Crítica: ‘Furiosa’ traz charme visual de George Miller em roteiro caótico Crítica: ‘Furiosa’ traz charme visual de George Miller em roteiro caótico

Crítica: ‘Furiosa’ traz charme visual de George Miller em roteiro caótico

‘Furiosa’, que chega após o impecável ‘Mad Max: Estrada da Fúria’, não repete o feito do anterior

Matheus Mans   |  
21 de maio de 2024 09:32
- Atualizado em 19 de maio de 2024 20:46

É impossível não tecer comparações entre Mad Max: Estrada da Fúria e Furiosa, filme que estreia nos cinemas nesta quinta-feira, 23. Não apenas por fazer parte do mesmo universo criado por George Miller no finalzinho dos anos 1970, mas também pela qualidade técnica e artística inquestionável de Estrada da Fúria – um dos melhores filmes do século XXI.

Como não criar expectativas, enfim, de que Furiosa não tenha a mesma qualidade de surpreender, chocar e empolgar como no longa-metragem de 2015? Você, espectador que teve aquela experiência inexplicável na sala de cinema, sabe do que estou falando.

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Furiosa também se aproxima mais de Estrada da Fúria do que qualquer um dos outros três filmes de Mad Max. Afinal, o novo longa-metragem conta a história de origem da personagem-título, agora interpretada por Anya Taylor-Joy (O Gambito da Rainha, O Menu), que é sequestrada por Dementus (Chris Hemsworth), um homem com muita sede de poder.

Furiosa e a ampliação do universo

É todo o universo que já estamos acostumados, com o deserto, os carros insanos, o cenário distópico, os personagens deformados e até Immortan Joe (Lachy Hulme), mas com foco nessa personagem que tomou o protagonismo para si em Estrada da Fúria, quando então era interpretada por Charlize Theron – na melhor atuação desse outro longa-metragem.

Hemsworth é um vilão divertido, mas sem peso de ameaça em Furiosa (Crédito: Warner Bros.)
Hemsworth é um vilão divertido, mas sem peso de ameaça em Furiosa (Crédito: Warner Bros.)

O fato é que está tudo lá em cena, mas falta aquele brilho original e criativo que vimos em Estrada da Fúria. Não tem nada a ver com os efeitos especiais, que agora tomam conta, enquanto em 2015 o foco foi nos efeitos práticos. Também não tem a ver com a ausência de Max, personagem já vivido por Mel Gibson e Tom Hardy. É falta de mais George Miller.

O charme visual está presente em Furiosa, que se torna um deslumbre quando estamos sentados na poltrona do cinema acompanhando a jornada daquela personagem passando por tantas provações. Isso é inegável. Há, inclusive, uma ou duas cenas que te deixam na ponta da cadeira, enquanto um gigantesco caminhão enfrenta o caos do Deserto lá fora.

Mas o roteiro, que é o verdadeiro diamante de 2015, derrapa. O texto de Estrada da Fúria é um clímax sequencial, que nunca sossega, criando expectativas para quebrá-las logo depois – criando mais expectativas em cima disso. Você quer que Max, as esposas e Furiosa cheguem em determinado lugar. Quando “chegam”, precisam voltar para sobreviver.

Complexidade versus simplicidade

Aqui, Miller – ao lado do roteirista Nick Lathouris, parceiro do cineasta desde o primeiro Mad Max – busca criar um universo mais complexo, fugindo dessa simplicidade genial de Estrada da Fúria. Ele mostra mais regras desse universo, com direito a explicar, no minuto inicial, como aquele universo se degenerou. É um Deserto em processo de criação.

Anya Taylor-Joy mantém a força da personagem Furiosa (Crédito: Warner Bros.)
Anya Taylor-Joy mantém a força da personagem Furiosa (Crédito: Warner Bros.)

O problema é que é muita coisa para contar. A sensação que dá é que George Miller queria falar muito, mostrar muito. Como colocar, mesmo em quase 150 minutos, tantas ideias? Temos a história de Furiosa; a desconfortável jornada de Praetorian Jack (Tom Burke), que se parece uma muleta para a história de uma mulher, sendo que não era nada necessário; tem a vilania caricatural de Dementus, que diverte, mas derruba o tom de ameaça da trama.

Afinal, isso é outro importante: enquanto Estrada da Fúria trazia dois personagens principais de peso (Max e Furiosa) com um vilão já conhecido e ameaçador (Immortan Joe), aqui isso não acontece. A personagem de Taylor-Joy é a única com mais peso – o tal companheiro de Furiosa, Jack, é de um vazio de significado impressionante. É a muleta sem vida. 

Furiosa está longe, muito longe de ser ruim – nas comparações com o mundo de Mad Max, talvez valha comparar com Além da Cúpula do Trovão. Ainda assim, na inevitável e talvez injusta comparação com Estrada da Fúria, quebra um pouco do encanto e faz com que um público, que nunca mais vai esquecer a sensação na sala de cinema em 2015, sinta uma pontada de decepção com personagens menos impactantes e roteiro menos ousado.

Furiosa chega aos cinemas nesta quinta-feira, 23.

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