Mercado de cinema

Governo decide tirar Cinemateca Brasileira de São Paulo

A Cinemateca Brasileira, que fica em São Paulo, está em uma situação delicada. Desde de dezembro de 2019, o espaço está sem contrato para gestão e os funcionários sem salários. Fora isso, a estrutura sofre com risco de incêndio, falta de vigilância, atrasos nas contas de água e luz. Agora, a instituição pode deixar a capital paulista.

No começo de julho, o Ministério Público Federal, em São Paulo, entrou com uma ação contra a União por abandono da Cinemateca Brasileira. O órgão está com uma dívida que passa dos R$ 13 milhões – e aumenta mais de R$ 1 milhão a cada mês.

Com o apoio da SPCine e da Câmara dos Vereadores, a Prefeitura de São Paulo, decidiu ajudar e pagar as contas para que o local pudesse voltar a funcionar. O governo federal foi contra esse auxílio, mas eles não podem impedir que município faça uma doação cultural.

Já que a arrecadação não poderia ser cessada, o presidente Jair Bolsonaro autorizou o ministro Marcelo Álvaro Antônio e o secretário de Cultura, Mário Frias, a transferir a Cinemateca Brasileira para Brasília. O senador Izalci Lucas (PSDB-DF) foi escolhido pelo governo para procurar um novo espaço para a Cinemateca.

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De acordo com a Veja, essa mudança está andamento desde semana passada e a única condição imposta por Bolsonaro é que a mudança de estado não gere mais gastos ao governo. “É um patrimônio nosso, né. Estou tentando identificar um local para poder disponibilizar ao Ministério do Turismo. Vamos encontrar uma forma de buscar patrocinadores para não pesar para o Estado. Temos o CCBB do Banco do Brasil, por exemplo, e outras opções de lugares dentro do patrimônio público da União”, disse Izalci à publicação.
Prédio da Cinemateca em São Paulo (Crédito: Raíssa Basílio)

A importância da Cinemateca

A Cinemateca Brasileira foi criada na década de 1940, sendo a quinta maior cinemateca do mundo em restauro nesta época. O órgão tem o maior acervo de imagens da América do Sul. Cerca de 250 mil rolos de filmes, 40 mil títulos, entre Super 8, curtas, longa metragens, parte desse conteúdo é compostos por nitrato de celulose – material que pode entrar em autocombustão se não for mantidos em refrigeração. Por conta disso é preocupante o risco de incêndio no local. Segundo a pesquisadora, Eloá Chouzal, o conteúdo que existe no prédio é tão importante que existem películas do Brasil em movimento de 1897, final do século XIX, de quando filme foi inventado. Para entender melhor, ela também explicou o trabalho que eles fazem, não é somente um lugar que armazena imagens: “A Cinemateca que eu falo não é um museu só, porque muita gente acha que é um museu de imagem. Não, a Cinemateca tem três pilares como missão: O primeiro é preservar, que é a guarda desse acervo. Também tem a missão de difundir, então lá tem sala de cinema, workshop, mostra, crianças de escolas da comunidade que vão pela primeira vez assistir um filme numa tela grande. E o terceiro pilar é o restauro”, contou Chouzal em entrevista ao Brasil de Fato. Para a história do cinema nacional – e internacional – a Cinemateca tem arquivos de Glauber Rocha, Jean-Claude Bernardet, sendo roteiros, cartas entre cineasta, fotos de produções. Esse acervo não existe em nenhum outro lugar no mundo. Esses conteúdos são importantes para novas criações no ramo da comunicação, pois são itens para pesquisa necessários para entender sobre cinema e também sobre transformações no país ao longo dos anos.
Raíssa Basílio

Jornalista de cultura e entretenimento. Já passou pelo Papelpop, UOL e Revista Claudia escrevendo sobre beleza, moda, cinema, música e TV, e também trabalhou com produção na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Foi redatora do Filmelier.

Escrito por
Raíssa Basílio

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