Como a trajetória de Gorr foi desperdiçada em ‘Thor: Amor e Trovão’ Como a trajetória de Gorr foi desperdiçada em ‘Thor: Amor e Trovão’

Como a trajetória de Gorr foi desperdiçada em ‘Thor: Amor e Trovão’

Apesar do bom desenvolvimento inicial e da atuação sob medida de Christian Bale, o vilão Gorr acaba relegado ao segundo plano e desaparece da narrativa

Matheus Mans   |  
9 de julho de 2022 17:15
- Atualizado em 12 de julho de 2022 17:04

Thor: Amor e Trovão‘ não começa como a maioria dos filmes da Marvel Studios. O longa-metragem, em cartaz nos cinemas brasileiros, deixa a tradicional vinheta do estúdio para segundo plano. Logo de cara, o longa-metragem traz uma sequência de Gorr, o vilão interpretado por Christian Bale (‘Batman: O Cavaleiro das Trevas‘), em sua origem. Ele acaba de ver a filha morrer e, quando se encontra com uma divindade que acredita ser boa, sã e poderosa, se decepciona. O deus em questão não está nem aí para filha. Aí surge o ímpeto e a possibilidade dele ser o Carniceiro dos Deuses.

Tudo é favorável para o desenvolvimento correto do vilão — uma das maiores dificuldades da Marvel, talvez apenas superada com Thanos e Killmonger. Há uma cena forte de origem, contada com cuidado para que haja identificação do público com o personagem. Afinal, ainda que o que mova Gorr seja uma sede de vingança pura e simples, como já vimos aos montes por aí, há um sentimento fortíssimo por trás. Ele não está querendo matar deuses por algo pequeno. É o desprezo pela vida da filha, é a falta de apoio nesse além em que tanto acreditamos. Gorr não teve apoio.

Nos quadrinhos da Marvel, Gorr usa menos roupa do que aparece no filme (Crédito: reprodução / Marvel Comics)

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Além disso, Bale também está bem, como sempre. Ainda que quase tenha desistido do papel por conta do traje do vilão nos quadrinhos, ele entendeu a profundidade da dor daquele personagem. Carregadíssimo de maquiagem após essa primeira sequência, mostrando as sombras que o acompanham, Gorr exala dor. O sofrimento o acompanha. Não há exatamente um sadismo ao matar cada um dos deuses que passam pelo seu caminho, mas sim um desejo inegável de chegar em um objetivo final que fica apenas no ar. Ele é um vilão palpável, compreensível e, por isso, forte.

Desperdício de Gorr

A partir daqui, alguns spoilers sensíveis serão ditos. Então, se não quiser detalhes da trama, melhor voltar para o texto após assistir ao longa, ok? Mas vamos lá.

Depois desse começo marcante, Gorr volta a aparecer com mais presença de tela no primeiro grande ataque do Carniceiro contra a Nova Asgard. Novamente, o diretor Taika Waititi comanda um espetáculo sombrio impressionante: criaturas bizarras surgindo do nada, ataques de lado, a escuridão avançando. Gorr não é o melhor lutador, mas consegue botar medo com a elegante e assustadora Necro-Espada, sua espada.

Muito bem: nesse ponto do filme, temos duas coisas bem estabelecidas em ‘Thor: Amor e Trovão’. Primeiramente, sabemos a origem de Gorr e, por mais estranho que seja isso, podemos entendê-lo. Ele passa aquele sentimento de raiva contra essa divindade invisível que não nos auxilia em momentos difíceis. Gorr mata os deuses para provar a inviabilidade e insignificância deles próprios. Depois, acompanhando essa luta de Gorr contra Thor e a Poderosa Thor (Natalie Portman), sabemos que também não será tão fácil de derrotá-lo, certo? O vilão possui energia das sombras.

Com tudo isso bem estabelecido, porém, Taika Waititi acaba jogando Gorr para segundo plano. Afinal, são muitas as histórias de ‘Thor: Amor e Trovão’: o câncer de Jane Foster, os dilemas pessoais do próprio Thor, o excesso de piadinhas que não levam pra lugar algum… Com duas horas de duração e tantas coisas pra resolver, o roteiro do filme da Marvel acaba tendo que simplificar muitas coisas. Jane precisa lembrar do poder do Mjölnir? Simples: coloque alguns livros ali. Thor precisa encontrar Gorr? Fácil também. É só criar uma conexão com o filho de Heimdall como elo.

Com isso, Gorr também acaba tendo sua jornada desacelerada, reduzida. Mesmo com potencial de ser um novo Killmonger, o personagem tem apenas mais duas cenas de batalha e uma boa cena envolvendo as crianças que ele sequestra — com Bale em seu máximo. No entanto, acaba por aí. Não há algum grande momento do personagem, não há grandes dificuldades. São brigas mornas entre ele, Thor e Poderosa Thor. Apesar de todo o desenvolvimento inicial, ele não continua seu caminho rumo ao poder que realmente poderia ter. Parece uma preocupação passageira, apenas.

A própria Jane, por exemplo, não sucumbe ao Carniceiro. É o câncer que a mata. Até mesmo Korg, o amigo de pedra do Deus do Trovão, não é ferido pelo vilão do filme, mas sim pelo boêmio Zeus. Qual o mal que esse vilão realmente causa? Qual a marca de Gorr para a franquia de Thor e para a Marvel como um todo?

No final, um vilão tão interessante e de tantas camadas se torna dispensável em um filme que fala mais sobre o amor, resolução de rixas passadas, novas gerações. Uma pena ter Bale escanteado. Gorr, sem dúvidas, poderia ser mais do que realmente foi.

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