ao Filmelier: o momento foi constrangedor. “Os participantes evitavam Bolsonaro, viam ele como um alienígena”, disse. “Então tive permissão para filmar uma cena em que Al Gore e Jennifer Morgan, do Greenpeace, estavam se aproximando dele e foram bastante negligenciados. É o tipo de cena que encontrei”, conta.

Além de Bolsonaro

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Apesar dessa sequência ter se tornado viral no Brasil, ‘O Fórum’ vai muito além de Bolsonaro. A ideia sobre o longa-metragem surgiu há cinco anos, quando o produtor Christian Beetz conheceu Klaus Schwab, fundador do Fórum Econômico e um dos homens mais influentes do mundo. Surgiu, ali, a ideia de fazer um filme sobre a vida desse homem e seus bastidores. No entanto, conforme a produção evoluiu e Vetter foi escalado para comandar o longa-metragem, o foco acabou mudando um pouco. Ao invés de só mostrar a vida do executivo, o próprio Klaus exigiu que o filme acompanhasse os bastidores do Fórum — algo prontamente aceito pela equipe, já que nenhuma outra produção tinha recebido tal convite. “No início, eu estava cético: o que exatamente o Fórum faz, o que ‘aqueles lá em cima’ fazem atrás de portas fechadas? Há resultados concretos ou apenas muita conversa?”, conta. “Eu estava curioso para saber da visão de Klaus há 50 anos, quando tudo começou. Conheci uma pessoa muito interessante, cheia de paixão e para a sua idade parecia jovem e ágil”.
Marcus Vetter, diretor por trás de ‘O Fórum’ (Crédito: Divulgação / Marcus Vetter)
A partir daí, Vetter encontrou em Klaus uma figura apaixonada. Idealizou o Fórum Econômico de Davos como uma possibilidade de grandes líderes, sejam eles empresários ou políticos, se encontrarem para discussões sobre ética, futuro e sustentabilidade. Hoje, 50 anos depois, ele mantém esse ideal. Acredita piamente que o Fórum pode ser um espaço de mudanças. “Eu me perguntei em que ponto sua ideia falhou. Ou talvez não tenha falhado em absoluto e sejam apenas os preconceitos que nos tornam tão críticos em relação a esta controversa reunião da elite em Davos”, provoca Vetter. “Por que não sentimos nenhuma mudança no mundo? Pensei que era o tema certo no momento certo. Um filme sobre o ‘sinal dos tempos’”.

Documentário ‘O Fórum’

A partir dessa mistura de sentimentos, opiniões e ideias, nasceu o documentário. Vetter acompanhou os bastidores em duas ocasiões: 2018 e 2019. Na primeira, teve a oportunidade de acompanhar a movimentação de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos. Também começou a sentir uma forte mudança no clima geral, pendendo para a radicalização. Com isso, em 2019, atingiu o clímax do filme. “Trump, Macron e Theresa May não foram por conta de problemas internos e, ao mesmo tempo, Bolsonaro apareceu no horizonte”, conta. “Era a situação perfeita simbolizando o estado do mundo. Quando Greta Thunberg anunciou que iria, vimos o enredo perfeito para a situação que o mundo enfrentando”.
Assim, a partir daí, Vetter administrou essa situação complexa, opiniões pessoais e imagens riquíssimas. É possível ver líderes mundiais conversando, se reunindo. Cenas que não são vistas no Jornal Nacional ou em qualquer outro noticiário ao redor do mundo. Vetter filmou a História. E com isso, vem a pergunta: como ele vê a situação política do mundo? “A situação política está uma bagunça total. Bolsonaro e Trump são presidentes eleitos por pessoas que se sentem deixadas de fora. É como se dissessem: ‘vocês, da elite, estão nos desprezando, não se importam com o que estamos pensando, ficamos quietos, mas agora é revanche. Elegemos quem quisermos e criamos uma bagunça para você’”, finaliza o cineasta.
Matheus Mans

Jornalista especializado em cultura e tecnologia, com seis anos de experiência. Já passou pelo Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites, sempre falando de cinema, inovação e tecnologia. Hoje, é editor do Filmelier.

Escrito por
Matheus Mans

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