Filmes

Microcosmos de ‘Greyhound’ traz nova emoção da Segunda Guerra Mundial

A sensação frequente é de que a Segunda Guerra Mundial já se esgotou no cinema. Temos retratos sobre os bastidores de Hitler (‘A Queda!’); a jornada de almas bondosas (‘A Lista de Schindler‘, ‘O Zoológico de Varsóvia‘); e até conclusões imaginárias para o conflito (‘Bastardos Inglórios‘). Agora, o cineasta Aaron Schneider olha o microcosmos da guerra em ‘Greyhound‘.

Protagonizado e roteirizado por Tom Hanks (‘The Post: A Guerra Secreta‘), o longa-metragem conta a história de um comboio de navios dos Aliados que precisa atravessar o temido Atlântico Norte. Mas as coisas pioram e viram de cabeça para baixo quando submarinos nazistas começam a ficar no encalço. Isso, aliado ao frio extremo, fazem com que a missão vire um caos.
Hanks é a estrela do novo longa-metragem da Apple TV+ (Crédito: Divulgação/Apple)

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Hanks, que já está acostumado a viver capitães no cinema (‘O Resgate do Soldado Ryan‘, ‘Capitão Phillips‘, ‘Sully’ e ‘Apollo 13’), entra no papel como uma luva. Afinal, a sensação de caos ao seu redor é desesperadora. Ele, assim como o espectador, não consegue piscar. O mundo parece estar desabando. Nada ajuda pelo sucesso de sua missão. Nem parece ficção.

Por trás de ‘Greyhound’

Mas é ficção. Ainda que o apuro técnico do diretor Aaron Schneider (‘Dois Soldados’, ‘Segredos de um Funeral’) crie a sensação de que tudo ali foi verídico, o longa-metragem é inspirado no livro ‘The Good Shepherd’ (‘O Bom Pastor’, em tradução literal). É um romance histórico de 1955, escrito por CS Forester. É um relato ficcional potente sobre os rumos da guerra. Afinal, ainda que ‘Greyhound’ — e ‘The Good Shepherd’, por consequência — falem sobre um cenário bem particular, focado principalmente na jornada do tal Capitão Ernest Krause, a produção diz muito sobre os horrores da guerra, a exigência máxima de seus soldados, a necessidade da constante vigilância e, até mesmo, a precaridade que soldados tiveram que enfrentar.
Representação do Capitão Kreuse na capa de ‘The Good Shepherd’ (Crédito: Divulgação/Little, Brown and Co.)
Hanks já disse que o que lhe chamou a atenção para a produção foi o rosto do capitão em uma das capas de ‘The Good Shepherd’. “[A ilustração] retrata um homem mais velho, de cabelo grisalho esvoaçante, e, atrás dele, um navio está afundando e pegando fogo. Isso capturou em um sentido visual o que seria a narrativa da história”, contou Hanks ao site Hugo Gloss. A partir disso, ele começou a encarar a narrativa de outra maneira. E mergulhou de vez na possibilidade de adaptação do longa-metragem. Assim, ‘Greyhound’ passou a fazer parte de uma seleta lista de filmes que foram roteirizados pelo próprio Hanks — além desta obra da Segunda Guerra Mundial, há ‘Larry Crowne’ e ‘The Wonders: O Sonho Não Acabou’.

Visual de ‘Greyhound’

Uma coisa interessante a se notar em ‘Greyhound: Na Mira do Inimigo’ é que, apesar dos nazistas serem os vilões naturais da trama, há algo ainda maior ameaçando a jornada do Capitão Ernest Kreuse: o clima hostil. As ondas ficam cada vez maiores, o frio é intenso, o perigo está por todo lado. Tudo isso, ainda por cima, respeitando características particulares da época do conflito. Ao The Indian Express, Hanks disse que o filme é “quase uma animação”. Afinal, todo o longa-metragem teve apenas três cenários: um saguão de hotel onde eles filmaram uma única cena; um palco na Louisiana; e o USS Kidd, o tradicional navio da Segunda Guerra Mundial “que geralmente fica no fundo do rio Mississippi”. Todo caos ao redor veio de efeitos especiais.
O cenário do Atlântico Norte, por exemplo, foi filmado separadamente. Depois, a equipe de efeitos especiais adicionou o mar revolto e adicionou ao que foi filmado com atores. Os navios do comboio, enquanto isso, foram criados digitalmente a partir de fotos do período. Também, é claro, foram acrescentados posteriormente no que foi filmado com Tom Hanks nas telas.

Reações de Hanks

Talvez por conta de todo esse trabalho visual que o astro tenha ficado insatisfeito com o lançamento do longa-metragem direto em streaming. Afinal, anteriormente, ‘Greyhound’ estava previsto para chegar aos cinemas pela Sony. No entanto, por conta da pandemia, o estúdio vendeu os direitos de exibição para a Apple TV+ por US$ 70 milhões. Hanks reclamou. “Um desgosto absoluto”, disse o ator ao jornal britânico The Guardian sobre o lançamento direto em streaming. “Não quero irritar os senhores da Apple, mas há uma diferença na qualidade de som e imagem”. Ele ainda reclamou sobre ordens dadas para entrevistas — a Apple pediu para ele usar uma parede branca de fundo, evitando mostrar detalhes de sua casa ao mundo. Mas, Hanks feliz ou não, ‘Greyhound: Na Mira do Inimigo’ já está no ar, disponível para todos assinantes de Apple TV+. Só dar play e se emocionar.
Matheus Mans

Jornalista especializado em cultura e tecnologia, com seis anos de experiência. Já passou pelo Estadão, UOL, Yahoo e grandes sites, sempre falando de cinema, inovação e tecnologia. Hoje, é editor do Filmelier.

Escrito por
Matheus Mans

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