Como Jeff Goldblum mostra que ‘Jurassic World’ errou o tempo todo Como Jeff Goldblum mostra que ‘Jurassic World’ errou o tempo todo

Como Jeff Goldblum mostra que ‘Jurassic World’ errou o tempo todo

Ator de Ian Malcolm, Goldblum volta à franquia com leveza e diversão, mostrando qual era o caminho mais acertado para o mundo dos dinossauros

Matheus Mans   |  
3 de junho de 2022 11:27
- Atualizado em 6 de junho de 2022 10:09

Em determinada cena de ‘Jurassic World: Domínio’, filme que chegou aos cinemas na última quinta-feira, 2, Owen Grady (Chris Pratt) anuncia que vai atrás de um filhote de Velociraptor por conta de uma promessa que fez para a mãe do dinossauro. De bate-pronto, Jeff Goldblum (que interpreta o adorável Ian Malcolm) questiona o absurdo daquela situação: sério que ele fez uma promessa para um dinossauro? Pior: é sério que Owen vai cumprir essa promessa?

Ian Malcolm, personagem que se confunde com o próprio Jeff Goldblum (‘A Mosca‘), é a prova cabal de como a franquia ‘Jurassic World’ errou o tempo todo. Afinal, na história da equipe que precisa lidar com dinossauros que estão espalhados pelo mundo, sobra sobriedade. Apesar do trabalho que faz em ‘Guardiões da Galáxia‘, Pratt não consegue fazer graça na saga dos dinossauros. Bryce Dallas Howard, enquanto isso, é mergulhada em chavões e banalidades.

Goldblum como Ian Malcolm em ‘Jurassic World: Domínio’ (Crédito: Divulgação/Universal Pictures)

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Neste novo filme, porém, o diretor e corroteirista Colin Trevorrow (do primeiro ‘Jurassic World‘) conta com um trio especial de personagens, que colocam um tempero a mais na história: Alan Grant (Sam Neill), Ellie Sattler (Laura Dern) e Ian Malcolm (Goldblum). É a primeira vez, em quase 30 anos, que o trio de protagonistas se reúne, permitindo novas possibilidades. Neill e Dern estão mais engessados. Goldblum, enquanto isso, é o sopro de deboche necessário.

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Dinossauros híbridos, clones, gafanhotos gigantes… São várias as premissas da franquia que extrapolam o senso do ridículo, mas que sempre foram tratadas como mensagens potentes sobre sustentabilidade, ecologia e afins. ‘Jurassic Park‘, de 1993, já tratava disso tudo, mas tinha a aventura como o fio condutor mais do que necessário para fazer com que a mensagem atravesse diferentes públicos. Da maneira que ficou, ‘Jurassic World’ se tornou chato, engessado.

Goldblum, aos 45 do segundo tempo, mostra que Trevorrow e os produtores da Universal Pictures estavam errados o tempo todo. Seriedade não funciona com esse mundo de dinossauros amestrados e de genética híbrida. É preciso olhar para essa história com os olhos de Malcolm: desacreditando de tudo, vendo a vida de maneira bem mais colorida e com a aventura correndo pelas veias. Se não for assim, o mundo dos dinossauros perde graça — e sentido.

Jeff Goldblum vs Jurassic World

Vale notar que Goldblum e a franquia ‘Jurassic’ traçaram caminhos bem distintos desde que se separaram nos anos 1990. De um lado, catapultado pelo sucesso absoluto de Ian Malcolm, consolidou-se como uma espécie de “símbolo sexual” quase sem querer. Depois de protagonizar o tenso e nojento ‘A Mosca’, abraçou de vez o seu lado “good vibes”, com uma pegada excêntrica. ‘A Vida Marinha com Steve Zissou’ e ‘O Grande Hotel Budapeste‘ reforçaram.

No imaginário popular, Goldblum cravou de vez essa persona de bem com a vida ainda com seu papel como Grandmaster em ‘Thor: Ragnarok‘ e, é claro, com a série documental do Disney+, ‘O Mundo Segundo Jeff Goldblum’.

A franquia ‘Jurassic’, enquanto isso, se separou de Goldblum logo após o segundo filme e, desde então, entrou em um período de turbulência — principalmente com um terceiro filme de ‘Jurassic Park’ absolutamente discutível. Depois, com ‘Jurassic World’, a Universal Pictures e Trevorrow tentaram amplificar tudo que Spielberg tinha construído lá atrás. Os dinossauros ficaram mais potentes, a tensão ainda mais eminente. Era como um amadurecimento desnecessário.

Goldblum, então, reencontra ‘Jurassic’ como se fossem estranhos. Ele está ainda mais excêntrico, leve e divertido, enquanto ‘Jurassic World’ está mais sisuda. Quando há o embate desses dois universos, só um sai ganhando.

Em ‘Domínio’, Jeff Goldblum é o acerto

Durante a sessão de imprensa de ‘Jurassic World: Domínio’, Jeff Goldblum parecia ser unanimidade. Na maioria de suas aparições, risos ecoaram pela sala e, em determinado momento em que o personagem recria uma clássica cena de ‘Jurassic Park’, deu para ouvir até mesmo um suspiro. Em nenhum outro momento isso se repetiu. Nem mesmo quando Laura Dern tem um momento inesperado com Sam Neill ou quando Chris Pratt surge como o herói do dia.

Goldblum não é necessariamente mais querido do Dern, Neill, Pratt ou Dallas Howard — ainda mais em uma sessão para a imprensa, com pessoas tão diferentes e plurais. Nem coloco minha mão no fogo de que todos ali conhecem o astro para além de ‘Jurassic Park’. No entanto, nesse embate, nessa mistura de água e óleo, Goldblum sai por cima. Ele, com o bom humor, sarcasmo e maneira diferente de ver a vida, quebra a sisudez de uma franquia que se leva a sério.

Trevorrow errou. Bayona, diretor do segundo (e pior) filme de ‘Jurassic World’, errou. A Universal Pictures errou. Assim como Steven Spielberg fez lá em 1993, a diversão deveria ser o principal mandamento de uma história de dinossauros retornando à vida. Mensagens mais sérias e ação desenfreada fica em segundo plano. Goldblum, claro, não precisava ser protagonista da história. Mas, sem dúvidas, os produtores poderiam ter enxergado o mundo sob seus olhos.

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